Gabriel Leal, fundador da Psyche Aerospace (Psyche Aerospace/Divulgação)
Repórter Bússola
Publicado em 14 de março de 2025 às 13h00.
Última atualização em 14 de março de 2025 às 13h10.
Se John D. Rockefeller impulsionou o avanço da sociedade moderna com a revolução na indústria do petróleo, Gabriel Leal quer fazer o mesmo explorando o espaço. Aos 14, ele descobriu que a extração de recursos do asteroide 16 Psyche aumentaria o PIB global em pelo menos 24 mil vezes. A partir disso, ele desenhou um projeto de empresa acreditando que ele o faria bilionário.
10 anos depois ele já está no caminho, comandando a agtech Psyche Aerospace, fundada em 2022 e atualmente avaliada em R$ 75 milhões. Apostando na aplicação de drones na pulverização agrícola, o jovem de 24 anos encontrou um modelo de negócio com potencial para levá-lo às estrelas.
Foram incontáveis protótipos destruídos antes que o super drone agrícola Harpia P-71, o maior do mundo, pudesse voar, cobrindo 50 hectares por hora em um processo de pulverização mais barato que as alternativas.
O modelo de negócio voltado para o agro viabiliza a empresa do setor aeroespacial. Com um investimento anual de cerca de R$ 15 milhões em pesquisa e desenvolvimento, a Psyche Aerospace segue mirando nas estrelas, incorporando até mesmo IA, criando o ChatGPT do agro.
Hoje, o potencial da startup é claro, e com uma rodada série B mirando nos R$ 60 mi, os projetos para 2025 são ambiciosos. Mas há três anos atrás, sem ensino superior, sem referência em empreendedorismo e sem recursos, Gabriel precisou de muito esforço para tirar seu sonho do papel.
Harpia P71, da Psyche Aerospace (Psyche Aerospace/Divulgação)
Nascido em Livramento de Nossa Senhora, no interior da Bahia, Gabriel não via na população de 40 mil habitantes nenhum exemplo consolidado de empreendedorismo. E com pais agricultores, que sonhavam com um filho médico, a escolha de se mudar para perseguir o sonho de empreender foi difícil.
Ele saiu de casa com apenas 15 anos, pronto para fazer a vida pensando primeiro em fazer dinheiro. Depois de alguns projetos falidos em Vitória da Conquista e em São Paulo, ele entendeu que precisava ficar no setor aeroespacial do começo ao fim.
“SP foi minha faculdade. Eu nunca imaginei que você pudesse pegar o dinheiro de alguém para desenvolver alguma coisa. Eu nem sabia o que era um ‘pitch’. Mas lá eu fui entendendo o que era a indústria, aprendendo o que era captar e entendendo as bases de empreender. Em 2022 eu redesenhei o projeto da empresa e fui pra cima.”
Com as contas feitas, ele começou o embrião da Psyche Aerospace e se mudou para São José dos Campos, para participar do Parque de Inovação Tecnológica (PIT). De 200 projetos inscritos, o programa de apoio normalmente aceita apenas 20. Uma chance pequena mas que valia o esforço.
“Eu fui de um lugar onde não tinha referência para um lugar onde só tinha referências ruins. Quando falavam do setor aeroespacial eu ouvia muitas histórias de gente que prometeu e não cumpriu ou que faliu. E ninguém dava bola porque eu tinha 21 anos e não era formado. Falei com uns 600 engenheiros até encontrar meu primeiro sócio”.
Victor Hespanha, o sócio em questão, é engenheiro, investidor e participou de voo na Blue Origin em 2022, tornando-se o segundo brasileiro a chegar ao espaço. Percebendo o ‘fit’ com a Psyche, e tendo amigos em comum, Gabriel arriscou um e-mail e Victor topou.
Depois de ser selecionado no PIT, o projeto ganhou mais sócios e membros e em fevereiro de 2023 eles começaram em um escritório de 20 metros quadrados a R$ 500 o mês. A missão era desenvolver o maior drone agrícola do mundo. O único problema, era que o dinheiro não duraria para sempre.
