Não podemos perder de vista que é tudo sobre pessoas — e isso vale o tempo todo (Klaus Vedfelt/Getty Images)
Bússola
Publicado em 21 de abril de 2022 às 16h41.
Por Andréa Fernandes*
Nada como poder estar perto das pessoas. Depois de um período difícil de pandemia, o maior evento de inovação digital da América Latina, o VTEX Day, aconteceu em São Paulo entre os dias 12 e 13 de abril, desta vez em formato híbrido, com programação online e a presença do público, que teve a chance de ver de perto grandes nomes (incluindo Lewis Hamilton!).
Nós, do TGroup, estivemos lá e posso dizer que foi uma experiência intensa.
Tivemos a chance de trocar ideias, conhecer outros pontos de vista e saber das inovações que vêm sendo implementadas em companhias que admiro, além de ouvir palestrantes que são referências mundiais — tudo isso aconteceu em apenas dois dias!
Confesso que minha cabeça ficou a mil, um turbilhão de ideias e sei que tudo que vivi no VTEX Day 2022 vai render muitos frutos, inclusive como temas aqui na coluna. Mas neste texto vou comentar duas palestras que me chamaram a atenção, não só porque dialogam muito com minhas crenças como CEO e pessoa, mas porque resumem muito a transformação que vivemos atualmente no mundo das empresas.
Uma das palestras foi a do Scott Galloway, guru do Vale do Silício e Professor de Marketing da NYU’s Stern School of Business. A outra foi do Guilherme Lebelson, Global VP of Direct to Consumer na AB Inbev, fundador do Zé Delivery e Head da Zé Company. Em ambas as falas, ficou evidente o quanto as marcas perceberam que precisam ser people centric. Ou seja, precisam colocar as pessoas no centro.
E esse é um mantra que carrego comigo há muitos, muitos anos. No mundo corporativo, muitas vezes, falamos muito de dados, números, projeções, estratégias. Mas não podemos perder de vista que é tudo sobre pessoas — e isso vale o tempo todo, tanto no trabalho interno quanto no que vamos colocar no mercado para o público externo. Vou explicar melhor.
O Zé Delivery foi criado justamente a partir da percepção de que era preciso levar mais conveniência ao consumidor no momento de comprar cerveja. O país já contava com aplicativos de entrega, mas não com um tão focado em uma boa experiência de compra da bebida. Ao colocar as pessoas no centro, entregando a bebida gelada, em até 30 minutos e por um preço competitivo, o Zé Delivery alcançou resultados espetaculares. A companhia cresceu e já se tornou a maior plataforma de entrega de bebidas alcóolicas, atingindo diretamente cinco milhões de consumidores por mês em 13 países.
A empresa, que é ligada à Ambev, foi além e já vende produtos produzidos inclusive pela concorrência. Se eu entrar no app e quiser encomendar uma Heineken, eu posso. Isso mostra uma mudança de comportamento que eu acho fundamental porque a empresa entende que os desejos das pessoas estão em primeiro plano e não podem ficar restritos só aos objetivos da companhia. Talvez por isso mesmo o Zé Delivery já seja o maior cliente da Ambev, superando grandes nomes do varejo.
E todas essas transformações só são possíveis porque são fruto do trabalho de um time. No universo da tecnologia, e mais especificamente no das startups, muitas vezes ficamos muito focados nas ideias de um indivíduo, de um founder, e tendemos a esquecer da importância da equipe. Só que nenhum trabalho se faz sozinho e as empresas e seus resultados e impactos são movidos por pessoas, por coletivos com propósito. Essa é uma lição que o Lebelson e eu colocamos em prática em nossos respectivos trabalhos, e é sobre isso também que fala muito Scott Galloway.
Para além das previsões que faz para o Brasil — Galloway acredita que existe no Brasil a tempestade de condições perfeitas para o crescimento —, ele fala muito sobre o que nos toca, sobre reflexões que devemos fazer como humanos, e sobre como tudo isso está ligado com o futuro das marcas, empresas, o nosso futuro. Afinal, tudo é feito por pessoas e deveria ser feito para pessoas.
Vou trazer aqui, em uma tradução livre, as questões com as quais ele encerrou a palestra. Sob o guarda-chuva de uma pergunta mais ampla “O que é para você uma real oportunidade?”, ele fez outras três questões: 1) “Você cuida dos seus pais?”; 2) “Você tem o relacionamento que deseja com seus irmãos?”; 3) “Você investe de verdade nas suas amizades?”.
Eu já me fiz essas perguntas — e ainda acho que vou me fazer muitas outras vezes. Você, que me acompanha aqui na coluna, pode se questionar também, se quiser, claro. Adoro esse espaço justamente porque me faz refletir. E espero que te faça refletir também. Até semana que vem!
*Andréa Fernandes é CEO do TGroup
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