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Análise do Alon: agruras da política externa

Nesta semana, Alon Feuerwerker fala do atual governo, políticas e relações internacionais

"A boa notícia é as soluções para os tropeços estarem à mão", escreve nosso colunista. (Valter Campanato/EBC./Agência Brasil)

"A boa notícia é as soluções para os tropeços estarem à mão", escreve nosso colunista. (Valter Campanato/EBC./Agência Brasil)

Alon Feuerwerker
Alon Feuerwerker

Analista Político - Colunista Bússola

Publicado em 1 de abril de 2024 às 10h59.

Era previsível, e foi previsto, que o Brasil deste novo mandato petista encontraria algumas encruzilhadas complicadas na política exterior. Resultado principalmente de certa compulsão por protagonismo, mesmo nas situações em que nossa sede por liderar não encontra bases objetivas para pelo menos parecer natural.

Deve-se considerar aqui o compreensível desejo do presidente da República por retomar certo papel pessoal em escala planetária. Um problema nesse particular tem sido a assimetria entre as aspirações de Luiz Inácio Lula da Silva e a capacidade real de o Brasil projetar poder.

No popular, o risco de dar pitaco onde não foi chamado.

Essa assimetria leva o presidente a ficar excessivamente exposto ou, como se diz em linguagem militar, com as linhas mais estendidas do que recomendaria a prudência.

De todo modo, “o Brasil voltou” vem sendo pilar fundamental da política externa deste governo, até num certo paralelismo com o “America is back” de Joe Biden. No caso do vizinho do norte, a materialização do slogan não tem revelado resultados propriamente brilhantes. Afeganistão, Ucrânia e Gaza que o digam.

Óbvio que, ao contrário dos Estados Unidos, o Brasil está isento de ser acusado de provocar a eclosão de qualquer guerra. O problema aqui é outro: o rebatimento para o cenário interno das ações do Itamaraty e de Lula não tem trazido capital político ao governo e ao presidente, ao contrário.

Há, ainda, mais um problema insolúvel nesse aspecto da ação governamental, além da já citada desconexão entre o que o Brasil é o que Lula quer ser: qualquer política exterior que se apresente como fundada em princípios morais a seguir ferreamente revela-se alguma hora contraditória e até hipócrita, ou mesmo farsesca.

O que a enfraquece.

É caso da posição brasileira sobre as eleições na Venezuela. É visível ali que o presidente Nicolás Maduro procura aproximar a vitória eleitoral alijando da disputa os adversários potencialmente mais capazes de derrotá-lo. A suavidade e o cuidado do Brasil diante disso trazem rachaduras na tese de que, por aqui, a aliança entre governo Lula e STF em defesa da legitimidade do processo eleitoral vem sendo o alicerce da defesa da democracia.

A propósito de Gaza, as declarações de Lula que parecem contribuir para alguma erosão na popularidade governamental vêm sendo explicadas a posteriori pela indignação do presidente diante do sofrimento humano ali. O problema é essa indignação só aparecer em algumas situações politicamente convenientes, quando o lado a acusar não inclui companheiros de viagem.

Uma seletividade que tira força do argumento.

A boa notícia é as soluções para os tropeços estarem à mão. O assunto Venezuela poderia ser facilmente contornado se o Brasil se limitasse a dizer que as eleições ali são assunto interno e que vamos nos relacionar com qualquer governo eleito pelos venezuelanos. A velha ferramenta do respeito à autodeterminação dos povos.

Bandeira que já foi popular entre a esquerda.

O problema? Se o princípio vale para as relações com a Venezuela, deveria valer também para a Argentina de Javier Milei. E para muitos outros casos. Até porque governante e comentarista de política internacional são atividades bem distintas, que não se confundem.

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