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Acabou o "boom". De onde vem o dinheiro para as startups agora?

Crowdfunding e investimento anjo passam a ser alternativas para empresas em estágios iniciais, neste momento de desaceleração no ritmo de aportes

Investidores mostram cautela diante do cenário macroeconômico (Foto/Thinkstock)

Investidores mostram cautela diante do cenário macroeconômico (Foto/Thinkstock)

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Publicado em 20 de junho de 2022 às 16h15.

Por Bússola

Após um “boom” de investimentos nos últimos dois anos, as startups brasileiras enfrentam um momento de desaceleração no ritmo de aportes. De janeiro a abril deste ano, foram 235 negócios, totalizando US$ 2,32 bilhões, contra 273 deals (US$ 2,38 bilhões) no mesmo período de 2021, segundo o hub de inovação Distrito. Entre os principais segmentos, apenas as fintechs (startups financeiras) tiveram resultado superior ao do ano passado, impedindo uma queda maior nos números.

Outro levantamento, da consultoria KPMG, mostra que os investimentos em venture capital no país nos primeiros três meses de 2022 caíram 42% pela metade na comparação com o quarto trimestre do ano passado, para US$ 1,5 bilhão.

Os dados refletem a cautela dos investidores frente ao aumento da volatilidade no cenário macroeconômico nacional e global — ainda que parte dos indicadores aponte para uma recuperação da economia após a pandemia de covid-19.

Fatores como a alta da taxa básica de juros, a Guerra na Ucrânia e o cenário inflacionário contribuíram para a “seca” parcial nos aportes. Mas, conforme o sócio-diretor do Grupo IRKO, Eduardo Luque, isso não significa que não haja capital disponível. “A questão é que, ao menos até o resultado das eleições presidenciais, em outubro, teremos aportes mais seletivos”, afirma.

O que deve acontecer, diz, é uma concentração maior de investimentos nas companhias já consolidadas, ou naquelas que oferecem soluções realmente inovadoras e provem ter um crescimento sustentável.

“Quando esse mercado estava aquecido, os empreendedores conseguiam captar grandes quantias porque os investidores tinham recursos e não queriam ficar de fora desse nicho. Agora, com os investimentos mais restritos, os empresários se interessam por startups que realmente revolucionam seu segmento ou que possuem saúde financeira e contábil, demonstrando serem sustentáveis”, diz Luque.

Diante da escassez, parte das startups terá de procurar alternativas para continuarem a desenvolver seus negócios, para além dos tradicionais modelos de venture capital, private equity e aportes de aceleradoras.

Entre as opções, segundo o executivo, estão a contratação de dívida diretamente com os bancos, o crescimento com capital próprio, mais lento, durante o período de baixa, e o corporate venture capital — investimentos de grandes empresas em startups que ofereçam serviços ou tecnologia de que necessitem.

Investimento-anjo e crowdfunding

Para empresas em estágios iniciais, que busquem fôlego para testar um novo serviço ou produto, é possível contar com o investimento-anjo — recursos de pessoas físicas aplicados nas startups. Em 2020, eles chegaram a R$ 856 milhões, segundo mapeamento feito pela Anjos do Brasil. Para 2021, as estimativas é que tenham superado a marca de R$ 1 bilhão — os dados, contudo, ainda não foram divulgados.

“Esse  aporte ganhou mais tração após o Marco Legal das Startups, aprovado em 2021, que regulamentou o investimento-anjo”, afirma Eduardo Luque. “Com isso e o arrefecimento da pandemia, pode ser uma opção para algumas iniciativas — embora representem, claro, um volume bem menor do que os investimentos tradicionais.”

Vale lembrar que o papel do investidor-anjo é fundamental nas primeiras rodadas de investimento, pois viabilizam os testes e a implementação do serviço ou produto oferecido. Entretanto, esse é só o primeiro passo e as startups dependem de outros investimentos para continuar operando.

Então, o importante é que o empreendedor tenha em mente que a saúde financeira, contábil, fiscal e a adoção de boas práticas, como governança, são essenciais para se destacar na hora de captar recursos.

Outra saída possível neste cenário desafiador é o equity crowdfunding. Trata-se de um financiamento coletivo — regulamentado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e pela Associação Brasileira de Crowdfunding de Investimento — em que os investidores ganham participação societária como contrapartida.

A vantagem é que a startup consegue levantar dinheiro enquanto os investidores aportam um valor menor comparado ao que desembolsariam em outra modalidade de investimento.

“A adesão a esse modelo ainda não é expressiva no Brasil, mas esse cenário está começando a mudar”, diz o sócio do Grupo IRKO. De acordo com dados da CVM, foram captados R$ 188 milhões via crowdfunding de investimentos em 2021, 123% a mais frente ao ano anterior.

Também houve crescimento de 139% no número de investidores na modalidade, de 8.275 em 2020 para 19.797 em 2021. Para estimular ainda mais o modelo, a autarquia alterou recentemente as regras sobre o investimento, que agora está mais abrangente.

O aumento do limite máximo de captação por oferta, por exemplo, foi de R$ 5 milhões para R$ 15 milhões, e o valor máximo da receita bruta anual do emissor, de R$ 10 milhões para R$ 40 milhões. Outra alteração foi o incremento do limite de investimento individual anual dos investidores não qualificados, que dobrou e agora é de R$ 20 mil.

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