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3 dicas valiosas para acelerar negócios de MPMEs no Brasil em 2023

Companhias devem alinhar complexidade, competitividade e coordenação estratégica à revitalização de sua cultura corporativa

No Brasil, 66% das MPMEs ainda estão no início da jornada virtual (Photo and Co/Getty Images)

No Brasil, 66% das MPMEs ainda estão no início da jornada virtual (Photo and Co/Getty Images)

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Publicado em 18 de outubro de 2022 às 18h00.

Última atualização em 18 de outubro de 2022 às 18h21.

Nos últimos meses, as manchetes dos cadernos econômicos ou suplementos de negócios não falam de outra coisa: a progressiva recuperação financeira do país. No senso comum, a lenta, porém certa, derrubada da taxa de inflação e o crescimento do PIB poderiam sinalizar um longo período de prosperidade econômica. Mas o Brasil sempre foi conhecido por ser um país de paradoxos.

Enquanto um pool de analistas e hub de pesquisadores já trata como certa a saída do país da crise financeira acentuada na pandemia, uma convencida massa crítica formada por médias, pequenas e microempresas (MPMEs) habita uma realidade bem diferente da veiculada por muitos portais, jornais, tevês e rádios Brasil afora, permeada de obstáculos e desafios.

Segundo o Boletim Econômico divulgado em julho pela pesquisa Serasa Experian, no primeiro semestre deste ano o país registrou um aumento de 0,7% no total de MPMEs em situação de inadimplência, chegando à cifra de mais de 5,5 milhões de estabelecimentos com débitos com fornecedores, funcionários ou instâncias de governo. Ainda segundo o levantamento, a tendência é que as dívidas dos negócios aumentem ainda mais até o fim do ano, devido à alta da taxa básica de juro para aquisição de crédito que se somam aos contratempos de planejamento e gestão para 2023.

Dois pesos, duas medidas, três soluções

Não bastassem os juros altos e a falta de um programa mais agressivo de incentivos governamentais diretos para a atividade nos setores de comércio e serviços, que juntos representam mais de 90% dos empreendedores brasileiros (salvo ações pontuais na pandemia, como programas de crédito e parcelamento de tributos), outro complicador apresenta-se para os negócios: a alta do endividamento do consumidor. De acordo com um levantamento realizado pela Confederação Nacional de Comércio e Bens, Serviços e Turismo (CNC), em maio deste ano, os efeitos da pandemia na economia brasileira, grande parte materializada na inflação, corroeram em cerca de 20% o poder de compra do brasileiro, o que significa menos dinheiro para o comércio.

Em outras palavras, a despeito da reabertura completa do comércio após o covid-19 e a consequente retomada gradual dos índices econômicos, sobretudo para MPMEs, ainda levará algum tempo para que empresas desse tipo se enquadrem no novo contexto. Sejam desafios de complexidade burocrática e tributária, sejam os percalços para implementação de negócios voltados para o mundo virtual, essas soluções devem ser pensadas sempre com vistas do aumento da competitividade em vários setores a fim de “capturar” o consumidor cada vez mais reticente em sua jornada de consumo.

Reunidos sob um único pretexto, esses três desafios representam os imperativos de uma transição de negócios para a contemporaneidade, por tanto dialogar com as novas tendências de consumo para clientes em todo o país, quanto abraçar maneiras assertivas de cativar o público. Ademais podemos dizer então que mais do que se adequar ao três “Cs” da transformação empresarial (Complexidade, Competitividade e Coordenação Estratégica), companhias devem alinhar essas mudanças à revitalização de sua cultura corporativa. Sabendo disso, separei três dicas, dentro dos principais parâmetros de aceleração de negócios, para transformar empresas ainda em 2022.

Complexidade

Segundo o último Índice Global de Complexidade Corporativa, elaborado pelo TMF Group em 2021, o Brasil é o líder de complexidade entre os 77 países analisados pelo estudo. De acordo com o levantamento, o país alcançou o pódio da burocracia e do lenga-lenga devido à enorme quantidade de leis, tributos e instâncias administrativas (municipal, estadual e federal) que empresas devem se enquadrar para poder operar em solo nacional. Além disso, o território é campeão de gargalos logísticos e imbróglios jurídicos para empresas de todo tipo. Frente a legislações ultrapassadas e, muitas vezes, até perda da segurança jurídica, qual deve ser a posição tomada por gestores?

