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Análise do Alon: chegou a hora

Coluna semanal do analista político Alon Feuerwerker aprofunda o cenário político e traz os impactos na economia e na sociedade

Congresso Nacional  |  Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Congresso Nacional | Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

GG

Gilson Garrett Jr

Publicado em 31 de janeiro de 2021 às 10h47.

Num passado algo remoto, as eleições para as mesas do Congresso Nacional não costumavam produzir noticiário tão abundante e atraente. O costume era o partido majoritário e governista indicar os presidentes, de seus quadros ou de algum aliado, e as demais agremiações encaixarem-se nos outros cargos conforme a proporcionalidade. E a Câmara dos Deputados e o Senado Federal estavam habituados viver numa "harmonia subordinada" ao Executivo.

A coisa começou a mudar, ainda timidamente, quando o PT nos anos 90 decidiu disputar com candidato próprio a presidência da Câmara, uma tática de demarcação de limites com o então governo tucano. Mas era uma ação que se esgotava no terreno da propaganda, acabava não tendo efeito prático, visto que a ampla maioria governista terminava se impondo, mesmo quando vivia tensões internas.

O caldo desandou pela primeira vez em 2005, no primeiro governo petista, pois um racha no PT acabou permitindo a vitória de Severino Cavalcanti (PP-PE) na Câmara. Veio uma chacoalhada, mas o mandato dele durou pouco (teve de renunciar sob acusações de corrupção) e o governo conseguiu fazer o sucessor, numa votação apertada. Dali em diante, o PT, gato escaldado, buscou uma aliança-seguro com o então PMDB nos deputados.

Disso, em algum grau, também resultou a presença de Michel Temer na vice dos dois últimos mandatos petistas. Anos depois, esse “seguro-PMDB” não se comprovou tão funcional assim para o PT, mas aí já entraríamos em outro assunto. Que vale a pena discutir, mas é outro assunto.

Nunca mais, porém, o país voltou aos tempos da monotonia de antigamente. E chegamos onde chegamos. Em parte por causa da pulverização partidária. Não existe mais "partido majoritário". Mas também porque os dois impeachments entre os quatro presidentes eleitos antes de Jair Bolsonaro acabaram transformando o presidente da Câmara quase num dos árbitros supremos da República. Sem falar de seu poder para pautar ou deixar de pautar os assuntos de interesse do Executivo.

É esperado, portanto, que o ocupante do Palácio do Planalto lute para colocar aliados no comando do Legislativo, especialmente da Câmara. E a luta eleitoral de agora foi se tornando mais cruenta na medida em que ficou claro o objetivo dos candidatos oposicionistas: estimular a anabolização de um ambiente favorável a colocar a corda política em torno do pescoço do presidente da República. Esqueçam os discursos de fachada: é só disso que se trata.

A candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP) trouxe novidades. É um primeiro ensaio de reaproximação entre a esquerda e a direita não bolsonarista, em alguns casos já francamente antibolsonarista. Veremos os músculos que a aliança será capaz de mostrar neste primeiro teste de fogo. E veremos se o PT conseguirá voltar à mesa da Câmara, claramente o objetivo principal, e põe "principal" nisso, do partido em todo esse processo frentista.

Se Rossi ganhar, a dinâmica do processo político acabará impondo que ele abra o caminhar do impedimento de Bolsonaro. Se der Arthur Lira (PP-AL), o governo ganha, se não um seguro (na política isso não existe em termos absolutos), pelo menos uma boa margem inicial de manobra para: 1) respirar em meio ao recrudescimento da Covid-19, 2) negociar em condições mais favoráveis a eventual extensão do auxílio emergencial e 3) resistir às múltiplas tentativas de criação de CPIs.

Agora é esperar a contagem dos votos.

* Analista político da FSB Comunicação

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