Trata-se de uma oportunidade – e um alerta – para quem ainda não entendeu que sustentabilidade já é critério de investimento (Tirachard/Getty Images)
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Publicado em 7 de outubro de 2025 às 15h00.
Por André Veneziani*
Empresas brasileiras que desejam continuar acessando mercados internacionais e atrair capital sustentável terão, a partir de agora, um novo marco de referência: a Taxonomia Sustentável Brasileira (TSB), aprovada em sua versão final em setembro de 2025.
A TSB é um instrumento regulatório que define critérios técnicos para classificar atividades econômicas como sustentáveis, e já nasce como peça-chave para fortalecer a credibilidade do país na agenda ESG global.
A TSB oferece uma linguagem comum para sustentabilidade, o que ajuda a reduzir o risco de greenwashing e melhora a comparabilidade entre empresas e projetos. Essa padronização é urgente:
Em 2024, o Brasil liderou a América Latina em emissões de títulos sustentáveis, com US$ 11 bilhões em bonds ESG. Uma taxonomia reconhecida internacionalmente fortalece a credibilidade desses instrumentos e pode atrair novos fluxos de financiamento climático.
Do ponto de vista regulatório e reputacional, a TSB também se antecipa às novas exigências do mercado. Pesquisa da EY (2024) mostra que:
Ao estabelecer critérios claros, verificáveis e auditáveis, a TSB responde diretamente a essas demandas, reduzindo riscos de litígios e perdas de valor.
A União Europeia aprovou legislação que obriga empresas a identificar e mitigar riscos socioambientais em suas cadeias produtivas — o que afeta diretamente exportadores brasileiros de carne bovina, soja, madeira, cacau, óleo de palma, entre outros.
Empresas nacionais que não se alinharem à TSB correm o risco de perder contratos, mercados e certificações.
Estudo da Refinitiv e da S&P Brasil ESG (2023) identificou discrepâncias relevantes em notas ESG de grandes empresas brasileiras, o que já provocou perdas de valor em companhias dos setores de bebidas, celulose e aço.
A adoção de métricas padronizadas e auditáveis, como propõe a TSB, pode reverter esse quadro e aumentar a confiança de investidores e reguladores.
Mesmo com aplicação inicial voluntária, a TSB já impõe um novo padrão de transparência e governança. Empresas que se adaptarem desde cedo demonstrarão maturidade ESG, ganhando vantagem competitiva em um ambiente de negócios cada vez mais exigente - tanto por parte de bancos quanto de investidores internacionais.
É verdade que haverá desafios de adaptação, especialmente para as pequenas e médias empresas, que representam 96% do total no país (Sebrae, 2024). Muitas delas terão dificuldade em estruturar sistemas de gestão ESG, contratar auditorias ou alinhar seus fornecedores.
Segundo a CPI (2024), 62% das emissões brasileiras estão ligadas às cadeias indiretas (Scope 3), o que torna o engajamento amplo na taxonomia uma necessidade estratégica.
No cenário internacional, será preciso garantir interoperabilidade com outras taxonomias já em vigor, como a da União Europeia e a da China, para evitar barreiras comerciais.
A exclusão de combustíveis fósseis da taxonomia europeia, por exemplo, pode gerar atritos com setores brasileiros que ainda dependem dessas fontes energéticas.
Como instrumento vivo, ela passará por revisões periódicas, o que demandará resiliência regulatória por parte das empresas. A efetividade da taxonomia dependerá de um sistema robusto de monitoramento, reporte e verificação (MRV), com transparência e credibilidade no processo de auditoria – lição aprendida com a experiência internacional.
A aprovação da TSB não é apenas mais um marco regulatório, é uma sinalização clara de que o Brasil está disposto a disputar protagonismo no mercado de finanças sustentáveis e, ao mesmo tempo, responder à pressão legítima por maior integridade nas práticas ESG.
Trata-se de uma oportunidade – e um alerta – para quem ainda não entendeu que sustentabilidade já é critério de investimento.
*Por André Veneziani é VP Comercial Brasil & Latam da C-More / Francisco Granja, Head of Legal da C-More.