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Aché investe em projetos de inovação com insumos da flora brasileira

Em entrevista à Bússola, a presidente do laboratório conta como investimentos em plataformas inovadoras podem ajudar por novas soluções de saúde

Empresa busca fomentar tratamentos médicos e benefícios que promovam conservação ambiental e desenvolvimento social. (Enrique Castro-Mendivil/Reuters)

Empresa busca fomentar tratamentos médicos e benefícios que promovam conservação ambiental e desenvolvimento social. (Enrique Castro-Mendivil/Reuters)

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Publicado em 8 de novembro de 2021 às 17h01.

Última atualização em 17 de novembro de 2021 às 11h34.

Alinhado ao conceito de ESG, o Aché vem reforçando seus investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação de produtos a partir de plataformas focadas na biodiversidade brasileira, que é a mais rica e diversa do mundo, abrigando mais de 20% do total de espécies do planeta.

A empresa mantém a Bioprospera, entre outros projetos de inovação a partir de insumos da flora brasileira, para fomentar tratamentos médicos e benefícios que promovam conservação ambiental e desenvolvimento social.

A presidente do laboratório, Vânia Machado, conta para a Bússola como os aprofundamentos científicos e o auxílio da tecnologia em plataformas inovadoras podem auxiliar na busca por novas soluções de saúde.

Bússola: Quando a Bioprospera foi lançada e que tipo de inovação produz?

Vânia Machado: Lançada em 2018, a Bioprospera é uma das principais plataformas de inovação do Aché, com o objetivo de descobrir e desenvolver medicamentos inovadores a partir de fontes naturais, em especial da biodiversidade brasileira, que é a maior e mais diversa do mundo.

Seguindo os princípios de ESG, o objetivo da plataforma é o de entregar não apenas tratamentos, mas também compartilhar benefícios que promovam conservação ambiental e desenvolvimento social, criando valor a partir da biodiversidade brasileira.

O Brasil possui aproximadamente 22% da biodiversidade vegetal do planeta, além de um rico conhecimento etnobotânico. A plataforma é baseada em duas abordagens para descobrir moléculas e extratos naturais ativos: (i) Etnofarmacologia, que desvenda os efeitos farmacológicos e toxicológicos descritos para plantas medicinais por meio da aplicação de técnicas bioanalíticas sistemáticas; e (ii) Bioprospecção, que começa com expedições e coletas de amostras de diferentes biomas.

Após a expansão do Laboratório de Design e Síntese Molecular, em 2019, tivemos a criação de uma área analítica dedicada ao laboratório, conferindo mais agilidade à caracterização das estruturas químicas sintetizadas no laboratório. Em 2020, o Laboratório de Design e Síntese Molecular apoiou a plataforma Bioprospera na execução de análises de extrato, frações, isolamento de produtos naturais, etc.

Bússola: Que tipo de medicamentos inovadores são desenvolvidos nessas plataformas?

Vânia Machado: A plataforma Bioprospera já entregou um case de sucesso, um medicamento anti-inflamatório tópico contendo o óleo essencial de Cordia verbenacea, que foi o primeiro produto farmacêutico inovador 100% brasileiro, totalmente desenvolvido no Brasil. Com base no legado deste produto, a plataforma Bioprospera produziu o que poderá ser outro case de sucesso: uma terapia experimental oral, contendo um extrato vegetal inovador, para tratamento do vitiligo, que acaba de obter aprovação inédita do FDA para iniciar estudo clínico de Fase dois em pacientes nos Estados Unidos.

Estes são exemplos de como informações secundárias de conhecimento sociocultural sobre plantas medicinais podem ser transformadas em produtos inovadores, patenteados em nível global, que tem o potencial de impactar positivamente a vida de milhões de pacientes, além de mostrar como a maior biodiversidade do mundo pode posicionar o Brasil como um player global de P&D de novos medicamentos.

Além dos recursos naturais, o ecossistema do país conta com conhecimento científico e legislação avançada, e com o Aché, um laboratório farmacêutico brasileiro que está assumindo um forte compromisso com a inovação ao longo dos anos.

A plataforma tem, ainda, parcerias com o consórcio global de genômica estrutural — o Structural Genomics Consortium —, em um modelo de inovação aberta, e com o A.C. Camargo Cancer Center. Essas parcerias são estratégicas nos esforços para desenvolver medicamentos oncológicos.

Bússola: Que públicos podem ser beneficiados por esses medicamentos?

Vânia Machado: Os medicamentos inovadores desenvolvidos nas plataformas do Aché são destinados a atender as expectativas médicas e as necessidades dos consumidores, nos mercados nacional e internacional, a exemplo da exportação que realizamos de Acheflan. Portanto, todos os pacientes englobados nas diversas patologias em pesquisa pelo Aché são o público-alvo dessas inovações.

Bússola: Dê alguns exemplos de fontes naturais ligadas à biodiversidade brasileira que são utilizadas para desenvolver medicamentos.

Vânia Machado: Produtos naturais são historicamente uma importante fonte de medicamentos, sejam eles encontrados em plantas terrestres e marinhas, fungos e outras fontes.

O ácido acetilsalicílico (aspirina) é um anti-inflamatório obtido originalmente da casca do salgueiro; morfina, um potente analgésico, é isolada da planta Papapver somniferum; já a pilocarpina, isolada do nosso jaborandi, é usada para tratamento do glaucoma e xerostomia (boca seca), um efeito adverso muito indesejável da radioterapia em pacientes com câncer de cabeça e pescoço. E, também, a penicilina, um antibiótico derivado do fungo Penicillium notatum, é uma das maiores revoluções da medicina.

Hoje, graças ao avanço recente da tecnologia e sensibilidade da instrumentação analítica, é possível ter maior velocidade e assertividade na identificação de moléculas bioativas em misturas complexas, como extratos e frações. Esse fato, associado a baixa exploração da biodiversidade mundial, gera uma grande oportunidade para um movimento “renascentista” de renovado compromisso com a pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos a partir de produtos naturais.

A plataforma mantém parcerias com a Phytobios e com o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), onde se encontra o acelerador de partículas de quarta geração (Sirius) na frente de Bioprospecção. Esse equipamento científico é o maior do Brasil e um dos maiores do mundo, de extrema importância para a caracterização de moléculas naturais bioativas.

Bússola: Quais são os projetos que podem vir desta plataforma?

Vânia Machado: São hoje cinco projetos na área de dermatologia, para as indicações acne, alopecia, vitiligo e envelhecimento, há ainda um projeto destinado ao tratamento da obesidade, e um projeto na área oncológica.

Bússola: Em que sentido os projetos da Bioprospera estão alinhados ao ESG?

Vânia Machado: Como fundamentos essenciais da plataforma Bioprospera, os projetos respeitam o compartilhamento justo e equitativo dos benefícios decorrentes da utilização da biodiversidade, alinhada à Convenção sobre Diversidade Biológica, e reconhecem a interrelação entre os recursos genéticos e os conhecimentos tradicionais, sua natureza indissociável para as comunidades indígenas e locais; fortalecem as economias e comunidades locais, ajudam os pequenos agricultores regionais, preservam os espaços abertos, beneficiam o meio ambiente e ajudam a garantir que as fazendas comunitárias ainda existam amanhã. Promovem a consciência pública sobre o valor econômico dos ecossistemas e da biodiversidade como um incentivo fundamental para a conservação da diversidade biológica e o uso sustentável de seus componentes.

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