Por certo, não podemos simplesmente bater na porta do Congresso ou exigir reformas diretamente para o presidente da Câmara, afinal, o processo de tramitação de leis compreende um caminho oneroso e, muitas vezes, descontinuado. Dessa forma, devemos focar nossos esforços em planejamentos e tomadas de decisões que tenham aplicação imediata dentro de ambientes e processos empresariais. O primeiro passo para a reestruturação de uma marca é fazer um mapeamento dos negócios e ter uma visão 360º sobre seu funcionamento, oportunidades e gargalos dentro da cultura organizacional.

No entanto, sempre é fácil escolher um bom caminho de análise. Hoje existem centenas de métodos disponíveis no mercado para analisar e alavancar o desenvolvimento de empresas. Não obstante e apesar de tantas alternativas que o mercado em lançado, a metodologia SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats) ainda tem a preferência de muitos empreendedores pois esquematiza os pontos fortes, as fraquezas, as oportunidades e ameaças aos negócios de empresa e, a partir desse plano geral do empreendimento, aponta para soluções de médio, curto e longo para prazo, aumentando a velocidade das transformações.

Competitividade

Como falávamos há pouco, o Brasil é, realmente, uma das pátrias mais difíceis para empreender. No entanto, nem toda responsabilidade pode ser creditada à administração pública. Um bom exemplo de como faz falta uma cultura empresarial criativa é a pesquisa sobre a maturidade digital dentro de empresas MPMEs, realizada pela FGV. De acordo com o levantamento deste primeiro semestre, 66% de todas as médias, pequenas e microempresas estão nos estágios iniciais de suas jornadas virtuais, ou seja, utilizam o ambiente digital apenas para, no máximo, conversar com clientes e estabelecer relações com fornecedores, mas estão longe de ter seus negócios baseados em dados, escalas algorítmicas ou qualquer outra ferramenta digital de mais profundidade.

Ainda de acordo com a pesquisa, muitos tomadores de decisões creem que o alto custo para aquisição de tecnologia torna proibitivo o uso dessas soluções. Por certo, o investimento em softwares e ferramentas pode ser um impedimento para vários tipos de negócios, sobretudo, aqueles de menor porte; no entanto, nos últimos anos, o mercado passou a oferecer uma série de aplicações, processos e, até mesmo programas inteiros que possuem versões gratuitas ou baseadas em tecnologia open source (código aberto), que podem muito bem servir de preâmbulo para adaptação de ecossistemas empresariais.

Além disso, a incorporação dessas ferramentas, mesmo com licenças gratuitas, pode se apresentar, a curto e médio prazos, como excelentes estratégias para expandir e conquistar mercados. A exemplo do que mostra a pesquisa Maturidade do Marketing Digital e Vendas no Brasil, neste ano, 94% dos gestores preferem se guiar pelos dados fornecidos por campanhas realizadas no mundo digital do que aquelas originárias de mídias tradicionais (televisão, rádio, jornal impresso).

Coordenação estratégica

A cereja do bolo para sacramentar o uso de boas práticas empresariais em seus negócios também deve estimar a maneira como nos relacionamos e interagimos com as pessoas, sejam elas clientes, fornecedores e, sobretudo, os colaboradores que integram nossas companhias. Não à toa, segundo estudo realizado pela consultoria Gallup, especialistas apontaram que a transparência na maneira de se comunicar entre parceiros e a maneira como discutimos condições de trabalho e até cálculos de renumeração estão entre as principais soluções para não apenas combater o quiet quitting (ou “desistência silenciosa”) brasileiro, como também fidelizam ainda mais nossa marca dentro e fora das dependências empresariais.

Afinal, quando envolvemos equipes, colaboradores e muitas vezes até a figura do cliente no nosso dia a dia, não estamos apenas “vendendo um produto”, mas sim formando uma nova leva de “embaixadores” que transmitirão os valores — tanto bons quanto ruins — de nossas marcas. Dizendo de outra forma, empreender em direção aos valores humanos pode ser traduzido mais do que apenas um punhado de cordialidades no ambiente empresarial e eventuais “benesses” entre consumidores. Mas significa, antes de qualquer coisa, comunicar toda nossa determinação, garra e paixão na maneira como nos relacionamos com os públicos e fazemos de nossa empresa uma marca permanente na pele de quem interagimos: no ambiente virtual, no ecossistema corporativo e, sobretudo, em nosso dia a dia como consumidores.

*Sulivan França é presidente da SLAC – Sociedade Latino-Americana de Coaching.

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