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Volkswagen questiona viabilidade do hidrogênio e foca em etanol e eletrificação em plano de R$ 16 bi

Parte dos investimentos da fabricante de veículos para o Brasil também está direcionada ao desenvolvimento da plataforma MQB Hybrid, que servirá de base para novos modelos híbridos e elétricos

Em pleno carnaval no Rio de Janeiro, a Volkswagen apresentou seu novo SUV subcompacto desenvolvido no Brasil, o Tera 2026, como parte do plano de lançamento de 16 modelos pelos próximos três anos (Volkswagen/Divulgação)

Em pleno carnaval no Rio de Janeiro, a Volkswagen apresentou seu novo SUV subcompacto desenvolvido no Brasil, o Tera 2026, como parte do plano de lançamento de 16 modelos pelos próximos três anos (Volkswagen/Divulgação)

Publicado em 9 de março de 2025 às 08h00.

Última atualização em 10 de março de 2025 às 18h39.

A Volkswagen no Brasil está entre as protagonistas do maior ciclo de investimentos da história do setor automotivo brasileiro. Até 2028, a fabricante prevê um aporte de R$ 16 bilhões no país, com foco em descarbonização e mobilidade sustentável. O plano inclui o lançamento de 16 novos veículos dentro de uma estratégia que prioriza a eletrificação combinada com etanol, considerado a alternativa mais viável para o mercado brasileiro no curto e médio prazo.

Embora motores a combustão movidos a hidrogênio estejam sendo estudados globalmente, especialmente para veículos de grande porte, a Volkswagen avalia que a tecnologia tem pouca viabilidade no Brasil.

Roger Guilherme, gerente do Way to Zero Center (Caminho para Zero) da Volkswagen do Brasil, explica à EXAME que, além dos desafios de infraestrutura e do alto custo da tecnologia, a disponibilidade no país de combustíveis de baixa pegada de carbono, como o biometano e o biodiesel, torna o hidrogênio menos atrativo para o mercado local.

"Mesmo com uma célula de combustível eficiente, o custo por quilômetro seria mais do que duas vezes o custo do mesmo percurso com um veículo totalmente elétrico, com maior emissão de CO2 no conceito 'do poço à roda'", diz o especialista, em referência à metodologia da análise de ciclo de vida para estabelecer metas para a mobilidade sustentável de baixo carbono.

O plano industrial da montadora no Brasil

A aposta da montadora de origem alemã para a transição energética no Brasil se concentra no avanço dos motores Total Flex, – que foram lançados pela marca em 2003 com o Gol Total Flex –, para novos veículos híbridos flex e elétricos.

De acordo com Rafael Teixeira, CFO da Volkswagen do Brasil e Região América do Sul, o etanol continua sendo a solução mais rápida e eficaz para reduzir emissões, aproveitando a infraestrutura já existente. "A tecnologia híbrida flex representa um passo natural nessa transição, ao combinar a propulsão elétrica e o etanol, resultando em eficiência, sustentabilidade e autonomia", afirma Teixeira.

Parte dos investimentos da Volkswagen no Brasil também está direcionada ao desenvolvimento da plataforma MQB Hybrid, que servirá de base para os novos modelos híbridos e elétricos.

O projeto conta com uma nova arquitetura eletrônica, que amplia a conectividade e aprimora a segurança com tecnologia ADAS (Advanced Driver Assistance System). Desenvolvida com a participação da engenharia brasileira e sul-americana, a plataforma está sendo concebida por meio de tecnologias avançadas de simulação digital.

Para o desenvolvimento da iniciativa, a montadora conta com os recursos do Plano Mais Produção, braço de financiamento da Nova Indústria Brasil (NIB), voltada para estímulos à inovação.

No ano passado, R$ 500 milhões foram aprovados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com o objetivo de impulsionar a produção automotiva sustentável da VW, com foco na descarbonização e na transição energética.

