João Dornellas, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Divulgação/Divulgação)
Bússola
Publicado em 18 de novembro de 2021 às 15h44.
Por Renato Krausz*
1 - As políticas ESG já dominam a pauta econômica global em todos os setores. Como a indústria de alimentos do Brasil se insere neste contexto?
João Dornellas: A indústria brasileira está comprometida com as ações em favor da sustentabilidade. No setor de alimentos e bebidas, os investimentos em ESG vêm sendo potencializados nos últimos anos. Estimamos que o volume aplicado nessas ações alcançou 0,8% (R$ 6 bilhões) do faturamento médio anual do segmento em 2020. Esse montante equivale a 27% dos investimentos totais da indústria de alimentos (R$ 22,3 bilhões) no mesmo ano. Para 2021, projeta-se um incremento de 20% no volume investido (R$ 7,2 bilhões), o que representará cerca de 1% do faturamento do setor e 30% dos investimentos.
Ainda que estejam em estágios diferentes de maturidade, acreditamos que boa parte das empresas que atuam no Brasil aplica os conceitos de sustentabilidade em seus processos produtivos, seja por exigência dos consumidores, cada vez mais conscientes em suas escolhas, mas também porque se tornaram um critério para atrair investidores e, em última instância, se convertem em redução de custos e contribuem para a boa reputação da indústria brasileira, que é competitiva e, acima de tudo, sustentável. A agenda ESG faz parte da estratégia das empresas e este é um compromisso assumido que puxa o engajamento de toda a cadeia de valor. Não basta ser bom para o negócio, é essencial que a estratégia de competitividade das empresas vise o bem-estar das pessoas e do planeta.
2 – A COP 26 terminou com um acordo que envolverá países e empresas no combate às mudanças climáticas. Qual a contribuição da indústria brasileira de alimentos até aqui?
João Dornellas: A indústria de alimentos compreende perfeitamente que sua sustentabilidade depende intensamente do correto relacionamento com o meio ambiente, não apenas na operação interna, mas também no relacionamento com toda a cadeia produtiva e de distribuição. Essa compreensão é inerente à sua atividade e não depende exclusivamente de compromissos provenientes de acordos ambientais internacionais.
Importante ressaltar que os investimentos em sustentabilidade estão em todas as frentes, desde a redução no uso de recursos naturais, capacitação profissional, projetos sociais para o desenvolvimento das comunidades locais e estratégias de gestão de resíduos. São inúmeras as empresas que vêm reduzindo significativamente o consumo de água, inclusive com ações de tratamento, conscientização, aumento de eficiência e reuso.
A reutilização e destinação correta de resíduos já são objeto de atenção da indústria de alimentos há quase uma década. Além das ações para fazer frente à legislação que instituiu a logística reversa de embalagens (Lei nº 12.305 de 2010, Política Nacional de Resíduos Sólidos — PNRS), incorporamos rapidamente o conceito da economia circular. São exemplos a redução da quantidade de plástico em garrafas de água e de papelão nas caixas de inúmeros produtos; o uso de materiais biodegradáveis; a adoção do plástico verde, feito de etanol; a inclusão de plásticos reciclados; e a eliminação de pacotes com mais de uma embalagem.
Sobre a agenda social, podemos assegurar que o combate ao desperdício e à perda de alimentos é uma das bandeiras da indústria, em total sinergia com o ODS (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável) 12.3 da ONU, que tem como meta reduzir pela metade o desperdício de comida até 2030. Importante observar que o desperdício de alimentos vai além da simples perda de produtos e embalagens, atinge também os recursos humanos empregados no processo, os recursos econômicos e os recursos naturais. É um prejuízo para toda a cadeia, para a sociedade e para o meio ambiente.
Nesse sentido, a Abia propõe a adoção ao “Best Before”, que significa “consumir preferencialmente antes de”. Trata-se de um conceito regulatório que indica um período mínimo em que um produto mantém seu sabor e seu valor nutricional, se armazenado de forma adequada e com a embalagem fechada, podendo ser consumido, portanto, por um tempo superior ao tradicionalmente indicado. O “Best Before” é utilizado pela União Europeia desde 1978, e também foi adotado por países como Noruega, Reino Unido, Canadá e Estados Unidos. O Brasil iniciou recentemente as discussões sobre o tema e estamos trabalhando para contribuir com mais essa frente, sempre focados na segurança do alimento e no respeito aos marcos regulatórios.
3 - O que falta para a produção de alimentos no Brasil ser ainda mais sustentável?
João Dornellas: Responsável por cerca de 10% do faturamento total do PIB, a indústria de alimentos do Brasil se destaca não somente pela força econômica, mas também pela busca constante de aperfeiçoamento em prol da sustentabilidade. Não existe uma única solução, essa é uma jornada que vamos trilhando a cada dia. Muito tem sido feito e temos que valorizar os esforços empreendidos por toda a cadeia.
Somos um dos maiores produtores de alimentos do planeta. Exportamos alimentos industrializados para 190 países, o que, por si só, é uma chancela da qualidade e da responsabilidade com que produzimos comida.
A sustentabilidade faz parte dessa conquista, mas sabemos que a evolução deve ser constante. Por isso, as indústrias seguem trabalhando na redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), na incorporação de iniciativas voltadas para a economia circular, na redução do uso de plástico virgem, no incentivo à agricultura de baixo carbono e no aumento do uso de energia renovável, entre outras medidas. São ações que abrangem toda a cadeia e os resultados corroboram o nosso compromisso com essa pauta.
*Renato Krausz é sócio-diretor da Loures Comunicação
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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