Bússola

Um conteúdo Bússola

Avanços tecnológicos melhoram a medicina, mas não substituem o médico

Tanto na saúde privada quanto pública, há algo que nenhum avanço tecnológico pode substituir: a questão humana

O compromisso do médico é inegociável (Getty Images/Getty Images)

O compromisso do médico é inegociável (Getty Images/Getty Images)

B

Bússola

Publicado em 24 de outubro de 2022 às 14h00.

Última atualização em 24 de outubro de 2022 às 14h50.

Desde que entrei para a medicina, há mais de 35 anos, vi muita coisa evoluir com o avanço da tecnologia. Por exemplo, o desenvolvimento de tratamentos que impactaram profundamente a vida das pessoas, como os remédios que têm permitido aos pacientes HIV positivos continuar vivendo de forma saudável.

Também foi o caso de medicações que proporcionam qualidade de vida para pessoas portadoras de transtornos mentais, o sequenciamento do genoma humano e a clonagem terapêutica.

Tudo com estudos indexados online e a distância de um clique, muito diferente do que havia nos meus tempos de residência, quando era preciso recorrer a colegas, professores ou livros para obtermos o que hoje encontramos em minutos na internet.

Os avanços tecnológicos também viabilizam exames e procedimentos em bebês ainda no útero materno, como o NIPT (Non Invasive Prenatal Testing, ou "Exame de Pré-Natal Não Invasivo", numa tradução livre), e a realização de cirurgias remotamente.

O acesso à informação também transformou a medicina e o modo como estamos atendendo aos pacientes. Além de tratar e prevenir doenças físicas e mentais, possibilita a desburocratização de processos operacionais, como os prontuários eletrônicos que abrem a toda a equipe médica o histórico do paciente, e a conveniência da teleconsulta que permite, de maneira segura, a anamnese sem que o paciente tenha de sair de casa.

Outra grande revolução da saúde brasileira nas últimas três décadas não está necessariamente ligada à tecnologia, mas representou um avanço social expressivo no país: a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), instituição pública de acesso universal a todos os brasileiros. Embora enfrente desafios estruturais, é responsável, junto com o setor privado e a saúde suplementar, pela incorporação de novas tecnologias a partir de critérios que visam assegurar a eficácia dos tratamentos médicos, a segurança do paciente e a sustentabilidade financeira da Saúde, que hoje representa mais de 9% do PIB brasileiro, somando investimentos público e privado.

Mas tanto na saúde privada quanto pública, há algo que nenhum avanço tecnológico pode substituir: a questão humana. É preceito fundamental colocar as diversas ferramentas tecnológicas para garantir a atenção centrada do paciente, com acompanhamentos frequentes e, especialmente, o uso inteligente dos dados disponíveis.

A boa medicina é aquela que, embora disponha de recursos tecnológicos, entrega as informações e o diagnóstico realmente necessários ao paciente, com a consideração que todas as pessoas procuram em momentos delicados. O médico não deve, jamais, se limitar a fazer o que um aplicativo alimentado por inteligência artificial poderia fazer. É sua contribuição ir além, tratando cada paciente da forma única, ouvindo-o atentamente e, efetivamente, auxiliando-o na condução de sua saúde.

O primeiro remédio para quem tem depressão é a atenção, ser ouvido sem julgamentos e saber que há alguém que se importa com seu estado clínico. Já os bebês nascidos prematuramente apresentam melhora com o contato tátil dos pais, assim como pessoas hospitalizadas se sentem mais confortáveis e têm probabilidade de restabelecimento mais rápido quando acolhidas. E isso nenhuma máquina poderá fazer. Da mesma forma, nada poderá substituir o médico que fez da sua vocação um compromisso inegociável.

*Helton Freitas é presidente da Seguros Unimed e Faculdade Unimed

Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube

Veja também

Acompanhe tudo sobre:InovaçãoMedicinaSaúde

Mais de Bússola

Natalia Beauty: a IA vai roubar seu cargo de marketing se você não aprender a usá-la agora

Ageless: sua empresa está preparada para ter uma cultura no mundo intergeracional?

No Dia do Meio Ambiente, exploramos as estratégias de sustentabilidade de companhias brasileiras

Mapeamento tributário por IA pode ser decisivo para empresas do Lucro Real