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Análise do cenário político e econômico após desistência de Joe Biden à corrida presidencial nos EUA 

Artigo de Ana Angélica Soares indica que democratas se veem diante de uma crise e da oportunidade de eleger a primeira mulher negra, filha de imigrantes, presidente dos Estados Unidos

Joe Biden embarca no Air Force One (Kent Nishimura /AFP)

Joe Biden embarca no Air Force One (Kent Nishimura /AFP)

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Publicado em 22 de julho de 2024 às 10h45.

Última atualização em 22 de julho de 2024 às 10h46.

Por Ana Angélica Soares, consultora sênior na FSB 

Eleições americanas

Após crescente pressão da opinião pública e do Partido Democrata, Joe Biden desistiu de tentar a reeleição. O anúncio foi feito em carta divulgada nas redes sociais neste domingo (21/07), endossando ainda uma possível candidatura da vice-presidente Kamala Harris. Embora seu status no Partido e na Casa Branca fortaleçam na indicação, não há nada certo ou automático, e o partido possui ainda o desafio de indicar um vice. A nova chapa será oficializada na convenção do Partido, em agosto, e as eleições acontecem em novembro.

O ataque a Trump e a incerteza na campanha democrata incendeiam as eleições norte-americanas, dando considerável vantagem aos republicanos no tempo e na correlação de forças. Já os democratas se veem diante de uma crise e da oportunidade de eleger a primeira mulher negra, filha de imigrantes, presidente dos Estados Unidos. Todavia, pesam contra o partido uma aprovação de governo em declínio constante, que terminou com 37%, contra uma desaprovação que também cresceu de forma consistente, chegando a 60% – de acordo com a última medição da CNN (12/7) que leva em conta os resultados de surveys realizados por cinco instituições de pesquisa do país.

Mundo

Os desdobramentos são acompanhados com apreensão também pela União Europeia, já que uma eleição de Trump esvaziaria a OTAN diante de uma Rússia cada vez mais agressiva e intransigente. No cenário mundial, uma vitória de Trump também fortalece as relações entre os EUA e Israel, tornando mais complexas as relações com a OPEP. A beligerância contra a China tende a aumentar, o que impacta sobremaneira os países emergentes – parceiros comerciais do gigante asiático.

Câmbio

Os analistas financeiros se dividem quanto aos efeitos de uma eleição de Trump no câmbio. Paradoxalmente, há a certeza da incerteza. Enquanto uma postura agressiva contra a China levaria a uma alta do dólar, alguns chegam a apostar em uma possível desvalorização da moeda por Trump para incentivar a compra de produtos norte-americanos. Isso levaria a uma desaceleração dos preços no Brasil, mas também a uma desvalorização das exportações brasileiras. Mais uma vez, o cenário incerto atinge em cheio os mercados emergentes.

Brasil

As eleições nos EUA são encaradas como proxy do que pode acontecer no pleito presidencial de 2026. Neste sentido, uma vantagem republicana nos Estados Unidos fortalece a aliança liberal-conservadora no país e acrescenta um elemento de tensão ao governo do PT tanto em sua vigência, quanto na perspectiva de uma reeleição. Lula certamente passará a ser questionado, a exemplo do que ocorreu com Biden, sobre sua idade e capacidades cognitivas para um próximo mandato. O desempenho fiscal/econômico e o congresso arredio não ajudam na empreitada, ainda que os índices de aprovação de Lula tenham apresentado uma recuperação, atingindo 54% depois de quedas constantes desde agosto de 2023 (auge de sua aprovação neste mandato, de 60%), com uma desaprovação crescente. O governo Lula tem uma curta janela para tentar reverter este cenário, enquanto a oposição tende a se fortalecer.

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