Evento em Manaus discute conectividade na Amazônia (Bússola/Divulgação)
Bússola
Publicado em 20 de setembro de 2022 às 20h00.
A segurança digital deve ser um dos grandes desafios a serem enfrentados pela tecnologia com a chegada da quinta geração de telefonia móvel, o 5G, segundo Alberto Leite, CEO da FS Security, empresa especializada em soluções de segurança digital. "Será uma das grandes matérias sobre a qual temos que nos debruçar."
Segundo ele, as soluções não são simples e dependem de três pilares: hardware, software e comportamento do usuário. Em entrevista à Bússola, ele fala também sobre o futuro do cloud computing e da Internet das Coisas.
Na próxima quinta, 22 de setembro, ele participa do seminário 5G.br Manaus, promovido pelo Ministério das Comunicações (MCom). Ele será o moderador do painel “5G como acelerador da indústria 4.0”.
O evento, que acontece no Centro de Convenções do Amazonas Vasco Vasques, em Manaus (AM), discute os benefícios da quinta geração de internet móvel e as perspectivas da evolução tecnológica na região amazônica,em especial na indústria e na educação. Para se inscrever, basta preencher um formulário no site do evento.
Bússola: O 5G tem grande impacto nos serviços de cloud computing. Mas, para que esse impacto faça efeito real, é preciso que haja também acessibilidade, ou seja, que a internet esteja disponível para que as pessoas possam usufruir da tecnologia. Como vencer esse desafio em áreas de difícil acesso como na Amazônia?
Alberto Leite: É necessário, sim, que a capilaridade da cobertura avance. Mas quando olhamos para as grandes tecnologias em perspectiva, elas precisam de um tempo de maturação. Há uma teoria que fala dos "6 Ds Framework". O primeiro é a digitalização. O segundo é a decepção, porque as pessoas criam uma expectativa muito grande, e a frustração vem porque a tecnologia não está madura para a aplicação full.
Depois vem a fase da disrupção, quando a tecnologia avança muito rapidamente de uma hora para outra. Depois vem a desmaterialização, quando os processos, as engenhocas físicas por trás do serviço, se tornam full digital. Depois a desmonetização das cadeias ineficientes e, por fim, vem a democratização. Aí sim, voltamos à questão inicial. Chegamos ao momento em que todos podem acessar.
Assim foi com o Google, na questão de busca. Assim foi com o 3G, assim foi com o 4G. O ápice do 4G acabou acontecendo durante a pandemia, com o Zoom, com o streaming, com a telemedicina.
A internet, seja no celular, seja no PC, é hoje a espinha dorsal da economia mundial. Imagine temas básicos como vestir, se conectar com pessoas, mandar mensagens, aulas, saúde, segurança, comércio sem internet. Imagina a interação do mundo e das empresas sem a internet. Não foi assim no início dela, e é assim hoje. Faz parte do processo de amadurecimento.
Mas você tem razão. A tecnologia precisa de capilaridade. Hoje temos só 20 capitais no Brasil hoje com 5G disponível. Até o final do ano todas as capitais estão. E há um cronograma até 2029 em que todas as localidades terão cobertura 5G, mas já até 2025 todas as cidades com mais 500 mil habitantes terão.
Chamo a atenção para o fato de o número de antenas instaladas estar muito acima do que foi previsto acima do edital, provando que a livre concorrência é o melhor remédio.
O cloud computing terá vida feliz como ferramenta de telecomunicações já hoje e estará melhor ainda no futuro e estará nas mãos de centenas de milhares de brasileiros e já dezenas de milhares de brasileiros.
Bússola: Com velocidade alta e baixa latência, a multiconectividade se tornou uma realidade, com dispositivos conectados à rede de forma simultânea. Com relação à segurança da informação, isso implica novos riscos?
Alberto Leite: Esse é um dos dramas dessa pulverização da internet. Na mesma medida que a internet possibilita acesso infinito ao mundo novo, a um mundo velho, a um mundo atual, com milhares de aplicações, traz a problemática da segurança. Será uma das grandes matérias sobre a qual temos que nos debruçar
As soluções não são simples. Passa pela tecnologia. Temos que ter a tecnologia anticrime, com cibertecnologia, para combater. Há uma imensa gama de softwares para seu dispositivo, seu roteador, para a navegação, para orientar se o site é malicioso, para evitar receber spam de e-mail. Aplicações para proteger a rede virtual, para ter conexão mais segura, criptografada ponta a ponta, tecnologia para proteção de mensageria, em servidores, em appliances. Uma infinidade de softwares e hardwares.
O segundo desafio é saber usar isso. Precisa de uma capacidade grande. Precisa ter engenheiros de software de segurança, arquitetos de segurança e analistas de segurança. E comportamento do usuário.
Tudo passa de alguma forma pelo lado comportamental. Existe um livre arbítrio. É preciso haver um processo educacional, para criar senhas, por exemplo. Uma vez que você leva tudo para a internet, é preciso entender as aplicações críticas, as aplicações sensíveis de privacidade, as confidenciais, se preparar para isso e ter uma retaguarda condizente com o que você está guardando.
É um dos grandes desafios da indústria de privacidade, que depende de três fatores: software, hardware e comportamento humano. Precisamos de uma solução de cybersecurity, um processo de educação e um hardware compatível com aquilo que se tem de ativo digital.
Bússola: Uma aplicação do 5G está ligada à Internet das Coisas. A indústria que fabrica equipamentos com tecnologia embarcada, especialmente aqueles de baixo custo, como fechaduras, ou um termômetro para um aquário, por exemplo, está pensando na segurança da rede?
Alberto Leite: Há dois elementos aqui. O primeiro é a minituarização. Os sensores estão ficando muito pequenos e muitos leves. Quando você consegue miniaturizar isso você consegue colocá-los em aplicações. E se esses sensores se conectam a uma velocidade muito grande, você consegue robotizar uma série de processos padronizados.
Imagine você chegando em uma esteira de avião em que as malas com etiquetas digitais se comunicam umas com as outras, passam por raio-X que detectam nomes, peso, destinam para esteira de saída ou para aduana, e indicam para o usuário onde elas estão.
Isso nas fábricas tem um valor imenso, a infinidade de automatização que você vai ter. Para os carros autônomos, os sensores conversam com os postes, as calçadas, com os outros carros.
Estamos diante de uma revolução no trabalho, na forma de morar, na saúde com todas as aplicações do 5G, e na combinação do 5G com outras tecnologias, como a computação quântica. Vamos continuar a nossa vida de ser humano como ela é, mas com processos aperfeiçoados e melhor aplicados.
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