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Brasil poderia faturar 3 vezes mais exportando software que com soja

O cientista Silvio Meira compara Brasil e Índia no desenvolvimento de capital humano para programação e afirma que o país investe errado em educação

Colheita de soja: aumento de importação da China em relação também ao ano passado (Alexis Prappas/Exame)

Colheita de soja: aumento de importação da China em relação também ao ano passado (Alexis Prappas/Exame)

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Da Redação

Publicado em 24 de abril de 2021 às 10h30.

A receita total em exportações do complexo de soja brasileiro em 2021 deve chegar a mais de US$ 43 bilhões, de acordo com a Datagro. E se o Brasil fosse capaz de gerar três vezes mais receita exportando software? Segundo Silvio Meira, cientista-chefe da TDS Company e membro dos conselhos de administração de grupos como Magalu e MRV, o país poderia estar à frente de economias como Índia, que exportou mais de US$ 128 bilhões em código para programas de computador entre 2019 e 2020.

O especialista diz que, para isso, o Brasil precisaria ter uma estratégia para investimento em políticas públicas de educação e qualificação de capital humano para a produção digital. “Se a gente soubesse como programar em escala, que significa basicamente sentar em frente a uma tela de computador e escrever um texto muito parecido com o inglês estruturado, conseguiria estar hoje no mercado global exportando dezenas de bilhões de dólares em objetos digitais. Se você consegue treinar uma pessoa pra tirar 600 na redação do ENEM, você consegue treiná-la pra escrever programas de computador. É tão simples quanto isso”, afirma.

Uma pesquisa da GeekHunter, especializada em recrutamento de profissionais de TICs, aponta um aumento de 310% nas vagas de tecnologia em 2020. Dados do Banco Mundial mostram que serão criadas cerca de 420 mil novas vagas na área até 2024, enquanto números do MEC indicam apenas 46 mil formados por ano, em média, o que resulta em um déficit anual de quase 60 mil pessoas qualificadas. Isso tudo enquanto, pelas projeções do FMI,  a taxa de desemprego no Brasil deve chegar a 14,5% neste ano, somando quase 15 milhões de desempregados. Sobra capital humano em alguns setores e falta em outros.

“A gente investiu errado em capital humano. Estamos em um dos únicos países do mundo em que, se a pessoa termina o ensino médio, ela não está preparada pra absolutamente nada, salvo a pequeníssima porcentagem que teve a possibilidade de cursar uma escola técnica. Estamos precisando de gente que saiba falar inglês, escrever código e analisar dados, programar robô e carro autônomo. As pessoas estão estudando por conta própria, estão se formando sozinhas, porque não foram dirigidas e não estão sendo habilitadas pra esse processo”, diz o especialista.

O Porto Digital, maior parque tecnológico do país, localizado no centro de Recife (PE), é um exemplo bem-sucedido de implementação de política que incentiva não só a formação de talentos em carreiras digitais, mas de empreendedorismo e atração de investidores. Em 2020, o projeto que conta com 349 empresas apresentou faturamento de R$ 2,86 bilhões, representando um crescimento de 21,7% em relação ao ano anterior e de mais de 50% em relação a 2018.

“O que fizemos em 20 anos do Porto Digital? Tiramos computação de um lugar – universidades e pequenas empresas – e colocamos em outro patamar de relevância de teorias aplicadas na prática, grandes e inovadoras empresas nacionais e internacionais. Desenvolvemos um conjunto de carreiras, e Recife tem, hoje, a maior quantidade de alunos de computação por 100 mil habitantes no Brasil. Demos uma demonstração clara de que é possível fazer”, afirma Meira.

*Bia Magalhães é coordenadora de Comunicação na FSB Comunicação

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