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Ana Arsky: invisibilidade social nas corporações

O ESG nas empresas é um movimento que deve começar de dentro para fora

As três letras de ESG não funcionam uma sem a outra (SDI Productions/Getty Images)

As três letras de ESG não funcionam uma sem a outra (SDI Productions/Getty Images)

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Publicado em 7 de dezembro de 2022 às 16h45.

Última atualização em 7 de dezembro de 2022 às 16h52.

Sabe aquela sensação de que você vai trabalhar num lugar onde te dão bom dia, boa tarde, agradecem e elogiam o seu trabalho, mas os dias parecem ser todos iguais? A cabeça está cheia de ideias e o coração cheio de vontade, mas os anos passam e as pessoas estão sempre no mesmo lugar.

A oportunidade de trabalhar em grandes corporações, através da 4 Hábitos, me trouxe uma riqueza sem fim de aprendizados. O maior deles, sem dúvida, é a minha admiração de como empresas tão gigantes conseguem funcionar e crescer com tantas pessoas, departamentos, áreas e produtos. A outra oportunidade tem sido conhecer pessoas, histórias, culturas e realidades tão diferentes reunidas em um mesmo lugar e contribuindo para um só propósito.

Conheci líderes que chamam todos pelo nome, estratégias de gestão de pessoas, processos ágeis, projetos de inovação, desafios. Enfim, é um universo encantador, e também com muitos pontos escuros, muitas vezes no corta-luz da visão dos gestores.

Pode parecer estranho uma CEO da startup de resíduos falando sobre pessoas, mas afinal, quem gera esses resíduos mesmo? Se pararmos para refletir, veremos que somos o único ser vivo da natureza que gera resíduo. Então, para termos menos desperdício, menos áreas contaminadas e menos emissões de gases de efeito estufa, precisamos, obrigatoriamente, voltar o nosso olhar para o indivíduo.

Quem me conhece sabe como sou apaixonada pelo ser humano. Quando olho para alguém, procuro buscar dentro dele toda a sua história e despertar suas potencialidades. Falamos tanto sobre igualdade, mas vamos lá, será que ela é realmente praticada dentro de si? Nossas atitudes refletem isso? Provoco essa reflexão porque, no final das contas, a distinção, a escolha sobre A ou B vem de uma tomada de decisão interna de quem está naquela posição em determinado momento.

Vamos dar um exemplo simples? Se o CEO da empresa pede um abraço ao diretor porque está feliz e quer comemorar, ou até porque está vulnerável e precisa de apoio, eu tenho certeza absoluta que este abraço não será negado. Mas, e se por acaso o ascensorista, ou o auxiliar de limpeza demanda a mesma necessidade, ele é atendido? Será que este colaborador tem o direito de ter essa necessidade ou que ela é percebida e acolhida?

Vejo com frequência convivências harmônicas e trabalhos elogiados, em contrapartida talentos ofuscados por hierarquia e falta de equidade nas corporações, visto que, ainda há uma assimetria muito grande de oportunidades dentro das próprias empresas. Vejo funcionários ou até colaboradores terceirizados que estão há oito, 13 anos na empresa fazendo o mesmo serviço de limpeza enquanto em outra ponta o setor de RH está em constante contratação.

Será que o auxiliar de limpeza só é bom nisso? Eu acredito que não! Tenho aprendido tanto com catadores, carregadores, operadores de manutenção…, que vejo esse potencial, e a vontade latente de fazer mais pela empresa que serve. Servir mais. Elas só precisam de uma coisa: sair da invisibilidade e receber a oportunidade.

Aprendemos isso na primeira empresa que abriu as portas para a 4H. Praticamente toda a diretoria de hoje passou por todos os setores. É uma cultura familiar que a própria segunda geração fez parte desse processo. Todos entram como serviços gerais e a partir daí vão subindo de acordo com suas habilidades e potencialidades e a oportunidade de estudo e capacitação para subir na empresa lhes é concedida. A 4H trouxe um tempero a mais para esse lugar quando começamos a ouvir relatos de funcionários que contribuem para o trabalho dos que fazem compostagem e horta e levam resíduos para serem plantados. E que, quando o funcionário deixa o seu posto para ser promovido, ele ensina o próximo a fazer a gestão.

Quando falamos de ESG nas empresas, falamos de um movimento que deve começar de dentro para fora. E, S e G são interdependentes. Uma vertical não funciona sem a outra. O social não deve ser confundido com caridade ou assistencialismo, mas considerado um pilar para a equidade e oportunidade. Para subir de um lugar para o outro, o colaborador precisa  ser capacitado, claro, mas a maior potência de todo esse movimento está em terem acreditado e investido nele. Essa confiança é tudo o que o ser humano precisa para dar um passo a mais, subir um degrau e evoluir.

Por fim, pude notar também uma maioria esmagadora de pessoas pretas e pardas em cargos de serviços gerais e, com raras exceções, em posições de liderança. Quando as raças estão setorizadas e hierarquizadas, não vejo como a diversidade pode contribuir se essas pessoas não possuem poder de fala e de decisão nas organizações. Na urgência de resgatar a humanidade de sua própria ignorância, olhar para outras raças, credos e gêneros, escutando-os ativamente, parece ser o caminho mais rápido e eficaz para a cura.

Essa é a transformação que o mundo precisa para evoluirmos na velocidade que precisamos e encarar os desafios que estão aparecendo em tamanho e volume exponenciais. O ESG não veio para melhorar os negócios. Ele veio para mudar o mundo.

*Ana Arsky é CEO e fundadora da 4 Hábitos

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