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Bia Félix: por que a geração Z está obcecada com o passado?

Jovens adultos colecionam memória de um tempo sem grandes preocupações e, do outro lado, apoiam-se no ideal de vida adulta que cresceram assistindo

O desejo de reviver os tempos passados surge como forma de escapismo ao mundo real (izusek/Getty Images)

O desejo de reviver os tempos passados surge como forma de escapismo ao mundo real (izusek/Getty Images)

Bia Félix
Bia Félix

Influenciadora e Colunista Bússola

Publicado em 23 de maio de 2024 às 10h00.

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A geração Z está obcecada pela nostalgia. Desde comprar em brechós, adquirir CDs para apoiar seus artistas favoritos, tirar fotos com câmeras analógicas, trazer de volta a moda dos anos 2000 (marcada pelas peças básicas) até viralizar trends no TikTok, como uma recente em que os usuários pedem para ver como seus pais dançariam nos anos 80:

@yungkimlet

she absolutely ate this up, what i wouldnt give for a time machine #fyp #dancing #80s #dancechallenge

♬ Smalltown Boy - Bronski Beat

 

Existe um termo para tal fenômeno, cunhado em 2012, pelo neologista John Koeing, no projeto "The Dictionary of Obscure Sorrows": anemoia, o desejo nostálgico de voltar a um tempo passado, mesmo que nunca tenhamos vivido naquela época específica.

Para a geração Z – nascidos entre 1997 até 2010 –  a nostalgia dos tempos vividos no passado é a infância. Os jovens adultos colecionam memória de um tempo sem grandes preocupações e, do outro lado, apoiam-se no ideal de vida adulta que cresceram assistindo, ou que descobriram recentemente. Foi assim com a recente chegada de Sex and The City ao catálogo da Netflix, que inspirou os mais novos da gen Z a assistir, discutir e admirar as vidas de 4 mulheres bem sucedidas em Nova Iorque, no blockbuster dos anos 2000.

O desejo de reviver os tempos passados surge como forma de escapismo ao mundo real, de encontrar certeza em tempos difíceis. Na nostalgia existe um desfecho, não há espaço para o imprevisível. Diferentemente do futuro, que é incerto e causa medo. Isso é verdade especialmente para essa geração de jovens – que cultiva uma visão pessimista do mundo. Pense que, depois de uma sucessão de eventos como formatura na pandemia, viver uma epidemia da solidão e uma economia instável, a solução é a busca de um mundo idílico, onde tudo parece mais real e simples, fora da "vida perfeita" da internet -- por mais que ela seja a razão para o passado ainda poder ser experienciado e reavivado nos dias de hoje. No entanto, a ideia de que no passado as coisas eram melhores nada mais é do que uma idealização. Ainda mais para quem sequer estava vivo para fazer tal afirmação tão categórica.  

Um ponto sobre isso é interessante: o pessimismo em reconhecer que as coisas vão mal traz a necessidade de procurar um cenário melhor, de melhorá-las. No entanto, para isso, é preciso olhar para frente, mesmo que o futuro seja incerto e muitas coisas deem errado. Toda grande história um dia foi um risco. E a geração Z precisa estar preparada para tomá-los. Arte, moda e cultura sempre vão olhar para o passado como inspiração, mas, para fazer algo novo, precisamos saber digerí-lo e aí sim criar a partir do que o mundo precisa naquele momento.

A popularidade da nostalgia entre a geração Z mostra a busca por conexões genuínas. Não é algo ruim, porque lembra-nos da necessidade de buscar conforto, conexão com as memórias e transporta-nos para uma realidade diferente, escapando do mundo ultraconectado mesmo que por alguns pequenos momentos. O ponto importante é: se a geração Z tanto ama memórias, deveria estar preocupada em criá-las. Afinal, um dia, todas essas também serão nostalgia.

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