Guilherme Boulos - Foto: Leandro Fonseca Data: 02/04/2024 (Leandro Fonseca/Exame)
Analista Político - Colunista Bússola
Publicado em 26 de agosto de 2024 às 15h00.
A semana passada trouxe novidades nas pesquisas públicas da eleição paulistana, tendências que já vinham detectadas nos trackings reservados. As principais mudanças não estão nos números, são políticas. Em resumo, o ensaio de guerra civil no bolsonarismo oferece ao campo petista-psolista a possibilidade de, por enquanto, jogar parado e concentrar-se em reduzir a rejeição de seu candidato à Prefeitura de São Paulo.
O principal problema de Guilherme Boulos (PSOL) não está no primeiro turno, pois é improvável que alguém roube dele fatia substancial dos votos de seu campo.
O desafio está nas simulações de segundo turno, em que invariavelmente aparece bem atrás do prefeito Ricardo Nunes (MDB). A ida de Pablo Marçal (PRTB) à decisão ofereceria ao psolista uma narrativa mais verossímil na tentativa de reeditar a “frente ampla” que fez Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Haddad chegarem na frente, respectivamente, de Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas na capital paulista dois anos atrás.
Pois é óbvio ser bem mais viável carimbar Marçal como “bolsonarista” do que fazer isso com Nunes, até porque o prefeito não oferece características para classificá-lo com qualquer viés político-ideológico.
A conturbação no campo da direita paulistana tem algumas raízes no estilo de liderança de Bolsonaro, algo caótica e inclemente. Isso deixou nos últimos seis anos um rastro de ressentimentos e diversos quadros feridos pelo caminho, que agora veem a oportunidade de voltar a ocupar espaço no afeto político do capitão reformado, guerreando contra a turma hoje prestigiada. Mas a janela não se abriria sozinha sem povo, daí a importância de Marçal.
Até ontem, quem se recusava em algum momento a seguir fielmente alguma diretriz bolsonarista acabava sem oxigênio político, pois os votos eram do próprio Bolsonaro, e de mais ninguém. Veremos se Marçal consegue romper a maldição. E ele está se esforçando para fugir de ser caracterizado como traidor, carimbo que amputou promissoras carreiras políticas na direita pós-2018.
Marçal não teria ambiente para fazer o que faz, na escala em que faz, não fosse por dois outros elementos da conjuntura.
O primeiro é um crescente incômodo popular com o universo paralelo brasiliense, em que os atores se movimentam como se não devessem explicações a ninguém e como se não houvesse amanhã. Isso vai reavivando as brasas da antipolítica, que um dia já se chamou “nova política”, mas vai se convertendo em rejeição da política em geral, dado que esta parece estar, de ponta a ponta, 100% abduzida pelo establishment.
Esse vetor acaba potencializando outro, o maximalismo de uma base social de direita, que se parece em algum grau com a esquerda lá atrás, quando esta imaginava ter um bilhete sem escalas ao ponto final de seu projeto. As agruras da vida domesticaram a esquerda, que aprendeu a suportar as paradas, mesmo rangendo os dentes, mas sempre de olho no destino sonhado.
A massa de direita ainda vive num estágio espiritual anterior.
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