A crise da covid-19 ainda traz consequências para o mercado (uzenzen/Getty Images)
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Publicado em 23 de maio de 2023 às 16h30.
Por Ney Pereira*
O ano de 2023 começou com desafios para algumas empresas do mercado, principalmente no setor de tecnologia. Todavia, o movimento de layoffs, ou seja, demissões em massa, já era percebido desde o último ano, como consequência, principalmente, da crise financeira trazida pela covid-19. Segundo dados da plataforma Layoffs.fyi, no período, foram mapeadas 44 demissões em massa de 38 empresas de tecnologia no Brasil – isso implica, pelo menos, 5,6 mil profissionais dispensados. Ainda que o cenário atual seja preocupante, é cedo para estimar uma previsão para os próximos meses, mas, com a crise global, é possível que mais empresas suspendam contratos em 2023.
Apesar do setor mais impactado ter sido o da tecnologia, segundo dados do IDC Brasil, a área segue aquecida, com previsão de crescimento de 5% no Brasil em 2023, chegando a US$ 80 bilhões. Diante de um cenário de ajuste e redirecionamento de gastos que justificam as demissões em massa, o consumo de tecnologias pelas empresas favorece o setor, e deve crescer 8,7%. A área de telecomunicações, por sua vez, tem um crescimento estimado em 3% pela IDC, relativo à crescente importância da conectividade, principalmente pelo avanço dos sistemas em nuvem e do 5G.
Frente ao panorama de retomada no setor da tecnologia, nós, da 3C Plus, conseguimos surfar contra a maré e registrar um crescimento exponencial de 275% em 2022, faturando mais de R$ 15 milhões. Para 2023, seguimos com uma perspectiva otimista: estamos trabalhando na nossa primeira estratégia de M&A e projetamos faturar R$ 71 milhões. Mas como estamos conseguindo fazer a empresa crescer?
Imagine a seguinte situação: você está em uma casa pegando fogo e há pouco tempo para salvar seus pertences. Tem sua carteira com seus documentos, algo que se você perder, vai levar muito tempo e processos para emitir novos, a última foto impressa com seu avô que já faleceu, e o seu violão, que representa um hobby, algo que você gosta de fazer aos fins de semana. Tentar salvar todos os itens nessa situação é arriscado e você pode sofrer danos muito graves, por isso, você precisa decidir salvar uma coisa só. Nesse contexto é complexo tomar uma decisão e escolher o que levar.
Agora imagine a mesma situação, mas com uma criança no ambiente. Fica muito mais fácil entender o que salvar. A criança vira sua prioridade e todos seus pertences são secundários. E como isso se reflete no empreendedorismo? Para quem empreende, essa metáfora é a relação para entender que nem sempre conseguimos equilibrar todos os pratos, afinal, é impossível resolver todos os problemas ao mesmo tempo. Ao longo da jornada, precisamos ter clareza de quem é a nossa criança: qual problema é prioritário e exige foco e dedicação total para solucionarmos.
Não tem como empreender no Brasil, principalmente num cenário de incertezas econômicas e políticas, sem ter resiliência. Quem empreende precisa estar pronto para adversidades e mudanças repentinas. O empreendedor que não tem habilidade de entender quais são as prioridades, contornar os obstáculos e focar no que importa, dificilmente vai ter sucesso. Basicamente, empreender é matar um leão por dia e resolver problemas. É preciso estar mentalmente preparado, afinal, não há como prever o futuro e esperar algo por vir. Devemos mostrar para nosso time que temos controle da situação, ainda que existam dúvidas sobre como resolver esse problema. A postura que precisamos ter para com os colaboradores exige serenidade para que eles enxerguem em seus líderes segurança e capacidade para enfrentar qualquer desafio.
É impossível construir algo de sucesso sem que todos à sua volta estejam alinhados e entendendo o que está acontecendo. Um dos principais erros que os empreendedores cometem é não deixar o time a par, principalmente dos problemas. Há certo receio em mostrar as vulnerabilidades do negócio e dividir com o time a real situação pela qual a empresa está passando. Claro, é preciso ter discernimento para saber o que falar, nem tudo deve ser compartilhado. Mas, principalmente para os C-levels, é preciso mostrar o momento atual e quais são os desafios a serem superados em cada uma das etapas que estamos vivendo.
Se isso não é feito, as pessoas perdem o senso de propósito e o alinhamento do que está sendo resolvido. Com isso, o empreendedor acaba carregando o piano sozinho, e é uma missão muito árdua e difícil ser bem-sucedida tendo que suportar algo muito pesado sem ajuda. Divida esse fardo deixando todas as pessoas da empresa alinhadas, seja das situações boas, seja das ruins, pois essa é a melhor forma de compartilhar as responsabilidades e também de engajá-las em prol do objetivo que é o mais importante naquele momento
Talvez essa seja a dica mais importante: empresa que quebra não é empresa que não tem produto, é aquela que não vende. Geralmente empreendedores de startups em early stage tem uma visão muito voltada para o produto. Não que isso esteja errado, afinal, vislumbrar o produto como parte do que vai gerar seu crescimento ao longo prazo é um ponto correto. Porém, o que faz uma empresa continuar e prosperar são os clientes. É preciso ter receita, principalmente nesse momento complexo para as startups captarem recursos. Vai sobreviver quem tem a capacidade de converter, ou seja, trazer o cliente para dentro de casa e retê-lo utilizando sua solução. Assim, é possível manter o fluxo de receita dentro da empresa, bem como destinar verba para investimento e crescer ao longo dos anos.
Depois de alcançar algumas conquistas relevantes na empresa, existe um conforto para quem empreende porque muita coisa parece estar a seu favor. Com mais pessoas nos times e mais líderes sênior nas áreas, é comum que o empreendedor se acomode e delegue todas as funções para os colaboradores. Porém as “coisas chatas” importam, como aquelas reuniões que não são legais de participar, tarefas complexas e momentos desafiadores em que você preferiria estar dedicando seu tempo em outra atividade.
Certas coisas não podem ser ignoradas e nem delegadas. Avalie bem quais são as tarefas que você está passando para a frente, perceba se não há algo que você está deixando de lado simplesmente pelo fato de que o momento atual te tornou uma pessoa mais confortável na sua cadeira e, por isso, você entende que não é necessário estar envolvido no dia a dia da empresa, principalmente em demandas mais burocráticas.
*Ney Pereira é CEO da 3C Plus, SaaS para Call Center com discador automático
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