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Avanço de mulheres na liderança ainda é lento e insuficiente

Falta de creches dificulta a integração das mulheres no mercado de trabalho

Igualdade feminina é celebrada juntamente com direitos humanos (nortonrsx/Getty Images)

Igualdade feminina é celebrada juntamente com direitos humanos (nortonrsx/Getty Images)

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Publicado em 26 de agosto de 2022 às 18h53.

Última atualização em 26 de agosto de 2022 às 19h38.

O Dia Internacional da Igualdade Feminina é celebrado internacionalmente, hoje, 26 de agosto, no mesmo dia em que se comemora pelo mundo a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Para além das homenagens, este é um momento para refletir sobre o avanço na conquista de direitos femininos e sobre os desafios para atingir os objetivos globais de equidade de gênero.

A data foi escolhida para comemorar a 19ª emenda adotada na década de 1920 nos Estados Unidos, que impediu o governo americano de impossibilitar o voto feminino. A data foi designada pelo Congresso em 1973 e proclamada no mesmo ano. No Brasil, inspirada pelo movimento sufragista americano, foi fundada a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), em 1922.

As brasileiras conquistaram o direito ao voto dez anos depois, em 1932, mas ainda restrito às mulheres casadas (autorizadas pelo marido) e solteiras com renda própria. Em 1934, as restrições foram eliminadas do Código Eleitoral e, a partir de 1946, o voto feminino tornou-se obrigatório, como já era o masculino.

Dados do Fórum Econômico Mundial de 2022 mostram que ainda serão precisos dois séculos para haver igualdade de gênero no mercado de trabalho. No Brasil, apenas 8,6% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres, enquanto no resto do mundo esse índice é de 16,9%. Há várias outras pesquisas que revelam como o espaço dado às mulheres ainda cresce lentamente, apesar de diversos benefícios que a contratação de mulheres proporciona às empresas, por exemplo, o aumento da lucratividade.

De acordo com estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), realizado em junho deste ano, a mulher vai levar 43 anos para dividir igualmente os cargos de direção geral nas empresas brasileiras. Elas ocupavam 36,9% dos postos de comando das companhias em 2020, de acordo com o último levantamento. Em 2015, eram 34,7%. Em 2065, elas serão 51,1%, o que corresponde exatamente à proporção feminina em relação à população brasileira.

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), as empresas podem ter um aumento de 5% a 20% na lucratividade quando há diversidade no corpo de funcionários. Além disso, segundo o Banco Europeu, proporcionar às mulheres oportunidades iguais de trabalho pode gerar US$ 165 trilhões em riqueza com o melhor uso da habilidade humana.

Algumas empresas já perceberam isso e têm colaborado para acelerar esse avanço. A Siemens Healthineers é um exemplo de empresa que tem estimulado a redução dessa desigualdade por meio de uma política de inclusão de gênero implantada desde 2020 que tem como objetivo aumentar em 26% a participação de mulheres em postos de alta liderança na companhia. Atualmente, a empresa tem 20% de participação feminina em cargos de alta liderança, maior que a média mundial.

Adriana Costa, recentemente nomeada como diretora-geral da empresa no Brasil, é um dos principais exemplos dessa iniciativa. Adriana atua fortemente na aceleração da diversidade, equidade e inclusão, tendo verdadeira paixão e responsabilidade sobre o tema.

“Além dos meus valores e experiência de vida estarem conectados a este propósito, acredito que a diversidade e inclusão são princípios fundamentais para o bom desempenho e sustentabilidade de uma organização, onde as pessoas possam ser elas mesmas e, assim, terem todas as condições de atingirem o máximo de seu potencial. Nós como líderes, somos pontes essenciais para reduzir a disparidade e desigualdade que vivemos, transformando discursos em ações práticas”.

A executiva é conselheira e mentora tanto de profissionais quanto de startups voltadas para esses propósitos.  Também é mãe e tem se beneficiado com o formato de trabalho híbrido oferecido pela empresa a todos os colaboradores administrativos mesmo antes da pandemia, aliando a vida profissional e pessoal, dedicando tempo de qualidade com os filhos. A companhia também oferece aos funcionários o Auxílio Creche ou Babá para dependentes até os 2 anos de idade.

