No Brasil, 80% das 169 metas dos 17 ODS estão estagnadas (Galeanu Mihai/Getty Images)
Bússola
Publicado em 2 de setembro de 2021 às 15h31.
Última atualização em 2 de setembro de 2021 às 15h44.
Por Renato Krausz*
Do jeito que as coisas vão, você consegue imaginar um mundo daqui a nove anos sem fome nem pobreza, com água potável e educação de qualidade para todos, onde o amanhecer é lindo e homens e mulheres têm oportunidades iguais, tudo isso sob uma égide de justiça e paz e uma atmosfera capaz de impedir o aquecimento global? Não consegue? Nem eu.
Tirando esse negócio de “lá nesse lugar o amanhecer é lindo”, que peguei da música do Roberto, todo o resto está estipulado pelos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), que definimos em 2015 para atingi-los em 2030 como forma de tirar a Terra da rota do cataclismo.
Desde então, não faltam alertas de que estamos indo mal na empreitada. No Brasil, o Relatório Luz 2021, elaborado por 106 especialistas de 60 organizações, constatou que mais de 80% das 169 metas dos 17 ODS estão estagnadas, em retrocesso ou ameaçadas. E, no resto do mundo, o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) revelou que o planeta está fervendo.
A própria ONU, que criou a Agenda 2030 com seus 193 Estados-membros, reconheceu que o caminho para chegar lá está cheio de percalços. Diante disso, no ano passado, o Pacto Global lançou o documento “Liderança para a Década da Ação”, com intuito de engajar as empresas com mais afinco nessa luta.
Nas reuniões corporativas de hoje, para cada dez menções ao ESG feitas no Zoom e no Teams, existe só uma para os ODS — isso é um chute meu, mas com um fundamento danado, até porque eu passei a morar no Zoom e no Teams.
As duas siglas, ESG e ODS, têm tudo a ver entre si, mas não são a mesma coisa. Vou cometer uma redução simplista, mas a diferença no entusiasmo com uma e outra talvez esteja no fato de que o ESG tem a ver com o dinheiro que entra, e os ODS, com o que sai. Ah, esqueçam isso. Vou reformular: o ESG está ligado aos stakeholders, e os ODS, ao interesse público. Mas ambos deveriam estar na agenda de prioridades das companhias.
O Pacto criou também um projeto mundial chamado Ambição pelos ODS, por meio do qual ajuda empresas a definir metas ambiciosas e a atingi-las. As inscrições para a segunda edição estão abertas até o dia 30 de setembro. O programa dura sete meses, e as companhias saem de um jeito bem diferente de quando entraram. Elas passam a ter prioridades definidas, pilares de atuação e métricas para medir seu desempenho.
A primeira edição ocorreu entre dezembro do ano passado e junho último. Participaram 650 empresas, de 65 países. Juntas, elas somam 1 trilhão de dólares em receita anual e empregam 7,9 milhões de pessoas. A grande maioria (79%) disse que o programa ajudou bastante a encontrar novas maneiras de contribuir com os ODS.
No Brasil, foram 22 empresas, entre elas Energisa, Votorantim e MRV. Ao final, seis delas estabeleceram metas ambiciosas alinhadas ao ODS 5 – igualdade de gênero. Outras seis, ao ODS 13 – ação contra a mudança global do clima. Cinco companhias abraçaram o ODS 6 – água potável e saneamento –, duas investiram no ODS 16 – paz, justiça e instituições eficazes – e uma mirou no 8 – trabalho decente e crescimento econômico.
Essas empresas estão de parabéns. Mas são só 22 num universo de 1.200 que fazem parte da Rede Brasil do Pacto Global. Então vale a pena repetir o que foi dito antes: as inscrições para a segunda edição do projeto Ambição pelos ODS vão até o final do mês. E não esqueçamos que 2030 está logo ali.
*Renato Krausz é sócio-diretor da Loures Comunicação
**Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a EXAME. O texto não reflete necessariamente a opinião da EXAME.
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