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Zambelli contesta acusações e nega pagamento ao hacker Walter Delgatti em depoimento à CCJ

Processo pode resultar na cassação do mandato da deputada

Agência o Globo
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Publicado em 24 de setembro de 2025 às 12h24.

A deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP) presta depoimento nesta quarta-feira à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, em processo que pode resultar na cassação de seu mandato. Ela participa de forma remota, por videochamada, acompanhada do advogado Fábio Pagnozzi, enquanto segue detida na Itália, à espera da decisão sobre o pedido de extradição para o Brasil.

Defesa de Zambelli e críticas a Alexandre de Moraes

Na fala de defesa, Zambelli voltou a criticar o ministro Alexandre de Moraes e disse acreditar que será solta em breve.

"Eu não estou foragida, estou exilada. Estou em prisão administrativa, não por um crime que cometi aqui na Itália. Respondo a um processo para saber se foi justo ou injusto, assim como a CCJ está fazendo agora. (…) Estou tranquila por saber que em breve não estarei mais presa, estarei em liberdade", afirmou, alegando que o mandado de prisão assinado por Moraes é tratado como “broma” pelas autoridades italianas.

A deputada também acusou o ministro de ter conduzido sozinho sua condenação. A Primeira Turma do STF, no entanto, a condenou por unanimidade.

"Tudo que foi feito fez juiz rir, procurador rir, e me perguntaram (na Itália): “você foi julgada por uma pessoa só?”. Várias coisas ele (Moraes) fez sozinho", disse.

Relatório da Polícia Federal e depoimento de Walter Delgatti

Ao ser questionada sobre relatório da Polícia Federal referente aos seus dispositivos eletrônicos, Zambelli respondeu não se recordar:

"Como estou aqui na prisão há 56 dias, minha memória não alcança. Teria que perguntar ao advogado", afirmou.

Zambelli também contestou o depoimento do hacker Walter Delgatti, com quem se reuniu em 2022. Disse que o encontro teve como único objetivo verificar a segurança das urnas eletrônicas, sobre as quais diz ter desconfiança desde 2013.

"Delgatti falhou com o princípio da verdade quando disse que dormiu na minha casa. Ele nunca dormiu na minha casa, eu não costumo levar gente para minha casa. (…) Eu desde 2013 venho falando das urnas eletrônicas, e alguém que pudesse atestá-las me interessava", disse.

Zambelli nega pagamento de R$ 40 mil ao hacker

Em seguida, voltou a negar ter pago R$ 40 mil ao hacker.

"Dentro do processo está claro que eu não paguei dinheiro nenhum a ele. O único valor que ele teria recebido indiretamente de mim foi R$ 3 mil de uma empresa que fazia a divulgação do meu mandato e o contratou. Eu nunca tive contrato com Walter Delgatti. Tentei dar a ele uma oportunidade de trabalho, mas ele não cumpriu, e por isso não foram pagos os outros R$ 10 mil (para construir o site)", afirmou.

Rito da audiência e a votação na CCJ

O rito da audiência prevê 25 minutos de fala para a deputada, seguidos de inquerições por parte do relator e do advogado. Em seguida, são perguntas dos parlamentares inscritos, com possibilidade de réplica e tréplica. No início da sessão, a deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS) apresentou questão de ordem contra a realização da oitiva, rejeitada pelo presidente da CCJ, Paulo Azi (União-BA).

Zambelli foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal por participação na invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com auxílio de Delgatti. Segundo a acusação, ela buscava adulterar documentos oficiais, incluindo a emissão de um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. Após a condenação, o STF enviou à Câmara o pedido de perda de mandato da deputada.

O caso está sob relatoria do deputado Diego Garcia (Republicanos-PR). A comissão já ouviu Delgatti e o perito Eduardo Tagliaferro, ex-assessor de Moraes no TSE. Agora, é a vez de Zambelli ser escutada antes da apresentação do parecer, que será votado no colegiado e, em seguida, submetido ao plenário da Casa.

Licença de Zambelli e o papel do suplente Coronel Tadeu

Antes do pedido de cassação, a deputada havia tirado licença de 127 dias, concedida pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Sua vaga é ocupada pelo suplente Coronel Tadeu (PL-SP). Detida na Itália, Zambelli aguarda decisão sobre o processo de extradição.

A votação na CCJ marca uma etapa decisiva, mas caberá ao plenário da Câmara dar a palavra final sobre a cassação, que exige maioria absoluta dos deputados.

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