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Yoani Sánchez diz que Brasil é omisso sobre Cuba

Segundo ela, a possível saída de cena do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, favorece uma aproximação de seu país com os Estados Unidos


	Yoani Sánchez é blogueira de Cuba: a dissidente admitiu ter uma posição contraditória quanto à aliança energética entre Cuba e Venezuela.
 (REUTERS/Ueslei Marcelino)

Yoani Sánchez é blogueira de Cuba: a dissidente admitiu ter uma posição contraditória quanto à aliança energética entre Cuba e Venezuela. (REUTERS/Ueslei Marcelino)

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Da Redação

Publicado em 21 de fevereiro de 2013 às 14h15.

São Paulo - A dissidente cubana Yoani Sánchez acusou nesta quinta-feira o Brasil de ser omisso em relação às violações aos direitos humanos em Cuba e disse que a possível saída de cena do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, favorece uma aproximação de seu país com os Estados Unidos.

As declarações foram feitas pela autora do blog "geração Y" e ganhadora de prêmios de jornalismo e de direitos humanos em vários países em um debate organizado pelo jornal "O Estado de São Paulo" na capital paulista.

Yoani elogiou os investimentos realizados pelo Brasil para modernizar o porto cubano de El Mariel, mas declarou que o maior país latino-americano tem que adotar uma posição mais enérgica com Cuba em relação aos direitos humanos.

"Estamos ampliando um porto com ajuda do Brasil. Isso me parece bom, que o Brasil esteja ajudando e apoiando Cuba, mas acho que faltou dureza ou franqueza ao tratar do assunto dos direitos humanos na ilha", disse a dissidente, que, após receber um passaporte que Havana lhe negou durante cinco anos, iniciou na segunda-feira no Brasil uma viagem de 80 dias por vários países da América e da Europa.

"No caso do Brasil, houve muito silêncio. Não sou diplomata, mas recomendaria uma posição mais firme (do governo brasileiro), porque o povo não esquece", acrescentou.

A blogueira disse que o governo cubano realizou recentemente gestos de aproximação com os Estados Unidos por medo de que, ante a possível saída de cena de Chávez, possa perder a aliança energética e financeira com a Venezuela que lhe permite sobreviver.

"Por trás dessa predisposição (ao diálogo com os Estados Unidos) está a preocupação com uma possível saída de cena de Hugo Chávez", afirmou.


A dissidente admitiu ter uma posição contraditória quanto à aliança energética entre Cuba e Venezuela porque ao mesmo tempo que garante luz e combustível para o povo cubano, ela serve para prolongar um regime que de outra forma estaria com os dias contados.

"Por um lado não gosto dos cortes energéticos e que falte combustível, mas por outro lado sei que esse subsídio venezuelano nos ajuda, mas nos obriga a manter o mesmo status quo", declarou.

Yoani admitiu que Raúl Castro está adotando reformas que seriam impensáveis na época de seu irmão, Fidel Castro, mas disse que a repressão continua, embora de forma menos pública.

"Há uma grande diferença (entre Fidel e Raúl Castro). Fidel gosta da repressão como show midiático. Tinha que vê-la. Os dissidentes tinham que ser julgados em tribunais e condenados a longas penas. A repressão de Raúl Castro tenta não deixar marcas legais, que não sejam vistas", afirmou.

Segundo a blogueira, sem uma repressão tão clara, os perseguidos não têm como denunciar que foram vítimas de violações aos direitos humanos.

"Em primeiro lugar, quero dizer que o governo de Raúl Castro tem um pecado original. O pecado original é que não foi eleito. Herdou o poder por via sanguínea, como um reino. O governo do meu país se transfere de um para o outro através de uma árvore genealógica. É algo surpreendentemente absurdo neste século", disse.

Yoani afirmou que as reformas econômicas adotadas por Raúl Castro estão no caminho correto, mas ainda são lentas.


"As reformas seguem a direção correta, rumo à abertura, já que visam flexibilizar e melhorar os padrões de vida dos cubanos, mas têm uma grande limitação, ocorrem em um ritmo muito lento e não tem a profundidade necessária", argumentou.

A ativista política disse que a própria reforma migratória que lhe permitiu enfim obter um passaporte é insuficiente porque ainda não reconhece o direito dos cubanos de entrar ou sair do país.

"Mas é um tipo de reforma que teria sido impensável na época de Fidel Castro, porque Fidel queria ter controlado cada aspecto da vida nacional. Raúl é mais ciente de sua impossibilidade de controlar tudo", afirmou. 

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