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Em 5 anos, violência no Brasil mata mais que a guerra na Síria

Entre 2011 e 2015, o Brasil teve um total de 278.839 assassinatos. Só no ano passado, uma pessoa foi morta a cada nove minutos no país

Crimes: secretário de Defesa Civil foi assassinado no Rio de Janeiro (Thinckstock/Thinkstock)

Crimes: secretário de Defesa Civil foi assassinado no Rio de Janeiro (Thinckstock/Thinkstock)

Bárbara Ferreira Santos

Bárbara Ferreira Santos

Publicado em 28 de outubro de 2016 às 06h00.

Última atualização em 28 de outubro de 2016 às 16h54.

São Paulo -- Entre 2011 e 2015, a violência no Brasil matou mais pessoas que a Guerra da Síria, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) divulgados nesta sexta-feira (28).

Entre janeiro de 2011 e dezembro de 2015, o Brasil teve um total de 278.839 assassinatos, o que, de grosso modo, leva a uma média mensal de 4.647,3 vítimas. Os dados incluem as ocorrências de homicídio doloso, latrocínio (roubo seguido de morte), lesão corporal seguida de morte e morte decorrente de ações policiais.

Já na Síria, entre março de 2011 e novembro de 2015, a guerra causou 256.124 mortes, segundo estimativa da Agência da Organização das Nações Unidas para os Refugiados. A média para esse período é de 4.493,4 mortes por mês.

Segundo a diretora-executiva do FBSP, Samira Bueno, o elevado número de mortes no Brasil “evidencia o fracasso do país em políticas públicas de segurança. É absolutamente vergonhoso o governo federal não ter uma política nacional para reduzir o número de crimes violentos letais intencionais. Essas mortes mostram que existe uma total omissão por parte da União”, afirma Samira.

No Brasil, a segurança pública é de responsabilidade dos governos estaduais e não há uma coordenação nacional sobre as políticas implantadas em cada uma das unidades da federação.

Segundo Samira, uma das consequências desse modelo é que cada estado determina as estatísticas que serão divulgadas, o que dificulta mapear qual é o verdadeiro retrato da violência no país.

“O governo federal, por exemplo, não traz os dados anuais de violência do país. Quem tem que fazer isso é uma organização da sociedade civil. A gente levanta os dados disponíveis, mas há muita subnotificação”, afirma Samira.

Em termos gerais, isso significa que, se hoje o quadro da violência no país já é grave mesmo com falta de dados em algumas regiões, o cenário real pode ser ainda pior.

Uma morte a cada nove minutos

no ano passado, uma pessoa foi assassinada no Brasil a cada nove minutos. No total, 58 mil pessoas morreram no país em 2015 vítimas de crimes violentos e intencionais. Os dados inéditos fazem parte do 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que será lançado no dia 3 de novembro pelo FBSP.

Os Estados do Nordeste e do Norte do país foram os que mais registraram mortes. Sergipe se tornou o estado mais violento do Brasil em 2015, com 57,3 assassinatos a cada grupo de 100 mil pessoas, superando Alagoas, que ficou em segundo lugar (50,8).

Já os estados que registraram as menores taxas de mortes violentas intencionais foram São Paulo (11,7) e Santa Catarina (14,3).

Assassinatos em operações policiais

Segundo levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, as polícias brasileiras estão entre as que mais matam no mundo. No ano passado, a cada dia ao menos 9 pessoas foram mortas por policiais no Brasil, um total de 3.345 pessoas.

Esse valor, por exemplo, é superior ao registrado em Honduras, considerado o país mais violento do mundo, que teve uma taxa de 98 vítimas de letalidade policial em 2015. A África do Sul, que também possui elevados índices de violência, teve 582 mortes causadas por operações policiais no mesmo período.

“Existe um excesso de força das polícias brasileiras”, avalia Samira. “A sociedade brasileira, o poder público e a polícia entendem que o bandido tem que morrer. No Brasil a gente não tem pena de morte, mas, na prática, existem delegados e policiais que decidem quem deve morrer ou viver”, diz.

De acordo com o levantamento, quase metade (45%) dessas mortes estão concentradas nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

São Paulo foi o estado com o maior número de pessoas mortas por policiais em 2015: 848.

Se consideradas as taxas de letalidade policial (que consideram o número de mortes em comparação com a população de cada estado), Amapá (5,0), Rio de Janeiro (3,9) e Alagoas (2,9) aparecem no topo do ranking.

Policiais mortos no país

Também é elevado no Brasil o número de policiais assassinados tanto no horário de serviço quanto fora dele.

Em 2015, 103 policiais foram mortos no país durante o expediente. Entretanto, o número de vítimas fora do horário de trabalho foi quase o triplo desse número, chegando a 290, que geralmente foram mortos após reagirem a tentativas de roubo.

Os números no país são superiores, por exemplo, aos de mortes de policiais em serviço nos Estados Unidos. Mesmo com um contingente policial maior que o brasileiro, nos EUA ocorreram 41 mortes de policiais em horário de trabalho em 2015, menos da metade do que o registrado no Brasil.

O estado onde mais policiais foram mortos em 2015 foi o Rio de Janeiro, que teve 98 vítimas, seguido por São Paulo, com 60.

Em números absolutos, os estados onde a vitimização policial mais cresceu foram Maranhão, que teve 44 policiais mortos em 2015 ante 13 em 2014; e Pernambuco, teve  27 oficiais assassinados em 2015 contra 17 em 2014.

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