A frequência dos eventos climáticos extremos teve um aumento superior a 50% no período recente (Miguel Schincariol/AFP/Getty Images)
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Publicado em 7 de agosto de 2023 às 16h10.
Por George Santoro*
A adaptação da infraestrutura logística de transportes e o desenvolvimento de uma nova metodologia de governança da gestão de crise devido às mudanças do clima são agendas urgentes para os governos nacionais e subnacionais da América Latina e Caribe (ALC). O Brasil e a maioria dos países desta região possuem tantos outros problemas em suas agendas que se tornaram os menos preparados do mundo para lidar com os efeitos das mudanças climáticas e já estão enfrentando um aumento significativo na frequência dos eventos climáticos extremos.
A análise dos dados de um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) revela um aumento um pouco superior a 50% na frequência dos eventos climáticos extremos no período recente, que passaram de 0,2 eventos por ano, entre 1980-2000, para 0,3 eventos, entre 2001 e 2019.
O Brasil também tem enfrentado desafios significativos, pois possui uma vasta extensão territorial, e a infraestrutura de transporte é fundamental para conectar diferentes regiões, impulsionar a economia e promover o desenvolvimento social. No entanto, as mudanças climáticas proporcionaram em 2023 impactos consideráveis na infraestrutura e no sistema de transportes brasileiro. Ocorreram, até o momento, cerca de 200 interrupções em rodovias federais.
Para manter a logística do país funcionando foi necessário melhorar a governança da gestão de crises no Ministério dos Transportes e destinar mais de R$ 500 milhões em recursos em 2023, mas há ainda muito o que melhorar. Entretanto, é importante registrar que o número de intercorrências foi o maior da série histórica. É essencial adotar uma abordagem integrada e sustentável ao enfrentar os desafios das mudanças climáticas em sua infraestrutura de transportes. O engajamento de governos em todos os níveis, setor privado, sociedade civil e comunidades locais em um processo de governança colaborativa é fundamental para alcançar soluções eficazes e resilientes diante dessa realidade complexa.
A malha rodoviária federal e boa parte da malha estadual estão nos piores níveis de conservação dos últimos 10 anos, segundos dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT). Entretanto, a situação é ainda pior se analisarmos a preparação dela para lidar com as mudanças climáticas que estão por vir. Assim, é provável que se tenha um aumento significativo nos danos e custos para a reparação da infraestrutura de transportes, com o aumento da frequência, intensidade e duração dos eventos climáticos extremos.
Além disso, elas podem gerar choques negativos de produtividade na economia do Brasil devido a interrupção de serviços essenciais, como o transporte de carga e passageiros e, como isso, a interrupção ou geração de custos adicionais nas cadeias logísticas dificultando os processos produtivos. Seja pelo desabastecimento de insumos na economia, seja pelas perdas de arrecadação tributária pelo rompimento ou atraso na agregação de valor econômico. O que pode gerar impactos significativos no desempenho do PIB e do déficit público, principalmente em países com renda média alta como o Brasil.
Em um contexto de transição global para economias descarbonizadas. A estabilidade do clima global não comporta os níveis atuais de emissão de carbono na atmosfera e o Brasil precisa intensificar seus esforços para desenvolver programas que promovam uma aceleração nesse processo. Entretanto, isso gera uma dicotomia econômica, pois de um lado a necessidade de participar do esforço global de contenção do processo de degradação ambiental e, de outro, a necessidade de o esforço fiscal do governo diminuir as desigualdades sociais do país e o seu déficit de infraestrutura.
Entretanto, o desafio do país envolve o desenvolvimento de estratégias de adaptação e governança para direcionar o esforço fiscal do país não só para o histórico déficit social do país, mas também para um processo de descarbonização da economia e para a transformação e construção de infraestruturas logísticas mais resilientes e a implementação de sistemas de alerta precoce nas áreas de risco.
*George Santoro é Secretário-executivo do Ministério dos Transportes
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