O momento é de oportunidade (Patricia Monteiro/Bloomberg via/Getty Images)
Bússola
Publicado em 12 de maio de 2022 às 16h33.
Por João Kepler
Nos últimos meses tenho batido na tecla que estamos vivendo o melhor momento para investir em startups. E ao longo deste artigo você vai entender o porquê desta afirmação, bem como todo este caminho pautado por grandes expectativas e investimentos consideráveis se consolidou em tempos crise e instabilidade econômica.
Enquanto os unicórnios e as grandes empresas de tecnologia se desesperam para equilibrar o caixa, quem entende de venture capital avisa: o momento é de oportunidade. Diferentemente das grandes startups, que já contam com estruturas inchadas, grandes números de clientes e custos fixos mais altos, as startups em estágio inicial estão unicamente posicionadas para desenvolver um negócio sustentável desde o princípio.
Para os investidores, o momento do mercado significa valuations menores e boas oportunidades de comprar participação com valores mais atraentes. A lógica é simples: se o mercado está pagando menos nas rodadas maiores e o capital está escasso, então os investimentos começam a ser feitos com bases de valuation inferiores — muitas vezes o valor de mercado é definido pela possibilidade de, em uma rodada futura ou aquisição, aquele pedaço da empresa ter valorizado significativamente, com grandes múltiplos de valorização.
Personagens como Jorge Paulo Lemann e o venture capitalist Marcelo Claure, responsável pela chegada do Softbank no mercado brasileiro, também têm enfatizado as oportunidades deste momento. Ao mesmo tempo que a orientação é para as startups se adaptarem aos novos tempos, Lemann e Claure buscam novas oportunidades de investimento. Ambos enxergam que o mundo está passando por uma revolução tecnológica, o que resulta em excelentes oportunidades.
É claro que é preciso ainda entender a outra ponta que se relaciona com os investimentos na B3 para compreender o bom momento com as startups. Enquanto nos quatro primeiros meses de 2022 o total aportado chegou a US$ 2,3 bilhões em startups, o Ibovespa, principal índice de ações da bolsa de valores de São Paulo, a B3, fechou em nova queda esta semana e perdeu os ganhos acumulados em 2022. O clima no pregão seguiu o pessimismo da semana passada e de mercados internacionais.
O índice terminou o dia com recuo de 1,79%, a 103.250 pontos. É a pior pontuação desde o dia 10 de janeiro (101.945 pontos). O que começa a ganhar corpo na lista de preocupações de investidores é o risco de recessão. Na zona do euro, a confiança dos investidores caiu em maio pelo 3º mês seguido, para seu nível mais baixo desde junho de 2020, à medida que o impacto da guerra na Ucrânia sobre a maior economia da Europa se torna cada vez mais claro.
Por aqui, permanecem as preocupações com a inflação persistente, eleição e com o impacto da alta dos juros na atividade econômica.
Olha o tamanho da discrepância. As startups do Brasil obtiveram US$ 436,8 milhões em investimentos no mês de abril, segundo um levantamento da plataforma Distrito e do Bexs Banco. O valor superou o de abril de 2021, quando foram aportados US$ 416,3 milhões. Segundo o levantamento, o valor foi gerado a partir de 50 rodadas de investimentos. No acumulado de 2022, o volume investido é de US$ 2,3 bilhões, com 238 negociações, uma queda em relação ao primeiro quadrimestre de 2021, com US$ 2,4 bilhões e 273 rodadas.
Por que a Bolsa está derretendo e as startups estão em alta?
Para entender o racional por trás dos números apresentados e principalmente o porquê os grandes investidores estão movendo seus investimentos de empresas listadas para as novatas startups, é preciso compreender as diferenças e vantagens de ambos os investimentos.
Antes de mais nada startups são empresas em estágio anterior ao IPO, oferta pública de ações.
Apesar de ambos serem investimentos em negócios, são classe de ativos diferentes. Entre as principais razões para colocar seu dinheiro em startups está o fato de que o retorno do investimento e a possibilidade de múltiplo são muito maiores, apesar de serem investimentos ilíquidos e de longo prazo. Entram nessa lista também o incentivo à nova economia na ponta através das pequenas empresas, além da resiliência dos empreendedores e possibilidade de pivotar seus negócios muito mais rápido que uma grande corporação em tempos de crise.
Particularmente, quem me acompanha sabe que eu prefiro investir em ativos que dependem unicamente do esforço produtivo para crescer e não do especulativo ou volatilidade baseado em fatores externos. Por quê? Porque eu gosto de investir em gente e não somente nos negócios. Em minha opinião, ganhar dinheiro com capital produtivo é muito melhor (e mais seguro também). Pra mim, ganhar dinheiro com capital produtivo é o segredo para quem já compreendeu o jogo do equity.
Logo, a diferença entre investir em startups e renda variável (ações) está relacionada ao fato de que investir em startups é investir em equity, em empresas de capital fechado, que não depende de oscilações, volatilidade e especulações. Depende unicamente do crescimento do negócio e seus próprios resultados.
Investir em ações, apesar de também ser investir em negócios, são empresas listadas, de capital aberto que tornaram públicas. Além do esforço produtivo, de bons resultados e balanços das empresas, esse investimento está totalmente exposto e sujeito a especulações, oscilações e volatilidade. Podemos ver boas empresas hoje na Bolsa valendo menos do que tem em caixa. OK. está barato e é uma oportunidade de comprar, SIM, pode até ser, mas, mesmo assim, continua dependendo e muito de fatores externos.
Como eu mostro no meu último livro “O Poder do Equity”, nada é mais rentável que investir em negócios. Por isso, deixa eu afirmar uma coisa para quem ainda pensa em obter riqueza investindo somente em ações: para ter riqueza mesmo você precisa trabalhar, produzir, empreender e investir em empreendimentos. São poucos aqueles que fizeram fortuna, apenas poupando e investindo em ações. Até os maiores especialistas em finanças investem também em equity.
E quais são as diferenças entre investir em startups e renda fixa?
Como já disse, investir em startups é investir em capital produtivo, seu dinheiro aportado em gente, para gerar renda, trabalho, impostos e desenvolvimento econômico, porém sem nenhuma garantia ou liquidez. Já investir em Renda Fixa, no Tesouro Direto, por exemplo, é seu dinheiro comprando um título do governo para financiar as dívidas públicas. No caso do título CDB, é emitido por bancos para captar recursos, com garantias e com seu dinheiro rendendo taxas fixas. Na prática, é seu dinheiro parado e improdutivo, sem esforço, como se você emprestasse com garantias para o Governo ou para o banco.
Entendeu?
*João Kepler é CEO da Bossa Nova Investimentos
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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