Jair Bolsonaro e Paulo Guede: Períodos de inflação alta acabam favorecendo o ambiente para uma troca de guarda (Marcos Corrêa/PR/Flickr)
Bússola
Publicado em 27 de junho de 2022 às 15h23.
Última atualização em 27 de junho de 2022 às 15h34.
Todos os levantamentos apontam que a economia é e será a principal preocupação do eleitor nestes pouco mais de três meses que restam para o primeiro turno. Por “economia” leia-se “inflação”, até porque a atividade e o emprego mostram algum fôlego.
O que está pegando mesmo são os preços. O problema é global em boa medida, mas isso não resolve o sufoco da dona Maria e do seu João na hora de encarar as compras no mercado.
Toda eleição traz o tema do “mercado”, mas quando a expressão entra em debate o foco da pauta costuma ser o mercado financeiro. Não para a massa, em particular quando a alta dos preços queima aceleradamente o poder aquisitivo. Quando o salário ou a renda não alcançam o final do mês.
A inflação derrotou a Arena de Ernesto Geisel em 1974 após um ciclo de crescimento brilhante no Milagre. Depois deu as mãos à estagnação e, com o nome de estagflação, enfraqueceu decisivamente João Figueiredo. E o fez perder o controle da sucessão.
A inflação estava quase derrubando José Sarney quando o Plano Cruzado estabilizou a política e deu ao PMDB uma vitória arrasadora em 1986. A volta da inflação transformou Sarney num pato manco e derrotou em 1989 todos os candidatos mais identificados com a Nova República.
Aí veio Fernando Collor, que dizia ter uma única bala para matar o dragão. A bala falhou. A isso juntaram-se 1) a falta de base parlamentar e 2) o ressentimento dos derrotados na urna. O resultado foi o impeachment.
O vice de Collor, Itamar Franco, sobreviveu na cadeira porque aceitou virar um presidente decorativo e entregar o poder de fato ao ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso. Cujo Plano Real salvou o governo e garantiu a ascensão dele próprio à Presidência em 1994.
As raspas do tacho do Real garantiram também a inédita reeleição de FHC em 1998.
Mas o custo do estelionato eleitoral foi alto. Um segundo mandato medíocre e, em 2002, a perda do poder para o PT. Na campanha, o PSDB dizia que a inflação, já nos dois dígitos, era culpa das incertezas políticas trazidas pelo petismo. Não funcionou.
O eleitor até tem algum interesse em saber de quem é a culpa, mas vai atrás mesmo é de quem ele acha ter melhores condições para resolver o problema.
Luiz Inácio Lula da Silva assumiu e deu logo a pancada. Superávit primário duro e um chute para valer nos juros, para cima. Tirou o oxigênio do dragão e, com programas sociais turbinados, ganhou musculatura para sobreviver aos escândalos, reeleger-se e eleger Dilma Rousseff.
Que vinha confortável, até que na virada de 2012 para 2013 as curvas do PIB e da inflação deram jeito de querer cruzar, a primeira para baixo e a segunda para cima. O mau humor começou a represar, e todo mundo sabe o que aconteceu em junho.
Dilma, como FHC, ainda conseguiu raspar o tacho e reeleger-se, mas, ao contrário do tucano-rei, não tinha um colchão político para atravessar os quatro anos de vacas magras. E veio o segundo impeachment da redemocratização, abrindo o período turbulento que deu em Jair Messias Bolsonaro.
Que topou pela proa com dois anos de pandemia e uma guerra na Europa de consequências planetárias, especialmente na economia. E, para não variar, sofre por estar no comando e ter ele de dar as respostas ao principal problema do povão hoje: a inflação.
Repetindo: o eleitor até tem algum interesse em saber de quem é a culpa, mas vai atrás mesmo é de quem acha ter melhores condições para resolver o problema. Daí que períodos de inflação alta acabem favorecendo o ambiente para uma troca de guarda.
Mas governo é governo e tem os instrumentos para lutar. Se vai saber ou conseguir usar, aí já é outra conversa.
*Alon Feuerwerker é Analista Político da FSB Comunicação
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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