Desde então, segundo o CFO da marca, os recursos têm sido aplicados em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para a nova plataforma, além de projetos ligados à transformação digital e avanços tecnológicos na produção automotiva e modernização de suas quatro fábricas no Brasil – São Bernardo do Campo, Taubaté, São José dos Pinhais e São Carlos, localizadas em São Paulo.

"Parte dos investimentos segue para o Centro de Design e Engenharia da empresa, localizado na fábrica Anchieta, em São Bernardo do Campo, que é um dos mais avançados do Grupo Volkswagen no mundo e conta com quase 1 mil profissionais atuando nas fábricas Anchieta, Taubaté e Pacheco (Argentina), sendo que em 2024 foram contratados mais de 100 engenheiros e engenheiras para reforçar o time de Inovação e Tecnologia", diz Teixeira.

Por questões estratégicas, segundo a marca, os detalhes do cronograma do projeto não foram divulgados.

Em pleno carnaval no Rio de Janeiro, contudo, a Volkswagen apresentou seu novo SUV desenvolvido no Brasil, o Tera, como parte do plano de lançamento de 16 modelos pelos próximos três anos.

O veículo será fabricado em Taubaté e posicionado abaixo do Nivus e do T-Cross. A estreia nas concessionárias é prevista para maio, enquanto as exportações para outros mercados da América Latina devem ocorrer no segundo semestre.

A empresa está presente em Brasil há 71 anos, e o país ocupa um papel estratégico na operação global da Volkswagen. Em 2024, pelo segundo ano consecutivo, foi o terceiro maior mercado mundial para a marca, ficando atrás apenas da China e da Alemanha.

"Enquanto a Volkswagen cresceu 16% em vendas em 2024, o mercado total cresceu 14,1%", afirma Rafael Teixeira, CFO da Volkswagen do Brasil e Região América do Sul (Volkswagen /Divulgação)

Segundo o CFO da marca, a relevância brasileira levou a montadora a investir no país não apenas como um polo produtivo, mas também como centro de inovação para exportação.

Um exemplo disso, diz Teixeira, é o SUV Nivus, primeiro veículo desenvolvido na América do Sul a ser produzido e comercializado na Europa sob o nome Taigo. O modelo também estreou o sistema de infotainment VW Play, exportado para mais de 70 países.

"No ano passado, a Volkswagen foi a marca de volume que mais cresceu em unidades vendidas no Brasil. Os 400.379 veículos Volkswagen vendidos em 2024 representaram 55.340 unidades a mais do que em 2023, com crescimento acima do mercado. Enquanto a Volkswagen cresceu 16% em vendas em 2024, o mercado total cresceu 14,1%", afirma o executivo da empresa.

Desafios e expectativas

Apesar dos resultados positivos, Teixeira também observa que o setor automotivo no Brasil ainda enfrenta desafios significativos.

Entre eles a alta carga tributária, que representa mais de 40% do valor dos veículos, segundo ele, e o custo do crédito, impactado pelos juros elevados. Outro ponto de preocupação para a Volkswagen é o que classifica como "concorrência desigual" com marcas que não produzem no Brasil, mas se beneficiam de incentivos para importação de veículos eletrificados.

"A concorrência é benéfica e faz parte do negócio, mas as marcas precisam produzir aqui, enfrentando as mesmas dificuldades e contribuindo com a economia. A Volkswagen do Brasil, por exemplo, conta com 80% de seus fornecedores locais. Além das operações da empresa, são mais 1.000 fornecedores e uma rede de 472 concessionárias gerando emprego e renda", diz o CFO da VW.

Na área internacional, o executivo afirma que mesmo diante da saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris e um possível impacto na agenda verde brasileira, a Volkswagen manterá seu plano de eletrificação e aposta no etanol como solução viável para a realidade local. "Fomos a primeira fabricante de automóveis do mundo a assinar o Acordo de Paris", lembra.

A montadora também segue as previsões da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que prevê para 2025 crescimento de vendas de 6,6%, e aumento das exportações em 7,7% e produção positiva de 8,4% para o mercado de veículos leves.

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