Nova economia traz desafios para o valuation tradicional (Luis Alvarez/Getty Images)
Bússola
Publicado em 25 de junho de 2021 às 17h01.
Por Leonardo Brasil*
Pequenas e médias empresas ainda constituem a maior fatia do ecossistema empresarial brasileiro. Muito em decorrência da pandemia, que estimulou o empreendedorismo por necessidade, mais de 4 milhões de PMEs foram abertas em 2020 e já são mais de 1 milhão registradas entre janeiro e abril deste ano (dados do Sebrae).
Por outro lado, sabe-se que esses negócios são os que fecham as portas mais cedo. Segundo o Sebrae, três em cada 10 MEIs sobrevivem até cinco anos, com taxa de mortalidade de 29%, seguidos das microempresas (21,6%) e as de pequeno porte (17%).
Nesse cenário, um dos grandes desafios encontrados por novos negócios no mercado brasileiro é a ausência de investimento, fator muito relevante para empresas de segmentos como os de tecnologia e inovação, que também abrange startups – atualmente, o país conta com mais de 13 mil delas abertas. No entanto, segundo um estudo da ABStartups, quase 74% delas nunca receberam nenhum tipo de captação, embora não faltem investidores.
Qual seria o problema então? Há cerca de dois anos, eu e meu sócio Leonardo Machado lançamos uma plataforma educacional para empreendedores novatos. Levou pouco tempo para percebermos uma demanda latente das PMEs e startups: a falta de conhecimento sobre o valor de seu negócio, endossado pela dificuldade de acesso ao serviço de valuation (relatório de avaliação). Foi essa percepção que nos levou à fundação da StartupHero, em novembro de 2020.
Um erro muito comum identificado no decorrer de nossa experiência é o de empreendedores que supervalorizam ou, ao contrário, desvalorizam demais o seu negócio em relação a um preço justo para os investidores. Valores muito acima do considerado ideal tornam-se pouco atrativos; já quando estão muito abaixo, aumentam o risco do empresário de perder uma fatia considerável da empresa para o mercado.
É nisso que mora a relevância do relatório de avaliação: ele leva diversos fatores em consideração para estimar o preço justo de um empreendimento, desde histórico financeiro até perspectivas futuras de crescimento, conferindo segurança para a negociação com investidores.
Durante muito tempo, o valuation foi um serviço praticamente restrito a grandes empresas em processos de fusão ou aquisição e oferecido por consultorias e bancos tradicionais de M&A a preços altíssimos – média de R$ 5 mil a R$ 20 mil por avaliação. Assim, pequenos negócios sempre ficaram em desvantagem. Com a nova economia, isso precisou mudar para atender à diversificação de setores do mercado.
Ao mesmo tempo, o avanço do setor fez surgir empresas que apostam em serviços automatizados de valuation, que começaram a pecar na qualidade. Esse modelo é passível de distorções e erros, já que substitui a visão de um analista que aplica mais de uma das diversas técnicas reconhecidas pelo mercado, como o fluxo de caixa descontado, a abordagem de múltiplos, o venture capital method e o first Chicago method.
Na StartupHero encontramos o ponto de equilíbrio entre essas duas dores principais: preço e qualidade. Para atender as milhares de PMEs e startups que precisam calcular seu valor de mercado, democratizamos o serviço de valuation, com inovação e digitalização do atendimento, sem perder o fator humano que também é muito necessário para uma avaliação precisa e justa.
O fato de termos crescido 400% em oito meses de atividade é um bom indicativo de que o mercado de M&A, diferente da maioria dos setores, permaneceu aquecido durante a pandemia. Isso porque multiplicaram-se as vendas de empresas, separação de sócios e a busca por investidores. Além do crescimento, passamos a atender setores da nova economia, que não conseguem encontrar consultorias que entendam como avaliar seu potencial, algo que se tornou outro diferencial.
Um canal de Youtube, por exemplo, tem números tradicionais de faturamento, mas os seguidores ou inscritos influenciam muito em seu modelo de negócio. Esse detalhe é algo que as consultorias tradicionais ainda não conseguem mensurar. O mesmo acontece com outros empreendedores inovadores que vieram até nós, como canais do Spotify, empresas de criptomoedas e até de NFT.
Além do valuation, também passamos a oferecer o serviço de pitch deck otimizado. Trata-se do material de apresentação para investidores que resume a ideia, mercado, resultados e objetivos de uma empresa, fundamental e decisivo para a captação e, por isso, deve ter conteúdo e design caprichados.
Em um momento decisivo para o ecossistema empresarial do Brasil, no qual nos distanciamos – mesmo que lentamente – da pandemia e negócios retomam suas atividades, nosso objetivo é contribuir ao máximo para que os pequenos empreendedores conheçam seu valor real de mercado, a fim de que estatísticas como a apontada pelo Sebrae e a ABStartups sejam reduzidas a cada ano.
*Leonardo Brasil é administrador e cofundador da StartupHero, formado pela UERJ, com MBA em Design Thinking e 11 anos de experiência no mercado financeiro.
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