Cinco meses após a abertura do escritório, o time da Psyche viu que o dinheiro, tirado do próprio bolso, ia acabar. Eles precisavam urgentemente finalizar o seu protótipo de drone e conseguir um investidor que topasse o aporte de R$ 1 mi que eles procuravam.
“A gente não tinha dinheiro nem para pagar os estagiários. Fiz os cálculos e precisávamos entregar o primeiro drone em 30 dias. Só tínhamos modelos 2D, mas o pai do nosso atual diretor de manufatura topou ajudar”.
Na chácara do ‘Seu Lauro’, aposentado ex-Embraer, eles correram contra o tempo. Em mãos, tinham apenas uma máquina de corte CNC e muitas placas de madeira MDF. Ao final de 28 dias, eles tinham o primeiro drone. Infelizmente, ainda não tinham nenhum investidor.
“Não ia rolar. Ninguém queria investir. Eu escutei dizerem coisas como ‘vocês fizeram um protótipo que não voa. Isso aí todo mundo consegue fazer’. E nos 20 dias seguidos eu senti como se tivesse perdido todos os membros da minha família”, Gabriel conta sobre seu momento mais sombrio.
A situação parecia que ia terminar em venda, o que seria um fracasso terrível para o jovem empreendedor. Mas ele ainda tinha um último recurso para usar.
Alguns meses atrás, ele tinha conhecido outro amigo de um amigo que também se interessava pelo espaço. Eles acabaram falando de tudo, mas nada sobre a Psyche. Em um dia desses, de luto pela empresa, ele decidiu pesquisar quem era a pessoa, porque ainda não sabia.
“Eu vi logo a manchete estampada no google: Melhor Envio, fundada por Eder Medeiros, adquirida por R$ 83 milhões. Fiquei chocado! Resolvi mandar uma mensagem e ver se ele topava investir na Psyche”, conta.
Com a última esperança, ele entrou em contato com o amigo e possível investidor e fez o pitch deck mais importante da sua carreira. Ou pelo menos ele pensou que faria. Até então, Gabriel tinha vendido exclusivamente a ideia para o agronegócio, que era mais prática, mas será que ela era mesmo tão interessante assim para os investidores?
“Se você acreditar na minha história, você investe na Psyche. Senão, vida que segue. E aí, sem apresentação, sem nada, só com as duas câmeras ligadas, eu contei a minha história para ele”.
Para Medeiros, Gabriel não vendeu uma solução para o agronegócio. Ele compartilhou seu sonho. E o investidor topou. Mais do que o R$ 1 milhão proposto, Eder investiu R$ 2 milhões, aceitando participação de 20%. Um salto de fé estimulado pela admiração à determinação do rapaz. Fechando uma rodada seed de R$ 4 milhões, a Psyche Aerospace finalmente decolou.
O produto mais recente lançado pela empresa é o sistema operacional Turing, baseado em inteligência artificial. Considerado o ChatGPT do agro, o sistema integra os drones autônomos Harpia a hovers de monitoramento, que fazem análises chegando a 4 cm de precisão, muito acima da resolução obtida por satélites convencionais.
Ilustração de funcionamento do sistema Turing (Psyche Aerospace/Divulgação)
Os dados gerados são processados pela plataforma Turing, integrando informações de solo, clima, estresse hídrico, deficiências nutricionais do solo, da plantação, pragas e outros, possibilitando agricultura de alta precisão.
Para 2025, com os resultados de captação da recém aberta série B, a Psyche Aerospace planeja a continuidade da integração com IA e a construção de uma fábrica de 100 metros quadrados. Tudo gira em torno do objetivo de consolidar a indústria nacional e colocar o Brasil no mapa dos grandes players no setor aeroespacial.
“Não é a sua ideia que é valiosa. Na hora de tirar do papel e colocar no mundo, o que as pessoas vão notar é o quanto você acredita nela. Sua atitude, seus sacrifícios, seu esforço. É mostrando sua paixão que você encontra pessoas que vão acreditar em você”, conclui.
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