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Beatriz Leite: A mulher empreendendo dentro e fora das paredes corporativas

Empreender dentro e fora da empresa traz desafios diferentes, e se colocar no lugar do outro é a chave para conectar esses dois mundos

Mulher que empreende fora do mundo corporativo não tem um “budget” de sua área (Vladimir Vladimirov/Getty Images)

Mulher que empreende fora do mundo corporativo não tem um “budget” de sua área (Vladimir Vladimirov/Getty Images)

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Publicado em 19 de julho de 2022 às 11h35.

Última atualização em 20 de julho de 2022 às 11h59.

Por Beatriz Leite*

Sempre falamos que podemos fomentar a liderança e o empreendedorismo dentro ou fora de corporações. A mulher pode ser dona e liderar seu próprio negócio, ou liderar iniciativas, áreas e times em negócios que não são seus.

Podemos nos inspirar em grandes líderes do mundo corporativo. Esses e essas líderes podem trazer suas soluções e conhecimentos sobre estratégia, gestão, investimento para incrementar quem está na base. É claro que há diferenças. Principalmente em perspectiva.

A empreendedora do dia a dia é o que chamamos de “EUpreendedora”. Ela planeja e ela executa. Nem sempre dá para fazer tudo de uma vez só. Ela precisa priorizar para gerar vendas e faturar. Por outro lado, a intraempreendedora do corporativo pode traçar grandes planos estratégicos. Há times para executar. Pode implementar mudanças institucionais com impacto apenas no longo prazo.

A microempreendedora lança MVPs pequenos e não finalizados. Pode tomar todas as decisões sozinhas. Mas também arca com o medo de ter errado e os riscos totalmente sozinha. Já na grande empresa, a líder não pode apresentar um esboço. Qualquer nova iniciativa envolve longas reuniões e tempo dedicado em apresentações muito bonitas e formatadas. Responde e tem responsabilidades sobre suas iniciativas, mas se tudo for por água abaixo, não é o negócio dela afundando.

Qualquer investimento da dona do seu próprio negócio pode ser a diferença de uma venda, da continuidade do negócio, da renda da família. Ela não tem tempo de cuidar de sua saúde mental e, quando tem funcionários, é a primeira a se preocupar com eles. A executiva pode encerrar o expediente, bater o ponto, tirar férias. Está previsto em lei, é seu direito. E mesmo se não gerar nada na hora de trabalho, vai receber no final do mês. Pode ser que tenha um RH ou líder acima a pressionando, mas também estarão lá apoiando e cuidando dela como parte da empresa.

A mulher que empreende fora do mundo corporativo não tem um “budget” de sua área. Muitas delas, começaram cedo vendendo alguma coisa, mas nunca foi lhe foi ensinado nem sobre anotar gastos e receitas. Seu maior desafio é deixar o negócio de pé, conseguir investimentos, conexões para vendas, divulgação.

Possivelmente vai enfrentar o machismo e o assédio, e poderá virar estatística no jornal.

Dentro de uma empresa, entretanto, quem empreende tem acesso a orçamento anual para pensar novidades e investir em sua área. Sendo uma líder consolidada dentro de uma organização pode se enfrentar o desafio de ser reconhecida em seu time ou com seus pares. E possivelmente vai enfrentar o machismo e o assédio igualmente, com a diferença de que terá acesso a informações do que fazer ou a meios jurídicos para combater.

Não podemos esquecer que todos são empreendedores e empreendedoras em seus meios, porém não enfrentam os mesmos desafios. Entender e se colocar no lugar do outro, essa é a chave para conectar esses dois mundos, para que a experiência de intraempreender sirva de inspiração para a pequena dona de negócio e para que o empreendedorismo feminino do dia a dia seja apoiado cada vez mais mesmo por quem trabalha em uma mesa corporativa.

*Beatriz Leite é gestora de projetos, formada em Gestão Ambiental pela USP e pós-graduada em Gestão de Projetos pelo Senac. Atua há quase 10 anos em negócios e organizações sociais, nas áreas de longevidade, desenvolvimento local, cultura e empoderamento feminino

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