Mãe no mercado de trabalho

Um dos principais obstáculos para a inserção da mulher com filhos no mercado de trabalho é a falta de vagas em creches públicas. Sem ter onde deixar os filhos para trabalhar, uma grande parcela dessas mulheres — principalmente as que criam seus filhos sozinhas — tendem a entrar em situação de pobreza.

Um levantamento da Central de Informações do Registro Civil de agosto deste ano revelou que 100 mil crianças foram registradas sem o nome do pai em 2022, sugerindo que essas mães provavelmente criarão seus filhos sozinhas. De acordo com dados da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (FMCSV) de 2022, a falta de creches atinge principalmente as famílias mais pobres. Apenas 24,4% das crianças de até 3 anos de idade frequentam creches no país, ou seja, uma a cada quatro.

Visando colaborar para a inclusão de mulheres no mercado de trabalho, em Brasília, a farmacêutica União Química oferece creche para todos os seus funcionários com o objetivo de auxiliar, principalmente, no retorno das mulheres ao mercado de trabalho após a licença-maternidade. Atualmente as creches localizadas nas unidades fabris da companhia atendem noventa e oito crianças de 11 meses até 5 anos. Com o benefício, as funcionárias podem ficar com seus filhos na hora do almoço e do lanche, o que traz mais tranquilidade a essas famílias.

De acordo com Paula Melo, vice-presidente de inovação, qualidade e assuntos regulatórios e presidente do conselho de administrativo da União Química, “a companhia preza pela liberdade profissional da mulher dentro do mercado, por isso tivemos a iniciativa de criar uma creche para que as mães, ao retornarem ao trabalho, consigam estar mais próximas dos filhos, reduzindo a sua ansiedade e preocupação natural que surge com a chegada dos filhos. Na creche, a mãe pode amamentar de forma flexível. Isto é, tendo mais tranquilidade em exercer seu papel profissional”, explica.

Ariane Peixoto, farmacêutica e funcionária da União Química, é uma das mães e funcionárias da empresa que utiliza a creche. Ela avalia que o benefício não é apenas pelo espaço físico para os filhos. “Eu acho que a melhor palavra seria valorização mesmo. E não somente como profissional, mas como mãe. É muito importante poder ter essa junção da vida profissional com a vida pessoal e materna. O fato de podermos retornar ao trabalho e trazermos nossos filhos conosco é um benefício imensurável”, conta.

Ela explica que conhece muitas pessoas que tiveram dificuldades para conseguir emprego, simplesmente por serem mães. “Eu tenho pessoas muito próximas a mim e até amigas que sofreram muito com esse preconceito. Muitas, inclusive, chegaram a perder o emprego.”

Daniela é outra funcionária da União Química que se beneficia da creche. Embora não tenha passado pela experiência de não conseguir emprego por ter filhos, ela diz que muitas amigas sofreram esse preconceito. “Eu não, nunca passei por isso. Porém, uma amiga minha viveu isso na pele. Ela teve de pedir demissão por não conseguir arrumar vaga para o filho na creche”.

De acordo com a diretora da creche, Caroline Giane, “aqui as crianças têm todo carinho e atenção, além de estarem próximo dos pais. Às vezes a criança fica mais chorosa e, por estarmos no mesmo local, a gente liga para a mãe e pede para dar um pulinho aqui. Porque a gente sabe que o colo da mãe é um santo remédio. Assim, rapidamente, a gente consegue sanar qualquer outro tipo de problema”, explica. A União Química pretende expandir a iniciativa e irá construir uma nova creche na unidade fabril de Pouso Alegre (MG).

Para além da inclusão — com capital 100% nacional e 85 anos de história —, o Grupo União Química se posiciona entre as maiores indústrias farmacêuticas brasileiras, com crescimento de mais de dois dígitos ao ano, nos últimos cinco anos. Hoje a farmacêutica tem 332 mulheres em cargos de liderança, considerando todos os níveis, o que representa 37% das posições desse nicho. De 2020 para cá, a empresa aumentou 15% o número de mulheres nesses postos.

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