Bússola

Um conteúdo Bússola

Aumento da lista suja do trabalho escravo é falta de cultura de governança

Processos simples, como uma due diligence de terceiros, evitariam que empresas fossem incluídas no documento

Lista foi atualizada com inclusão de mais 132 nomes (Anankkml/Thinkstock)

Lista foi atualizada com inclusão de mais 132 nomes (Anankkml/Thinkstock)

Bússola
Bússola

Plataforma de conteúdo

Publicado em 19 de abril de 2023 às 14h00.

Última atualização em 22 de abril de 2023 às 09h27.

Por Thiago Barbosa*

A lista suja do trabalho escravo, atualizada no início de abril pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), ganhou 132 novos nomes na maior atualização registrada desde 2017, quando o documento voltou a ser publicado. Agora são 289 os empregadores que reconhecidamente submeteram pessoas a condições análogas à de escravidão. Isso denota alguns fatores: a falta de boa governança nas empresas, uma cultura organizacional focada no lucro a qualquer custo e o aumento da fiscalização. Não é difícil concluir que a ética e transparência (pilares óbvios da boa governança corporativa) ainda não são os efetivos pilares do modelo empresarial de muitas organizações que atuam no mercado brasileiro.

Figurar numa lista dessas é acabar com a imagem e a reputação da empresa. E não é nada complicado evitar que isso aconteça. Contudo, para reverter esse quadro, é preciso mais do que concordar com o ESG: é preciso querer implementá-lo. Ainda assim, mais do que apenas querer, é preciso agir com consistência para que efetivamente a implementação ocorra, o que persiste sendo  um grande desafio para as empresas. É preciso entender que esse desafio não deve ser superado apenas para conquistar espaços positivos na preferência dos investidores e da opinião pública, mas, acima de tudo, para que se possa assegurar a continuidade dos negócios.

É por meio da governança corporativa – grande responsável por garantir que nenhuma das partes de um negócio seja prejudicada – que os valores da empresa são reforçados e implementados para impactar positivamente a rotina da organização. Ela modela a cultura, pauta ações, demanda reações. A falta dela é o estopim que possibilita que desastres e riscos de várias ordens venham a acontecer, como vimos nas últimas semanas, com mais e mais casos de empresas ganhando manchetes (negativas).

A transparência para o mercado, combinada com a imposição de ações efetivas, é vital para a instituição manter-se competitiva nesses casos. Mesmo que a organização obtenha certificações, reconhecimentos, normas e frameworks globais, isso não é suficiente se não houver transparência e imposição da cultura da integridade e segurança.

Grandes erros não acontecem isoladamente. Por isso falamos de falta de cultura de governança. Dá trabalho fazer o certo. Realizar uma gestão de risco integrada, de forma madura, seja na prevenção de riscos ou no desenvolvimento diário dos negócios, não é algo que todos estão dispostos a investir. Todavia, podemos dizer que hoje existem ferramentas e processos que não são complicados e nem caros - e que evitam dores de cabeça, como figurar na lista suja do governo brasileiro.

A due diligence de terceiros aprofundada é uma dessas ferramentas e consiste, basicamente, num procedimento de investigação de uma empresa, ou indivíduo de forma a verificar fatores contábeis, reputacionais, financeiros, trabalhistas, previdenciários, jurídicos, tecnológicos, entre outros. Sobretudo na contratação de serviços terceirizados, é extremamente importante a realização da due diligence de terceiros como meio de antecipar, prevenir ou mitigar inconformidades e/ou impactos. Nesse sentido, é necessário não apenas verificar a corporação em si, mas também seus sócios e beneficiários finais.

A boa notícia é que hoje isso pode ser feito rapidamente com o auxílio de bases de dados e plataformas automatizadas e integradas,  que identificam e geram alertas sobre todos esses riscos e muitos outros.

Ou seja, a ética e transparência são alicerces da boa governança, a qual não pode ser tratada como projeto de apenas uma ou outra área de uma corporação. Na verdade a boa governança deve estar no DNA da organização, nas veias dos executivos, nos corações e mentes de cada colaborador. O custo de não se aplicar esse modelo é por demais alto e cobrará uma fatura caríssima para aqueles que insistirem em ficar à margem desse processo.

*Thiago Barbosa é diretor executivo da LexisNexis para a América Latina

Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube

Veja também

Karpowership promove doações de material escolar para projeto Uerê

Movimento União BR promove legado assistencial para os Yanomamis

Como as mulheres pretas impactam nas organizações

Acompanhe tudo sobre:DiversidadeSustentabilidadeTrabalho escravo

Mais de Bússola

Inteligência artificial e segurança cibernética na nova fase das relações EUA-China e Brasil 

7 em cada 10 brasileiros apostam na produção de biocombustível como motor de crescimento econômico

97% das empresas com receita de US$ 1 bi já sofreram violação por IA generativa, aponta instituto

Luiz Garcia: como a construção civil pode superar os desafios provocados pelo aumento do INCC