Ministro Abraham Weintraub (Adriano Machado/Reuters)
Agência O Globo
Publicado em 10 de julho de 2021 às 20h30.
Dos Estados Unidos, país em que mora desde que, pressionado, anunciou sua saída do cargo de ministro da Educação, Abraham Weintraub tenta viabilizar sua candidatura ao governo de São Paulo fora da influência da família Bolsonaro. Ele negocia com siglas nanicas o controle do diretório estadual paulista para fazer o desembarque de seu grupo.
Entre essas legendas está o PTC (Partido Trabalhista Cristão), rebatizado recentemente de “Agir 36”, que mantém conversas com Weintraub desde março. O principal articulador é Victor Metta, advogado e ex-assessor no Ministério da Educação (MEC). Ele participou da estruturação do PSL em 2018 para a campanha presidencial, e deixou o partido no ano seguinte.
— O fato é que a gente sofreu muito por não ter uma casa. Em 2020, ficou muito em cima da hora, ficou todo mundo espalhado. Agora tem um monte de liderança querendo surgir, e o presidente, como da vez passada, reluta em tomar uma posição — diz Metta.
Uma das condições impostas pelos aliados do ex-ministro a essas legendas é a inclusão de uma cláusula estatutária para impedir a executiva nacional de interferir no diretório de São Paulo. A exigência, no entanto, tem atravancado as conversas. Ao GLOBO, o presidente do PTC de São Paulo, Carlos Roberto de Almeida, diz ter informado a Weintraub que “não tem condições de fazer essa alteração no estatuto”, mas que continua trabalhando para fechar o acordo.
— O medo maior deles é lançar o Weintraub a governador, e a (executiva) nacional vetar. Mas isso não vai acontecer. O que é combinado, é combinado. Mas as portas estão abertas. Eu, particularmente, gostei do projeto deles — afirmou Almeida.
Metta pondera que a intenção da articulação não é “em hipótese alguma divergir, mas servir de apoio” aos planos de Bolsonaro. Para ele, a formação de um partido mais “orgânico” para o bolsonarismo é uma etapa natural do processo de maturação da direita conservadora no Brasil, a que ele define como “adolescente”.
A ideia do grupo de Weintraub é fechar com um partido até setembro ou outubro e fazer um road show pelo interior de São Paulo, apresentando o novo projeto à militância bolsonarista.
Outros partidos se mexem para abrigar candidatos bolsonaristas em 2022. Amigo de Metta, o empresário Otávio Fakhoury assumiu na última quinta-feira o diretório estadual do PTB em São Paulo. Nas mãos de Roberto Jefferson, o partido passa por uma guinada à direita e tem promovido expurgo de quadros de esquerda e de centro. Fakhoury está responsável, segundo ele, por abrir a legenda a “conservadores e liberais ressentidos”, como o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e Filipe Sabará, que foi candidato a prefeito de São Paulo, ambos expulsos do Partido Novo.
— O ideal é a gente ter dois, três partidos conservadores fortes, e no fim eles se coligarem para ganhar. Não tenho vontade de ficar competindo com a legenda que o Weintraub escolher. O PTB vai ser o primeiro a coligar com ela — declarou o empresário.
Um outro articulador sustenta que o risco de Bolsonaro perder a eleição em 2022, identificado pelas pesquisas mais recentes, reforça a urgência da construção de alternativas.
— Nós pensamos em algo para além do ciclo eleitoral. Não sabemos o que vai ocorrer em 2022, então temos que nos preparar para tudo. Digo até que o choque de uma derrota (de Bolsonaro nas eleições), que seria péssimo, impulsionaria muito o movimento no longo prazo — diz Metta.
Aliados de Bolsonaro afirmaram ao GLOBO que críticas de Weintraub a alguns membros do governo federal no último ano irritaram o Planalto. Bolsonaro, então, preferiu cacifar por vontade própria o nome de outro ministro para o posto, Tarcísio Gomes de Freitas, ministro de Infraestrutura.
Nas chamadas “motociatas” — manifestações de motociclistas a favor do presidente — realizadas no Rio e em São Paulo nos últimos meses, o presidente defendeu a candidatura de Tarcísio.
O fraco desempenho de candidatos bolsonaristas nas eleições municipais de 2020 e o naufrágio à vista do Aliança pelo Brasil, partido que Bolsonaro tentou colocar de pé após romper com o PSL, contribuíram para a avaliação do grupo de Weintraub de que seria necessária uma casa própria para os conservadores no próximo ano. Metta e seus aliados temem que, dividida em diversos partidos como no último pleito, a direita que apoia Bolsonaro tenha resultados tímidos mais uma vez.
Controlar o próprio partido permitiria a esse grupo, além do mais, driblar a interferência do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL) nas candidaturas conservadoras no estado. No ano passado, uma parte dos bolsonaristas criticou o que julgou ser uma falta de articulação do filho do presidente, que centrou esforços como cabo eleitoral de seus ex-assessores, Paulo Chuchu e Sonaira Fernandes, que acabaram eleitos vereadores, em vez de fazer campanha para um número maior de postulantes.