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3ª onda de covid-19: o recado que vem dos Estados Unidos

Fatores como a variante Delta, número alto de adultos não vacinados e queda na efetividade da vacinação na população idosa acendem luz amarela no país

Não há motivo para pensar que no Brasil será diferente dos EUA. (AFP/AFP)

Não há motivo para pensar que no Brasil será diferente dos EUA. (AFP/AFP)

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Publicado em 16 de agosto de 2021 às 18h28.

Por Marcelo Tokarski*

Os Estados Unidos foram um dos países do mundo que mais cedo vacinaram parcela importante da sua população. À medida que a vacinação avançou por lá, o número de casos e mortes despencou, levando à retomada de uma rotina cada vez mais normalizada. Mas, hoje, esses mesmos EUA acenderam uma luz amarela que deve ser observada pelo restante do mundo.

Atualmente, o país norte-americano já registra uma média de 129 mil novos casos de covid-19 por dia, um crescimento de 700% na comparação com o começo de julho. Autoridades sanitárias já alertam para uma média móvel de contágios que deve alcançar nas próximas semanas 200 mil novos casos/dia, mesmo patamar de quando a 2ª onda da pandemia estourou por lá. Muitos estados norte-americanos já regrediram inclusive em medidas de circulação de pessoas e uso de máscaras, por exemplo.

Três fatores são centrais para entender o que está acontecendo. Primeiro, a variante Delta, que é mais contagiosa e, indicam alguns estudos iniciais, “fura” o bloqueio de parte das vacinas. Segundo, o alto número de adultos não vacinados, cerca de 90 milhões de pessoas. Nos Estados Unidos, 60% da população tomaram pelo menos a primeira dose, sendo que 51% já estão imunizados com duas doses ou dose única.

Ou seja, expressivos 40% da população ainda não se vacinaram, mesmo com imunizantes disponíveis em todo o país. Em muitos estados norte-americanos, negacionistas têm se recusado a tomar o imunizante, o que tem desafiado as autoridades que tentam controlar a pandemia no país.

O terceiro fator é a queda na efetividade da vacina entre a população mais velha, que foi vacinada há mais tempo. Esse fenômeno era esperado, mas como ainda há um contingente muito grande de pessoas sem qualquer cobertura vacina, a parcela de pessoas suscetíveis ao vírus volta a ser muito grande, favorecendo o contágio. As autoridades já estudam a adoção da terceira dose, como reforço, para aumentar a proteção dessas pessoas.

E no Brasil?

Mas por que o contexto norte-americano preocupa (ou ao menos deveria preocupar) o Brasil? Primeiro, porque temos uma cobertura vacinal ainda bastante inferior. Por aqui, temos um percentual pouco menor de pessoas com ao menos uma dose (54,3%), mas apenas 23,4% com as duas doses ou dose única. Ou seja, a variante Delta, que já circula amplamente pelo nosso país, tem um exército grande de pessoas sem imunização para contaminar.

Por enquanto, os números mostram que o contágio segue controlado no Brasil. No último domingo, a média móvel de novos casos chegou a 28.347, queda de 23% em duas semanas. O mesmo ocorre com a média de mortes, que recuou 15% em duas semanas e chegou a 844 óbitos/dia, o menor patamar desde 7 de janeiro.

A melhora do cenário e o avanço da vacinação têm levado muita gente a acreditar que a pandemia está totalmente controlada. Mas o recado que vem dos Estados Unidos nos mostra que ainda é cedo, muito cedo, para se acreditar nisso. Lá, um número grande de ainda não imunizados e a flexibilização dos cuidados, aliados ao surgimento da variante Delta, colocaram novamente em risco o controle da covid-19. Não temos muitos motivos para achar que aqui seria diferente.

*Marcelo Tokarski é sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa e da FSB Inteligência

**Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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