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América Latina continua sendo chave para investimentos e negócios

Maré permanece atrativa para negócios na região, mesmo que a disponibilidade de recursos esteja menor no segundo semestre em meio à 'nova realidade'

Intercâmbio cruzado entre os países favorece região (Richard Drury/Getty Images)

Intercâmbio cruzado entre os países favorece região (Richard Drury/Getty Images)

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Publicado em 16 de setembro de 2022 às 17h30.

Por Christel Moreno* 

Entre os mercados emergentes, a América Latina é vista como um dos mais promissores do mundo, principalmente em termos de inovação e empreendedorismo. A região oferece grandes oportunidades, principalmente no médio e longo prazo. As tendências que são importantes para o sucesso das startups – adoção de tecnologia, oportunidades internacionais e disponibilidade de capital de risco – já são fortes e vêm crescendo com consistência. Além disso, a tecnologia tem o potencial de enfrentar muitos dos desafios econômicos e de negócios que as indústrias da América Latina estão enfrentando. 

É justamente onde a experiência de mercado é necessária para enxergar o caminho dos investimentos em venture capital, com o propósito de ajudar as empresas e buscar essas oportunidades de investimentos e fechar negócios. O que estamos vendo é um reajuste de capital, uma desaceleração das chamadas mega-rodadas – que concentraram principalmente investimentos significativos em poucas empresas – e uma visão focada na rentabilidade como prioridade. 

Segundo levantamento da plataforma de inovação Distrito, investidores não-residentes participaram de 39% das 238 rodadas de investimentos em startups brasileiras de janeiro a abril, ante 33% no mesmo período do ano passado. Ainda de acordo com o estudo, em 2021 as startups brasileiras receberam US$ 9,4 bilhões em investimentos, um recorde que impulsionou a valorização dessas empresas. O ritmo da atividade de venture capital em 2022 diminuiu em relação ao final de 2021. Em outros mercados, incluindo os EUA, o recorde de volume de negócios de 2021 foi um pico e não a norma. No entanto, a América Latina também tem um histórico cauteloso de ciclos econômicos de alta e baixa. 

Nós atuamos na região há mais de 16 anos, desde 2006, e vimos vários ciclos de negócios. Os empreendedores da região mostraram sua resiliência ao longo desses ciclos. Nesse ambiente favorável aos investidores, os investidores com grande capacidade financeira têm maior probabilidade de se concentrar em empresas em estágio inicial. Os empreendedores que entendem que é preciso paciência para obter lucro, aliado a uma estrutura bem organizada e um bom plano de negócios, continuarão a prosperar e conseguirão levantar capital, seja em rodadas sementes até série C ou uma saída. 

É sabido que os empreendedores em mercados emergentes têm uma capacidade inata de fazer mais com menos recursos e têm uma mentalidade mais pragmática que leva a modelos de negócios resilientes e duradouros. A América Latina atende a todos esses requisitos e, mesmo diante da incerteza do mercado, verticais como as fintechs continuam prosperando na região, que passa por uma crescente bancarização, principalmente no Brasil. Além disso, poucos mercados estão mais preparados para capitalizar os benefícios da Web3 do que a América Latina. Há uma enorme oportunidade de construir uma empresa interessante e disruptiva que atrairá investidores nacionais e internacionais. 

Outra tendência que favorece a região é o crescente intercâmbio cruzado entre os países da América Latina, não apenas entre as nações de língua espanhola. Há chilenos indo para o México para iniciar suas empresas ou colombianos expandindo para o Peru. Você também tem o Brasil figurando cada vez mais no plano de negócios de cada empresa, dado o tamanho e força do seu mercado. Os empresários de língua espanhola estão muito menos intimidados do que antes em buscar oportunidades de negócios no Brasil. Há dez anos atrás, eles poderiam ter ressalvas em relação à diferença de idioma, cultura e regulação. Mas agora estão superando esses obstáculos e lançando negócios no Brasil que começaram no México ou em outros mercados de língua espanhola. 

A combinação de sólidos fundamentos de investimento e um círculo crescente de fortes parceiros de venture capital locais e internacionais permitirá que a América Latina supere os desafios atuais e permaneça viável como um destino de longo prazo para investidores internacionais. E ter parceiros na região que sejam consultores  objetivos e informados, e que saibam  navegar pelas oportunidades internacionais, é um ativo muito valioso. O Brasil e a região têm um grande potencial para empresas que buscam rodadas Série A de investidores internacionais, e essas oportunidades precisam estar no radar de todos para enfrentar essa maré nesse momento.

*Christel Moreno é advogada especialista em startups e venture capital, cofundadora do escritório de São Paulo e sócia corporativa na Gunderson Dettmer Advogados  

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