“Apesar dos atores econômicos demonstrarem cautela sobre 2024, é importante reconhecer que atravessamos este ano e saímos mais fortes”, afirma Marcelo de Sá, CFO do Grupo Petrópolis (Foto ilutrativa/Getty Images)
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Publicado em 22 de dezembro de 2023 às 09h00.
Por Marcelo de Sá *
Se a virada do ano é momento de renovar as esperanças, esse final de 2023 traz motivos de sobra para festejos extras para quem observa a economia brasileira.
Superando as previsões, o Brasil deve ficar entre as 9 maiores economias do mundo ainda este ano, segundo projeções do FMI. Após revisão no PIB brasileiro, estimado em US$ 2,13 trilhões em 2023, o país ultrapassa o Canadá, com PIB previsto de US$ 2,12 trilhões e fecha o crescimento de 2,1% para 3,1%.
Com a taxa de desemprego em queda, crescimento da atividade econômica e inflação mais baixa, o ano de 2023 deixa um sabor adocicado nos lábios de quem imaginava um ano atribulado.
Ainda assim, esses dados não asseguram o início de um novo ciclo de desenvolvimento sustentado, ao menos na visão da Confederação Nacional da Indústria.
Avaliando que o PIB atual foi construído sobre fatores conjunturais excepcionais, como o expressivo crescimento do PIB da agropecuária, e com queda dos investimentos produtivos, a CNI prevê para o próximo ano expansão da economia brasileira de apenas 1,7%.
A persistir a trajetória descendente da inflação, com o IPCA em 3,9% ao fim de 2024, o cenário aumenta o espaço para cortes da Selic, que deve terminar 2024 em 9,25% ao ano.
A taxa de investimento - a relação entre a formação bruta de capital fixo e o PIB - deve cair para 18,1%, ante 19,3%, em 2022. O investimento deve recuar 3,5%, impedindo um melhor desempenho nos próximos anos, fazendo com que o Brasil precise de uma estratégia de médio e longo prazo para sustentar taxas de investimento iguais ou superiores a 20% do PIB.
A expectativa para o próximo ano é de que o mercado de trabalho não deverá repetir o crescimento de 2023. A previsão é de alta de 2,9% na massa salarial em 2024 ante a alta de 6,4% neste ano. Isso porque a projeção é de crescimento menor do número de pessoas ocupadas, efeito colateral da política monetária de juros altos.
O cenário econômico internacional exige cautela, o que contém os ímpetos de prever aumentos históricos no saldo positivo da balança comercial. Neste ano, o saldo recorde decorre dos volumes de produtos agropecuários, principalmente soja e milho, e da indústria extrativa, petróleo e minério de ferro.
O setor agropecuário foi beneficiado pela redução relevante dos custos de produção, aliada à safra recorde, além de um setor externo que apresentou oportunidades e permitiu a conquista de novos mercados. Dessa forma, a expectativa é de que o PIB agropecuário encerre 2023 com alta de 15,1%. No entanto, esse mesmo cenário não deve se repetir no próximo ano. A previsão é de redução na safra de 2024 frente a de 2023, com crescimento de 0,2% do PIB do setor.
A indústria de transformação e a da construção deverão ter altas modestas, de 0,3% e 0,7%, respectivamente em 2024, e devem compensar as quedas deste ano. A indústria de transformação encerrará 2023 com queda de 0,7% e a indústria da construção vai recuar 0,6%, depois de dois anos de forte crescimento.
Tomando por base o ranking das 300 Maiores Empresas do Varejo Brasileiro 2023, o faturamento dos maiores varejistas do país teve crescimento (sem considerar a inflação) de 19,9% em 2022, contra 14,1% do varejo como um todo, segundo o IBGE. No entanto, o setor varejista enfrenta um modelo desafiador frente ao cenário macroeconômico nacional e global. Mesmo com os índices em alta, algumas medidas do Governo, como a reforma tributária, pode trazer impactos significativos, uma vez que o setor é bastante exposto a benefícios fiscais, principalmente atrelados ao ICMS, como também à Lei do Bem, à Lei da Moda e à Sudene, que poderão ser reduzidos com a implementação de um imposto único.
A mais recente pesquisa Radar Febraban sinaliza o otimismo do brasileiro com a chegada do ano novo. Em relação à sua vida e da família em 2024, a perspectiva de melhora é elevada (74%), mesmo número de dezembro/2022. Aqueles que não vislumbram mudanças passaram de 11% para 14%, enquanto os que creem em piora oscilaram de 10% para 9%. A parcela daqueles que declararam melhoria de vida em 2023 subiu três pontos na comparação com dezembro de 2022 (de 43% para 46%).
Sete em cada 10 brasileiros esperam um 2024 melhor, segundo a Pesquisa Datafolha realizada no início de dezembro. Entretanto, ao que parece, a polarização política que caracterizou a eleição presidencial transbordou para a esfera econômica, resultando em nítida discrepância nas expectativas em relação ao desempenho econômico em 2024 e ao próprio bem-estar financeiro futuro dependendo da filiação ou simpatia política.
O levantamento mostra ainda que, na população como um todo, a possibilidade de aumento da inflação ainda preocupa a maioria (51%), mas que houve diminuição do pessimismo em relação ao desemprego: em pouco mais de três meses caiu de 46% para 39% o total dos que acham que ele pode aumentar.
Ainda que os atores econômicos demonstrem cautela sobre 2024, é importante reconhecer que atravessamos este ano e saímos mais fortes, inclusive com uma reforma tributária das mais robustas aprovadas em algum tempo. Ainda assim há muito caminho e muito trabalho pela frente até que o Brasil alcance a posição de destaque que merece.
Marcelo de Sá é CFO do Grupo Petrópolis, fabricante das marcas de cerveja Itaipava, Petra, Black Princess, Cacildis, Crystal, Lokal e Weltenburger Kloster, do refrigerante it!, do energético TNT e da água mineral Petra
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