O grupo “O Sul é o Meu País” está redobrando seus esforços para garantir mais adesão ao movimento em meio à monumental crise política que o país enfrenta. (Movimento o Sul é o Meu País/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 4 de outubro de 2017 às 13h01.
Última atualização em 4 de outubro de 2017 às 14h03.
Inspirado na votação pela independência da Catalunha no fim de semana passado, o grupo “O Sul é o Meu País”, que reúne adeptos ao separatismo de três estados ricos do sul do Brasil, está redobrando seus esforços para garantir mais adesão ao movimento em meio à monumental crise política que o país enfrenta.
Moradores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná votarão em um plebiscito informal no dia 7 de outubro, sábado, para opinarem sobre a independência dos três estados.
Os organizadores também estão estimulando seus possíveis compatriotas a assinar uma proposta legislativa para cada uma de suas assembleias que exigiria um referendo formal e vinculativo. O grupo, sem fins lucrativos, busca mobilizar um milhão de eleitores em 900 das 1.191 cidades da região sul.
Mais frios, mais brancos e mais ricos do que os demais estados do Brasil, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná flertam historicamente com a desvinculação do território nacional.
Os gaúchos reivindicaram brevemente a independência há cerca de 180 anos. Poucos brasileiros esperam que o movimento atual seja bem sucedido, inclusive porque é proibido pela Constituição.
No entanto, a recessão mais profunda do país nas últimas décadas e os sucessivos escândalos de corrupção exacerbaram o ressentimento de longa data da região em relação ao governo federal, em Brasília.
Com apenas um ano para as eleições gerais, o reavivamento do sentimento separatista no sul é outro indicador do estado instável da política brasileira.
Celso Deucher, líder do O Sul é o Meu País, diz que a região contribui com quatro vezes mais impostos do que é devolvido aos três estados por meio de investimentos e que há distorção na representação política no Congresso em comparação às demais regiões. Deucher argumenta que uma situação tão injusta supera quaisquer preocupações legais.
“Sempre que o assunto do separatismo aparece, acaba refutado porque a Constituição federal não o permite”, disse ele. “Mas a lei não é imutável, que se faça uma revisão constitucional”.
A apatia, no entanto, pode ser um grande obstáculo para as ambições do movimento como a lei. Em uma votação informal no ano passado, esmagadores 96% votaram pela independência, mas em uma participação de pouco menos de 3% do eleitorado dos três estados, que é de 21 milhões de pessoas.
Outro fator preponderante é que a riqueza do Sul também não é mais o que era há alguns anos. Enquanto os salários e a escolaridade estão acima da média nacional, a região ocupa atualmente apenas o terceiro lugar entre as cinco em termos de PIB per capita, embora seja mais rica do que o Norte e o Nordeste por uma margem considerável.
O Rio Grande do Sul, maior dos três estados, está atualmente imerso em uma crise financeira e perdeu grande parte da sua influência econômica, observa Fernando Schuler, professor de ciência política da Insper, em São Paulo.
“Há um descolamento cultural muito grande entre o Brasil do tropicalismo e o Sul”, disse ele. “Os motivos da separação são sólidos, justificáveis, mas não acho viáveis”.