48% dos trabalhadores relataram um declínio do bem-estar em 2022, diz estudo (Klaus Vedfelt/Getty Images)
Plataforma de conteúdo
Publicado em 9 de agosto de 2023 às 17h30.
Última atualização em 9 de agosto de 2023 às 18h34.
Por Luis Gonzalez*
Falar de bem-estar nunca esteve tão em alta. Cada vez mais empresas investem energia e orçamento em soluções que parecem milagrosas, mas que ficam apenas nas aparências. Lideranças de recursos humanos se empenham em implementar ações de bem-estar e felicidade. No entanto, a questão é: estão dedicando seus esforços e propósito de apoiar seus colaboradores com as estratégias adequadas?
O estudo "State of Work-Life Wellness 22’" revelou que 48% dos trabalhadores relataram um declínio do bem-estar em 2022. Além disso, o nível de estresse entre os funcionários nunca esteve tão alto, sendo que 60% sentem-se emocionalmente desconectados do trabalho, segundo uma pesquisa do Instituto Gallup.
É claro que, com base nesses dados, é possível tirar uma série de conclusões e interpretações. Mas o que talvez mereça o maior destaque é: quando o tema é bem-estar, parece que empresas e colaboradores ainda não falam a mesma língua.
Foi-se o tempo em que o bem-estar dos colaboradores era balizado apenas pelo salário e pelas oportunidades de crescimento na empresa. Hoje, as organizações (ou, pelo menos, grande parte delas) voltaram a sua atenção para outras questões, tendo em vista as recentes transformações do mercado de trabalho e os efeitos ainda incalculáveis da pandemia.
Nos últimos anos, a ciência e a psicologia têm desempenhado um papel crucial na compreensão e no desenvolvimento de abordagens mais abrangentes sobre o bem-estar. Referências como o modelo Perma, desenvolvido por Martin Seligman, e a Teoria dos cinco elementos de bem-estar, pela Gallup, evidenciam a necessidade de uma abordagem holística para nutrir e equilibrar diferentes áreas essenciais da vida.
Imagine o seguinte cenário: sua empresa possui uma força de trabalho de aproximadamente 10 mil colaboradores e oferece apenas um benefício corporativo para prática de atividades físicas, como acesso a academias, por exemplo. É um incentivo ótimo, mas que perde sua força quando posicionado isoladamente como a promessa de incentivo ao bem-estar completo do colaborador.
Tenha em mente que estamos falando de um cenário de 10 mil colaboradores, dotados de uma pluralidade de preferências e objetivos. Ou seja, para algumas pessoas, a prioridade de bem-estar vai ser cuidar da sua alimentação. Outras estão em busca de crescimento profissional. E por aí vai. Tudo deve ser considerado nessa nova forma de perceber a cultura organizacional.
Os resultados da pesquisa realizada pela Vidalink em dois grandes eventos de RH neste ano, Conarh Saúde e HR4results, confirmam que o bem-estar é uma jornada pessoal e única para cada indivíduo. Descobrimos que 41% dos participantes consideram o cuidado com a saúde mental como a principal fonte de bem-estar, enquanto 20% destacaram a prática de exercícios físicos. Além disso, 16% enfatizaram a importância de manter a saúde em dia, 10% valorizaram uma rotina de alimentação saudável e 13% reconheceram o desenvolvimento de habilidades sociais como essenciais para o bem-estar.
A visão holística entra nessa discussão como uma forma de considerar todas as variáveis complexas que envolvem essa trajetória de cuidado a cada colaborador. Vamos usar a saúde mental como exemplo. Promover uma palestra sobre burnout durante o Mês da Saúde Mental é importante, mas só isso não basta. É preciso lidar com o problema de frente, adotando medidas que englobam desde a prevenção até o tratamento. Isso significa ir além das campanhas de conscientização para oferecer acesso à terapia e apoio financeiro na compra de medicamentos, dependendo dos casos.
De um lado, temos empresas gastando milhões e milhões com benefícios superficiais. De outro, temos mais de 1/3 dos colaboradores afirmando que não acreditam que a sua empresa demonstra estar comprometida com o seu bem-estar. E o que explica isso?
Muitas vezes, as empresas focam apenas em tratar os sintomas, e não a raiz dos problemas. O mercado ainda peca em perceber que de nada adianta oferecer uma aula de mindfulness se a cultura interna é tóxica e promove um ambiente de estresse e desgaste.
Academia, terapia, aulas de mindfulness, programas de nutrição, campanhas de conscientização… Tudo isso é muito bem-vindo e necessário. Mas para realmente combater e prevenir o problema é imprescindível assumir a responsabilidade pela construção de uma cultura organizacional mais justa, empática e positiva, o que traz vantagens tangíveis para a produtividade, o engajamento e a satisfação de toda a equipe.
É importante que os programas de bem-estar sejam integrados à estratégia geral da companhia, complementando outras iniciativas que promovam um ambiente de trabalho positivo. Isso inclui investir no desenvolvimento de lideranças conscientes, estimular a construção de relacionamentos saudáveis entre os colaboradores e oferecer suporte emocional e psicológico adequado.
Então, reflita: como o bem-estar é percebido na sua empresa?
*Luis Gonzalez é CEO da Vidalink
Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube
Veja também
Ageless: Desafios e oportunidades na integração de gerações
Cristiano Zanetta: potencialize o desempenho da sua equipe com lições do DISC e das Tartarugas Ninja