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Brasil tem fase menos letal em 2 meses. Mas a pandemia está sob controle?

Casos em alta e vacinação mais lenta mostram que o país está em uma encruzilhada

O ritmo de aplicação de doses das vacinas contra o coronavírus diminuiu muito (Alexandre Schneider/Getty Images)

O ritmo de aplicação de doses das vacinas contra o coronavírus diminuiu muito (Alexandre Schneider/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 17 de maio de 2021 às 13h01.

Última atualização em 17 de maio de 2021 às 13h22.

Por Marcelo Tokarski*

As estatísticas de casos, mortes e vacinação mostram que o Brasil está hoje em uma encruzilhada do ponto de vista da pandemia de covid-19. Enquanto o número de mortes cai em grande velocidade, o de casos voltou a subir, e a vacinação vem perdendo ritmo. Tudo isso torna um desafio prever o comportamento do vírus daqui para a frente no país.

A semana terminada no último domingo teve o registro de 13.441 mortes por covid-19 nas 27 unidades da Federação. Foi o período com o menor número de óbitos em nove semanas (os sete dias terminados no domingo 14 de março registraram 12.818 mortes).

A média móvel de mortes por dia está hoje em 1.916, uma queda de 20% na comparação com as 2.406 mortes diárias registradas há duas semanas. Desde 12 de abril, quando a média atingiu seu pior patamar (3.124 mortes diárias), a redução chega a 39%.

Por outro lado, o diagnóstico de novos casos vem crescendo nos últimos dias. A média móvel atingiu neste domingo 63.241 novos casos registrados a cada 24 horas, um crescimento de 7% em duas semanas. Desde que voltou a registrar crescimento, há 20 dias, a média de novos casos já aumentou 12%.

Até o início deste ano, podíamos afirmar que, quando a média móvel de casos crescia, a de mortes iria aumentar em um período após duas ou três semanas, devido ao tempo médio que o vírus leva para manifestar sintomas, incluindo complicações, após a contaminação. Mas essa correlação hoje provavelmente não é a mesma. Isso porque a vacina, mesmo quando não evita o contágio, faz com que a pessoa que já recebeu pelo menos uma dose tenha, se for infectada, sintomas leves ou mesmo nenhum sintoma.

Hoje, praticamente dois em cada dez brasileiros já receberam pelo menos a primeira dose e, em tese, estão nesse grupo de pessoas que, expostas ao vírus, até podem ficar doentes, mas que correrão menos riscos de desenvolver formas mais agressivas da doença. São pessoas com mais de 60 anos, portadoras de comorbidades e profissionais de saúde, entre outros. Justamente o público no qual o coronavírus vinha fazendo mais vítimas.

Vacinação mais lenta

O problema é que o ritmo de aplicação de doses das vacinas contra o coronavírus vem diminuindo em ritmo forte. É sabido que a campanha de imunização demorou a ganhar tração no Brasil, mas até o final de abril a curva era de crescimento acelerado na média móvel de doses aplicadas por dia.

Para ter uma ideia, no início de março, a média móvel era de 231.400 doses aplicadas diariamente. Em um mês, até 1º de abril, o indicador mais que triplicou, chegando a 707.500 doses diárias. O ápice no ritmo da vacinação foi atingido em 28 de abril, quando a média móvel de doses estava em 1,092 milhão.

Mas nos últimos 18 dias, com a falta de insumos para a fabricação de novas doses da Coronavac, o imunizante mais aplicado em todo o país, a vacinação perdeu muita velocidade. Ontem, a média móvel estava em 686.900, o que representa uma desaceleração de 37% na comparação com o dia 28 de abril. Até este domingo, 18,4% dos brasileiros já receberam pelo menos uma dose da vacina, mas somente metade desses, ou 9,1% da população, está imunizada com as duas doses.

Seguimos atrasados na corrida pela imunidade. Nos Estados Unidos e no Reino Unido, onde parte significativa da população já recebeu as duas doses da vacina, a vida começa a retomar alguma normalidade. Nos Estados Unidos, em meio a uma certa polêmica, as autoridades liberaram os já vacinados de usarem máscara ao ar livre. No Reino Unido, o governo decretou a reabertura do comércio e até mesmo a liberação do abraço.

Por aqui, o cenário é bem diferente. Apesar de o comércio estar funcionando na maior parte do país, ainda há diversas restrições de horário de funcionamento em alguns locais, além de proibições para shows, teatros e cinemas, entre outros. Mesmo com a recente melhora no número de óbitos, ainda temos quase duas vezes mais mortes diárias do que tínhamos na primeira onda da pandemia, entre o final de maio e o final de agosto do ano passado, o que deixa boa parte da população com medo da doença.

As próximas duas semanas serão cruciais para entendermos se a aceleração do contágio vai resultar ou não em crescimento no número de mortes por covid-19. Enquanto a vacinação não deslancha, essa é a equação que precisa ser acompanhada de perto.

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