Câmara: até semana passada, os governistas diziam ter entre 38 a 44 votos a favor de Temer (Ueslei Marcelino/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 16 de outubro de 2017 às 19h00.
Brasília - A divulgação dos vídeos da delação premiada do doleiro Lúcio Funaro e a operação de busca e apreensão nesta segunda-feira, 16, no gabinete e na residência do deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) deram novo ânimo à oposição na Câmara para garantir o prosseguimento da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer.
Os oposicionistas dizem que os novos episódios podem ajudar a reverter votos na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e a estratégia, a partir de agora, é explorar os acontecimentos com profundidade no colegiado, incluindo a exibição dos vídeos de Funaro durante a sessão de debates, prevista para começar nesta terça-feira, 17.
O deputado Júlio Delgado (PSB-MG), um dos principais articuladores da oposição na CCJ, disse contabilizar agora 36 votos pela rejeição da denúncia contra 28 votos pelo prosseguimento do processo (contando com a expulsão dos deputados do PSB que hoje integram a CCJ).
Até semana passada, os governistas diziam ter entre 38 a 44 votos a favor de Temer. "Esse placar vai se alterar muito mais", prevê Delgado.
O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) vê agora chances de se aprovar o andamento da segunda denúncia contra Temer.
"A notícia da participação dele (Temer) em vários crimes praticados por outros parlamentares do PMDB da Câmara aumentam a pressão para a aceitação da segunda denúncia. Isso num contexto em que a base do governo está mais fragmentada, o governo mais impopular e as eleições do ano que vem mais próximas", afirmou.
O parlamentar de Minas Gerais também acredita que as novas revelações sensibilizarão ainda mais os parlamentares, o que tende a causar mais preocupação para o Palácio do Planalto.
Na avaliação do deputado, Temer decidiu encaminhar uma carta aos parlamentares por "desespero". "A carta é a demonstração clara de fragilidade. Ele não o fez da primeira vez", comentou.
Delgado disse que o grupo deve apresentar um voto em paralelo pela admissibilidade da denúncia. Até o momento, só o deputado Major Olímpio (SD-SP) protocolou um parecer em separado favorável ao andamento do pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Em seus 15 minutos de tempo de discurso na CCJ, Delgado avisou que pedirá a exibição dos vídeos de Funaro. "Quero ver o vídeo e o presidente (Rodrigo Pacheco) não pode me negar", declarou.
Vice-líder da bancada do PMDB na Câmara, o deputado Mauro Pereira (RS) disse que o impacto dos vídeos de Funaro na base aliada é "zero" porque o delator não tem "credibilidade".
O peemedebista adotou o discurso de que os aliados estão preocupados com a retomada econômica e não têm interesse em tirar Temer da presidência.
"Existe uma preocupação grande com a economia do País. A economia estando bem, é um fato super relevante", afirmou.
Questionado sobre a necessidade do envio de uma carta aos parlamentares, Pereira destacou que Temer fez questão de demonstrar respeito aos deputados que o julgarão e assim "clarear a situação".
"O governo está tentando mostrar para os colegas deputados que ele está com a razão", respondeu.
A CCJ tem marcada para amanhã a sessão de debates sobre a denúncia contra Temer e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria Geral da Presidência).
Na semana passada, um pedido de vista interrompeu a análise da denúncia por duas sessões plenárias.
Como hoje não teve sessão no plenário principal e só transcorreu uma sessão do prazo, foi marcada uma sessão extraordinária para a manhã desta terça-feira na Câmara de modo a garantir que, em algum momento do dia, a CCJ abra a sessão de debates sobre a denúncia.