Uma empresa tenta fazer como criança sapeca e enganar o Papai Noel pelo comportamento. (Digital Vision/Thinkstock)
Bússola
Publicado em 9 de dezembro de 2021 às 08h00.
Por Renato Krausz*
É muito engraçado ler cartinhas de crianças levadas tentando dar nó em pingo d’água para convencer Papai Noel de que foram boas meninas e bons meninos durante o ano todo. A questão é que uma criança tem todo o direito de ser sapeca.
O problema é quando uma empresa tenta fazer a mesma coisa. Fontes da #BússolaESG na Lapônia localizaram essa cartinha abaixo.**
Querido Papai Noel
Este ano eu fui uma companhia muito boazinha e acho que mereço um bom presente. Fui obediente a quase todas as leis do meu país e tratei bem meus stakeholders, principalmente os acionistas. Também procurei ser legal com os fornecedores, mas precisei manter o prazo de 90 dias que inventei para pagá-los, porque, sabe como é, eu preciso fazer caixa. O senhor precisa vir aqui ver uma coisa: meus funcionários me amam, vestem a minha camisa e gritam urra! Pena que ainda tenham piripaques por minha causa.
Eu juro que procurei aumentar a diversidade em meus quadros e até fiz um post no Facebook para celebrar o Dia da Consciência Negra. Mas na vida real isso é muito difícil. Acabei o ano com uma só mulher no conselho, aquela prima de Miami do meu controlador, e nenhum negro na diretoria. Tenha paciência, Papai Noel, essas coisas não mudam do dia para a noite.
Além de paciência, tenha também pena de mim, porque continuo sendo muito injustiçada neste mundo. Tentei entrar para o ISE da B3 e nada! Inscrevi-me no guia “Melhores do ESG” da Exame e nem thcum. Busquei uma nota melhor no CDP de mudanças climáticas, mas continuei com um modesto F. Cobicei muito uma certificação no Sistema B, mas disseram que isso não tinha nada a ver comigo. No fim das contas passou mais um ano e não consegui nadica de nada. O que seria de mim se o senhor não existisse, Papai Noel?
Até marquei uma conversa com uma consultoria de ESG para finalmente fazer minha matriz de materialidade, seja lá o que for isso, mas ela queria me cobrar por isso e não aceitava permuta. Fiquei sem saber qual é minha pegada de carbono, o que pensando bem foi até bom, pois tem coisas que é melhor nem saber mesmo. Tomei uma decisão: peguei esse dinheiro e investi tudinho em publicidade, porque se eu não falar bem de mim mesma, quem vai falar. Quem?
Papai Noel, eu trabalhei duro este ano. Meus competidores morrem de inveja e sempre me chamam de anticompetitiva. Não bastasse isso, a Receita não sai do meu pé. É muito sofrimento. Então gostaria muito que o senhor reconhecesse os meus esforços e me desse um bom presente. Meu sonho é ser admirada e ter uma reputação ilibada. Se não for possível, prefiro que meu lucro triplique. Conto com o senhor. Afinal, o ESG está no meu DNA.
**Isso é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência e muita cara de pau.
*Renato Krausz é sócio-diretor da Loures Comunicação
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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