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Bola de cristal brasileira continua quebrada, mas surgem primeiros vultos

Profusão de nomes ainda permite que surjam outras possibilidades a ameaçar a estabilidade do quadro atual, mas pouco deve mudar neste cenário

Tentar furar bloqueio de polos opostos pelo centro será a tarefa do grande pelotão da classe média da política nacional. (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Tentar furar bloqueio de polos opostos pelo centro será a tarefa do grande pelotão da classe média da política nacional. (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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Publicado em 9 de dezembro de 2021 às 16h35.

Por Márcio de Freitas*

A bola de cristal brasileira continua quebrada, mas cada vez mais personagens vão aparecendo na imagem central da eleição de 2022. Alguns parecem vultos fantasmagóricos, que podem desvanecer e sumir com o tempo. Hoje criam uma aglomeração de possibilidades com pouco risco de que a maioria contagie o eleitor. Quem será o vencedor? Só quando a bola de cristal voltar a funcionar, talvez em fins de outubro do próximo ano.

Há na corrida antecipada os já pré-lançados: Simone Tebet (MDB), Alessandro  Vieira (Cidadania), Rodrigo Pacheco (PSD), Sérgio Moro (Podemos), Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Os dois últimos ocupam os polos da esquerda e da direita. Os outros vão pelo meio, tentando comer pelo centro para inviabilizar as beiradas.

A profusão de nomes ainda permite surgir outras possibilidades a ameaçar a estabilidade do quadro atual, mas pouco deve mudar neste cenário de bastante oferta de perfis. Até agora, entretanto, o eleitor tem demandado com mais vigor os polos. São dois nomes com cheiro de povo, tanto Lula quanto Bolsonaro. Com distinções evidentes e gritantes. Mas ambos se comunicam de forma direta. E são bons nesse quesito.

Lula talvez seja o mais bem sucedido comunicador da política brasileira atual. Em sua carreira, superou nomes com enorme carisma, como Leonel Brizola. E bate de longe em Ciro Gomes, que também tem seus atributos de oratória, mas que descamba para agressões a adversários e rasteiras em si próprio com grande fluência.

São personalidades fortes, com capacidade de influenciar e seduzir, garantir empatia em grupos sociais numerosos e, com essa identificação, conseguir persuadir grandes fatias populares a votar em seus nomes. Mas poucos conseguem a penetração de Bolsonaro em certos grupos, como os setores da segurança pública. Em 2018, mobilizou esse segmento de forma expressiva. Trouxe seu histórico de capitão do Exército como alavanca para angariar apoios e conseguir realizar mobilizações em todos estados da federação. Notadamente fazia eventos nos aeroportos, onde sua imagem começou a voar no imaginário conservador nacional. E conseguiu adesão de evangélicos e de parte do agronegócio. Com isso, decolou. Contudo, foi a facada que o levou ao espaço presidencial.

Lula fala às classes mais baixas com desenvoltura inigualável. Sua história de retirante, operário, liderança sindical que chegou a presidente da República cria um exemplo que desperta identificação e respeito dos mais pobres. Seu testemunho sobre a fome é poderoso. E será usado com força na próxima disputa, onde o desemprego, a carestia e a falta de perspectivas estarão na ordem do dia.

Os outros personagens também possuem características fortes e marcantes. Mas até onde se expandem no espectro social para marcar seus pontos de identificação básica? Há falta dessa imagem reflexo, de quem olha e se enxerga no outro. Mesmo que haja falha no entendimento do discurso, lapso ou falta de compreensão provocada pela comunicação muito elaborada (Jânio Quadros foi um mestre disso), quando há identificação, os votos crescem. Esse é o grande desafio que começará a permear a trajetória de alguns nomes que pretendem disputar a eleição presidencial de 2022.

Todos parecem muito de classe média. São instruídos e bem formados. Tem boa situação financeira, alguns muito boa fortuna. Oferecer soluções para os pobres não depende de ser pobre, mas depende de convencer o pobre de que o candidato entende o problema e vai resolvê-lo. Quem tem prática em sofrer, agrega um pouco mais. E o Brasil de 2022 vive um drama, com milhões regredindo na condição social. O baixo crescimento dos últimos anos não permite sequer pensar em grandes voos e saltos para o futuro. Está limitado a pensar em como retirar pessoas das ruas lotadas de gente sem teto, oferecer comida e uma atividade remunerada básica, mesmo informal.

Neste ponto, Lula tem sua histórias, seu governo passado. E Bolsonaro tem os cofres públicos para tentar oferecer algo que amenize o sofrimento de milhões. Tentar furar esse bloqueio pelo centro será a tarefa do grande pelotão da classe média da política nacional.

*Márcio de Freitas é analista político da FSB Comunicação

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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