Abraham Weintraub: novo líder do MEC falar em acalmar os ânimos e respeitar opiniões na pasta (Valter Campanato/Agência Brasil)
Reuters
Publicado em 9 de abril de 2019 às 15h32.
Última atualização em 9 de abril de 2019 às 17h15.
Brasília — O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira que o novo ministro da Educação, Abraham Weintraub, tem carta branca para escolher sua equipe após tomar posse à frente de uma pasta marcada por uma série de polêmicas desde o início do governo. "Ele [Weintraub], assim como os demais ministros que estão aqui, tem carta branca para escolher todo o seu primeiro escalão", disse.
Nos últimos meses, houve troca em pelos mais de 10 cargos do alto escalão do ministério e órgãos vinculados na gestão de Vélez.
Weintraub foi anunciado na segunda-feira como substituto de Ricardo Vélez, que foi demitido na esteira de diversas críticas em razão de sua gestão à frente do ministério. O ex-ministro não compareceu à cerimônia de posse do novo ocupante do cargo. "Na função de ministro da Educação, meu papel é entregar o que está no plano de governo, mais com o mesmo que a gente gasta", disse. Ele afirmou que o objetivo é acalmar os ânimos, colocar a bola no chão e respeitar as opiniões. Ele chegou a dizer que o educador brasileiro Paulo Freire é uma unanimidade.
O ministro elogiou o antecessor. "Velez é muito inteligente, mas dadas as circunstâncias, a gente não está conseguindo entregar [os resultados] no ritmo esperado", disse.
Weintraub comparou a equipe do governo a um time de futebol e disse que às vezes trocas são necessárias. "Dificilmente vai ver um técnico não fazer uma ou outra modificação, não porque seja ruim ou seja bom, mas simplesmente porque naquele momento ele não está adequado para aquela função."
O ministro reiterou que é de falar pouco, mas que fazia questão de dar tranquilidade neste momento.
Após dar posse a Weintraub, Bolsonaro disse esperar que os estudantes comecem não a se interessar por política nas escolas, como disse que atualmente estaria acontecendo, mas sim que possam "ir ao espaço" -- em referência ao ministro da Ciência e Tecnologia, o ex-astronauta Marcos Pontes.
"O que a gente quer do ministro Abraham é que faça os nosso jovens melhores que nosso pais e avós", disse Bolsonaro, acrescentando ter certeza de que não vai faltar empenho, dedicação e patriotismo ao novo ministro para entregar esse objetivo.
Pouco antes, o novo ministro disse que está no cargo para servir o povo, não apenas os que elegeram Bolsonaro, e que é preciso respeitar a todos. Ele omprometeu-se a melhorar os resultados educacionais do Brasil com o orçamento atual. De acordo com ele, não é "radical" e tem experiência em gestão, daí a disposição em apresentar resultados, e destacou ser aberto ao diálogo. Também mencionou conhecer universidades estrangeiras inclusive na China.
"Com o que a gente gasta em relação ao PIB [Produto Interno Bruto], a gente tem que entregar mais", afirmou Weintraub durante a cerimônia de posse, no Palácio do Planalto, na presença do presidente Jair Bolsonaro e do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.
Bolsonaro afirmou que a escolha de Weintraub foi feita entre mais de 10 "bons currículos" e que viu no indicado a maioria dos pré-requisitos necessários para o cargo. "Ele é aquele que não tinha deficiência ou era melhor em cada um desses itens [pré-requisitos para o cargo], por isso eu escolhi o nosso Abraham."
O presidente ressaltou que acredita no "empenho, dedicação e patriotismo" do novo ministro e definiu o que espera de resultado na educação até o fim do seu mandato.
"No final do nosso mandato, se Deus quiser, em 2022, nós possamos ter uma garotada que não esteja ocupando os últimos lugares do Pisa [Programa Internacional de Avaliação de Alunos], uma prova internacional que se faz com a molecada desde a nova série do ensino fundamental, na faixa dos 15 anos de idade. Nós queremos que não mais 70% dessa garotada não saiba fazer regra de três simples, não saiba interpretar texto, não saiba perguntas básicas de ciências", afirmou.
Weintraub foi integrante da equipe de transição do governo do presidente Bolsonaro, e ocupou o cargo de secretário executivo da Casa Civil, sob o comando de Onyx Lorenzoni.
O novo ministro é, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mestre em administração na área de finanças pela Faculdade Getúlio Vargas (FGV) e graduado em Ciências Econômicas pela Universidade de São Paulo (USP - 1994).
Atuou como economista-chefe e diretor do Banco Votorantim, e como sócio na Quest Investimentos.
Atualmente, o Brasil investe o equivalente a 5,5% do PIB, que é a soma dos bens e serviços produzidos no país, de acordo com dados de 2015 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), os últimos disponíveis. Considerando apenas os gastos públicos com educação pública, esse investimento é equivalente a 5% do PIB.
O investimento está no mesmo patamar de países com melhores resultados educacionais, quando se trata da porcentagem. O Chile, por exemplo, investe o equivalente a 4,8% do PIB daquele país, o México, 5,3% e os Estados Unidos, 5,4%.
Em valores, no entanto, o Brasil está aquém de outros países. O governo do Brasil gasta cerca de US$ 3,8 mil por estudante dos ensinos fundamental e médio nas instituições públicas, o que representa menos que a metade da média Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).