Brasil

Voo 447: profundidade torna 'muito difícil' remover destroços

Operação a 3.900 metros nunca foi testada. Identificação de vítimas do voo da Air France deve ser feita por exames de DNA ou arcada dentária, diz especialista

Investigadores do BEA inspecionam destroços recuperados do voo AFF447 no laboratório de Toulouse, França (AFP)

Investigadores do BEA inspecionam destroços recuperados do voo AFF447 no laboratório de Toulouse, França (AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 7 de abril de 2011 às 23h02.

São Paulo - Demorou quase dois anos, mas finalmente deu resultado a procura pelos destroços e restos mortais das vítimas do voo 447, da Air France, que caiu no oceano Atlântico quando ia do Rio de Janeiro a Paris em maio de 2009, matando 228 pessoas. Após quatro dispendiosas missões de busca, a última iniciada no dia 20 de março, foram encontrados neste domingo partes das asas, turbina, trem de pouso, pedaços da fuselagem e corpos das vítimas. O desafio agora é trazer à superfície os vestígios da tragédia.

A remoção está prevista para começar em algumas semanas, tão logo o governo francês escolha um entre quatro modelos de submersíveis. De acordo com o oceanógrafo Paulo Sumida, da Universidade de São Paulo, será "muito difícil" resgatar os destroços. O maior obstáculo é a profundidade: 3.900 metros, segundo a equipe de buscas da instituição americana Woods Hole Oceanograhic Institution (WHOI). Nestas condições, a pressão é altíssima, e praticamente não há luminosidade.

Controlado remotamente, o submersível escolhido pelos franceses poderá remover as peças pequenas por meio de braços que funcionam como pás. Os destroços serão então içados até a superfície por cabos ou redes em forma de cestos, como na pesca de cardumes. As peças maiores, porém, poderão oferecer resistência. "Nesses casos, o que já foi feito em profundidades menores foi a instalação de balões de ar em volta da fuselagem", diz Sumida. Ao serem inflados, os balões trazem à tona os objetos mais pesados. Mas em águas assim profundas, afirma o especialista, esse procedimento nunca foi feito antes. "Será um grande desafio."

Vítimas - Conforme Sumida, a probabilidade de que os corpos estejam em bom estado de conservação existe, mas é pequena. Sumida explica que a 4.000 metros existem poucos organismos vivos por causa da falta de alimento e luminosidade. "É praticamente um deserto", diz. A pressão é altíssima e faz muito frio, cerca de 1 grau. São condições favoráveis à conservação dos corpos, mas, ressalva o especialista, "dois anos é muito tempo". "É tempo suficiente para que a identificação dos corpos tenha que ser feita por exames de DNA ou arcada dentária, não por reconhecimento visual", estima.

Em entrevista ao site de VEJA, Martine del Bono, o chefe de comunicação do Escritório de Investigação e Análises (BEA) do governo francês, agência responsável pelo resgate, confirma que foram localizados restos mortais de vítimas do acidente, mas não informa mais detalhes em respeito às famílias. "É um assunto muito delicado e doloroso", diz.

Caixa-preta - Para encontrar os destroços da aeronave, a WHOI utilizou três veículos autônomos submersíveis chamados Remus 6000. São veículos não-tripulados cilíndricos que rastreiam o solo do oceano por meio de sonares. Os veículos são capazes de rastrear objetos distantes 600 metros à sua esquerda ou direita, em profundidades de até 6.000 metros. A tecnologia não é nova. Desde a década de 1960, em plena guerra fria, americanos e russos utilizavam veículos autônomos para a confecção de mapas marinhos. Atualmente a técnica é utilizada intensamente pela indústria do petróleo e no mapeamento dos oceanos.

A partir de pontos de referência predefinidos, os veículos executam manobras utilizando um sistema de navegação automática. Enquanto isso, coletam imagens do fundo do mar utilizando câmeras de alta definição. Os veículos têm autonomia de 20 horas, após o que voltam à embarcação principal para que os cientistas analisem os dados. Quando um dos Remus deu pistas de ter encontrado os destroços do avião, os pesquisadores enviaram os outros dois submersíveis para o local e tiveram a certeza, por meio das imagens, que haviam encontrado vestígios do acidente.

O local exato das buscas, uma área de cerca de 10 mil metros quadrados, não é divulgado para "evitar que curiosos atrapalhem as missões de buscas". Segundo Del Bono, o objetivo agora é encontrar a caixa-preta do avião. O dispositivo contém o áudio da conversa entre o piloto e copiloto e o registro das manobras realizadas pela aeronave.

Acompanhe tudo sobre:AviaçãoEuropaFrançaJustiçaPaíses ricosSetor de transporte

Mais de Brasil

O que é Nióbio e para que serve?

Amazonas, Maranhão, Roraima e Pará têm maior porcentagem de municípios com lixões, diz IBGE

China compra por R$ 2 bilhões reserva brasileira rica em urânio e nióbio, na Amazônia

STF retoma julgamento sobre responsabilidade de redes sociais por conteúdos publicados