Até 2030 haverá demanda 60% maior por alimentos (Denise Taylor/Getty Images)
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Publicado em 23 de maio de 2023 às 15h30.
Por Paulo Unger Ibri*
Estamos muito acostumados a observar disrupções lideradas por startups em diversos segmentos, como financeiro (fintechs), saúde (healthtechs) e social, com inúmeras redes sociais surgindo a cada momento. Mas o mercado mais importante para todos os seres humanos, e que recebe muito menos atenção do que os citados acima, seja de clientes ou investidores, carece incrivelmente de novidades e tecnologia: o mercado de alimentação.
De acordo com a ONU, em 2030, teremos 2 bilhões de pessoas a mais em nosso planeta, resultando em uma demanda 60% maior por alimentos, e um claro sinal vermelho de que não haverá proteína disponível para todos, ao menos da forma como conhecemos atualmente, com o tradicional mercado de proteínas animais.
Não será possível criar animais de abate na velocidade com que se fará necessário devido ao crescimento populacional, como também se tornará inviável por questões ambientais, sendo que para isso teríamos que colocar nosso meio ambiente em colapso. Por quê? Porque de acordo com a ONG Water Footprint Network, para um quilo de produção de carne bovina são necessários 15.400 litros de água ao longo do processo produtivo, sendo que para o mesmo peso de alface são necessários 240 litros e para laranjas 80 litros.
Está claro, então, que o mercado precisa se reinventar e encontrar alternativas para alimentar a população de forma mais saudável e, tão importante quanto, de forma mais sustentável. É daí que surgem as startups que serão fundamentais para o futuro da alimentação e do nosso meio ambiente: as foodtechs.
O primeiro passo que o mercado deu rumo à disrupção das proteínas de origem animal foram os produtos plant-based (ou à base de de plantas), que têm como objetivo simular a proteína animal através de vegetais, seja com soja, ervilhas ou glúten. Esse segmento visa atingir uma parcela grande do mercado, não se restringindo apenas ao segmento de pessoas veganas ou vegetarianas, mas também as flexitarianas. Esse público tem como opção reduzir o consumo de proteína animal em sua rotina tendo como principal motivador a saudabilidade e a sustentabilidade, sem abrir mão do prazer de se comer bem.
Esse mercado já se tornou uma realidade, com diversas marcas atuando no segmento, disputando pelo que ainda é uma parcela pequena de consumo, o que leva todas as empresas a uma dificuldade extrema de escalabilidade. Mas porque isso acontece?
Um dos principais motivos é a tecnologia. Hoje, os produtos à base de plantas que temos no mercado ficam limitados, por questões tecnológicas, a categorias de produtos processados, tais como hambúrgueres, empanados, linguiças, almôndegas, quibes, entre outros, dificultando o consumo diário desse tipo de produto, já que não estamos acostumados a comê-los acompanhados de arroz e feijão, por exemplo. E por que não é lançado um filé de frango ou um bife feito de proteína vegetal? Porque, até o momento, não existe uma proteína vegetal que proporcione a mesma característica de fibras proveniente da proteína animal, tornando-se um produto de qualidade muito inferior.
Somado a esse fator, temos a questão do preço. Não é novidade que a categoria de produtos vegetais, em geral, é comercializada a 30%, 40% e às vezes até 50% mais caro em seu preço por kg do que a proteína animal convencional. Isso se deve às altas margens das startups? Pelo contrário, as startups, em sua maioria, trabalham com margens mínimas para levar esses produtos ao mercado, porém o mercado de alimentos só se torna viável financeiramente quando se existe escala. Logo, entramos em uma discussão de ovo ou galinha: vendemos pouco porque o produto é caro e o produto é caro porque vendemos pouco?
Por fim, temos uma questão que remete diretamente ao hábito de consumo dos flexitarianos: a saudabilidade. Ora, se esse público está buscando na alternativa vegetal algo que seja mais saudável que a proteína animal tradicional e está pagando mais por isso, faz sentido que só haja produtos de indulgência nessa categoria e que seja difícil argumentar em termos nutricionais que as proteínas à base de plantas são mais saudáveis? Eu acredito que não. Um empanado vegetal é mais saudável que um empanado tradicional? Sem dúvidas. Mas isso não é suficiente para a completa reinvenção do nosso sistema alimentar.
Se faz clara, então, a necessidade do mercado de proteínas alternativas continuar se reinventando para finalmente reescrever o futuro da alimentação, se posicionando como um agente real e exponencial de mudança nesse sistema. Produtos plant-based foram e continuarão sendo importantes para esse movimento? Sim, sem dúvida, mas é só um passo. Seja através de carne cultivada (ou de laboratório) ou de outras tecnologias, o mercado precisará continuar evoluindo.
Em breve, conseguiremos substituir a proteína animal em nosso prato do dia a dia, sem abrir mão do sabor e da textura, sem negligenciar nossa saúde e sem ter que gastar mais por isso. Parece um sonho? Sim, é um sonho há muito tempo, mas ele está mais perto de virar realidade do que você imagina.
*Paulo Unger Ibri é fundador e CEO da Typcal, foodtech voltada para o consumo saudável
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