Apesar das novas variantes, a letalidade da pandemia vem caindo (Bruna Prado/Getty Images)
Bússola
Publicado em 2 de agosto de 2021 às 14h30.
Por Marcelo Tokarski*
À medida que os números da pandemia melhoram — chegamos neste fim de semana a uma média móvel abaixo das mil mortes diárias pela primeira vez em mais de seis meses — e a vacinação enfim ganha velocidade, a população brasileira vai ficando menos insegura em relação ao coronavírus.
Em abril, 89% dos brasileiros diziam que a pandemia era grave ou muito grave. Esse percentual caiu agora para 72%. A fatia da população que tem medo grande do coronavírus também encolheu de 56% para 47%. Já o percentual de pessoas que apostam na contínua redução de casos e mortes aumentou de 41% em abril para 70% agora. Os dados são de pesquisa do Instituto FSB, feita para a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Foram entrevistados, por telefone, 2.000 brasileiros com idade superior a 16 anos.
A mudança no humor se explica em grande parte pelo avanço da vacinação. Em abril, 84% dos entrevistados ainda não haviam recebido sequer a primeira dose da vacina. Agora, são apenas 37%. O percentual das pessoas completamente imunizadas (com duas doses ou dose única) praticamente quadruplicou, subindo de 6% para 23% dos entrevistados.
Com mais vacina no braço e a pandemia entrando em um novo estágio, mais gente também se diz disposta a voltar a frequentar estabelecimentos comerciais. Na comparação com abril, o medo grande de frequentar esses locais diminuiu significativamente. O maior recuo se deu no medo de ir a shoppings. Em abril, 39% diziam ter muito medo de frequentar os centros comerciais, percentual que caiu agora para 24%. Também recuou o receio de frequentar bares e restaurantes (de 45% para 34%), comércio de rua (de 36% para 28%), academias (de 37% para 25%) e supermercados (de 26% para 17%).
Números em queda
A melhora no humor da população está diretamente ligada à queda no número de casos e mortes por covid-19. Neste domingo, o Brasil registrou uma média móvel de 987 mortes/dia. Na comparação com duas semanas atrás, a queda é expressiva, de 21% — em 18 de julho, a média estava em 1.247. Até chegar a 989 mortes/dia no sábado, a média móvel não ficava abaixo de 1.000/dia desde 20 de janeiro.
A média de novos casos registrados por dia também segue em forte queda. Hoje, a média móvel está em 35.671 casos/dia, menor patamar desde 6 de janeiro. Com casos em queda, a tendência é que a quantidade de novos contaminados e de mortes também siga em tendência de redução. A última semana foi a que registrou menos mortes em 28 semanas. Já em relação aos casos, essa foi a semana com menos registros desde a última do mês de novembro do ano passado.
Esse quadro tem mantido estável, e em bons padrões, a ocupação de leitos de UTI. Hoje, de acordo com dados da Fiocruz, apenas Goiás e o Distrito Federal estão com a ocupação em estado crítico, ou seja, acima de 79% (80% em Goiás e 83% no DF). Em nove estados (Pará, Roraima, Maranhão, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) têm ocupação média, entre 60% e 80%. Os demais 16 estados estão com taxa baixa de ocupação, ou seja, inferior a 60%.
O cenário atual traz boas perspectivas. Apesar das novas variantes, a letalidade da pandemia vem caindo. Mesmo quando o número de casos cresce, o de mortes não acompanha, porque uma parcela cada vez maior da população (hoje são 67% da população) já recebeu pelo menos a primeira dose de alguma vacina, o que traz imunidade parcial. Mesmo se contaminada, boa parte das pessoas têm menos sintomas e menos complicações.
Mas essa melhora nos indicadores e no humor da população não devem – e não podem — fazer com que o país acredite que o fim da pandemia já chegou. O atual patamar de mortes ainda é semelhante ao registrado durante os três meses de duração da primeira onda, no ano passado. O Brasil ainda é o segundo país com o maior número absoluto de mortes por semana, atrás apenas da Indonésia.
Para que os números (e o humor da população) sigam melhorando, é preciso manter os cuidados, usar máscara, praticar distanciamento social e evitar locais fechados com muita gente. E, claro, se vacinar. Só com essas variáveis a equação da pandemia tem alguma chance de ser solucionada.
*Marcelo Tokarski é sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa e da FSB Inteligência
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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