Tecnologia no campo traz eficiência e melhora a imagem do produtor (Victor Moriyama/Bloomberg //Getty Images)
Bússola
Publicado em 11 de maio de 2022 às 14h40.
Última atualização em 11 de maio de 2022 às 14h50.
Por Gustavo Foz*
A adoção da tecnologia no campo, que cresce em ritmo acelerado a cada ano, tem melhorado não apenas a eficiência na produção mas também a imagem do agronegócio e do agricultor, em particular. Graças à implementação de novas formas de cultivo, colheita e transporte da produção, juntamente com a introdução de tecnologias de organização, planificação e financiamento das propriedades, o setor se distancia cada vez mais das críticas sobre os impactos ambientais da produção.
Desde o compromisso assinado pelo Brasil com a ONU para a redução dos gases de efeito estufa, em 2009, o país reduziu 154% das emissões de CO₂ e metano estipulados para a década de 2020. Um dos maiores responsáveis para essa redução no setor rural, como aponta o estudo Desenvolvimento da agricultura de Baixo Carbono no Brasil, do Instituto de Pesquisa de Econômica Aplicada (Ipea), foi a implementação de novas técnicas de cultivo. A pesquisa ressalva, no entanto, que o Brasil ainda tem muito a caminhar para ser considerado uma verdadeira referência no mercado verde.
Duas siglas e um objetivo
Se à primeira vista o uso de novas ferramentas e a mudança na organização das propriedades tenham ressignificado a forma como produtores e transportadoras lidam com seus objetivos ambientais, foi a renovação do mindset entre empresas que deu o passo fundamental para essa evolução, baseada em duas siglas: ESG e ODS. A primeira, velha conhecida de investidores e empreendedores, se refere às boas práticas de meio ambiente, governança e consciência social das empresas e espera movimentar, segundo a Bloomberg, cerca de U$ 53 trilhões, até 2025, em ações relacionadas.
Já os ODS, ou Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, fazem parte de um documento firmado em 2015 no Plenário da ONU com o objetivo de transformar a matriz poluente do desenvolvimento. Assinado por 193 nações-estado, o tratado conta com 17 objetivos, totalizando 169 metas, para criação de um sistema econômico que contemple práticas ecoconscientes em sintonia com medidas sociorresponsáveis. O mais curioso da empreitada é que ela não diz respeito, apenas, a políticas governamentais ou investimentos filantrópicos, segundo estudo realizado pela Tetra Pak, multinacional sueca, cerca de 87% dos consumidores colocam o uso sustentável de recursos como uma das condições para consumir.
Quando falamos do agronegócio, a preocupação com os impactos produzidos é ainda maior. De acordo um estudo da PwC, modelos de negócios baseados no agro brasileiro devem, em média, crescer 20% até 2030. Isso significa que haverá uma maior demanda de energia elétrica (40%), água (50%) e de expansão na cadeia de alimentos (35%) a fim de suprir a amplificação da atividade. Logo, os desafios da próxima década não serão somente a introdução de novas práticas ecológicas e sociais, mas sim, a aplicação diária desses conceitos no planejamento e estruturação de negócios.
Boas práticas, técnicas exigentes e tecnologias transformadoras
Popularmente conhecida como agricultura 4.0, a modalidade reúne um leque de soluções para fazendas e pastos graças à utilização de máquinas automáticas, novos métodos de cultivo, aplicação de drones nas propriedades e à chegada de respostas inteligentes a produtores por meio do uso de aplicativos. Seja para planejar o plantio da safra do ano, seja para otimizar os processos de colheita e transporte de mercadorias, essas plataformas vêm transformando o setor agrícola e já alcançam cerca de 60% de todos os produtores do país, de acordo com a oitava pesquisa Hábitos do Produtor Rural, promovida pela Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio.
Um outro dado deixa ainda mais clara a importância da tecnologia no agro em relação ao meio ambiente. Segundo pesquisa do Instituto Millenium em parceria com a consultoria Octahedron Data Experts (ODX), a aplicação dessas tecnologias não apenas traz ganhos de produtividade como também reduz os danos ambientais do agronegócio. Um grande exemplo da sinergia entre pesquisa, tecnologia e aplicação prática é o Projeto Carbono, parceria do Cecafé com a Esalq/USP. Nesse experimento, agrônomos e cafeicultores demonstram que o uso de novas ferramentas e técnicas de cultivo resultou em um café com balanço negativo de CO₂, ou seja, a plantação absorve todo o carbono utilizado em seu plantio.
Como se fosse pouco, o mercado de ESG no agronegócio já movimenta mais U$ 10 bilhões lastreados na venda de títulos verdes, um terço de toda a fatia do ecossistema de transações na América Latina, segundo estudo realizado Climate Bonds Initiative em 2021. O que simboliza a importância da adoção da mentalidade para saúde do setor e o bem-estar do desenvolvimento do planeta no longo prazo. A verdadeira revolução agrícola não será fomentada por grandes máquinas, novas formas de produção de alimentos, nem o uso da tecnologia de ponta em nosso dia a dia, mas sim pela herança que toda cadeia produtiva irá deixar para as futuras gerações.
*Gustavo Foz é CEO e cofundador da Culttivo, startup que garante financiamento 100% online para produtores de café em um prazo muito menor que os bancos tradicionais.
Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube
Veja também
Como o 5G pode viabilizar o futuro da indústria?
Três aplicações de data science que mudam os negócios de verdade no Brasil
Grupo Pereira vai converter todas as lojas da rede para energia renovável