José Luiz Datena: discurso de renovação e novo fôlego para a política está na ponta da língua dos pré-candidatos e seus correligionários (Facebook/Reprodução)
Da Redação
Publicado em 4 de agosto de 2015 às 17h55.
São Paulo - O atual grau de descrédito da população com os políticos é um campo fértil para o surgimento de nomes de fora da política tradicional como mostram as recentes movimentações em torno da eleição à prefeitura de São Paulo no ano que vem, mas a viabilização dessas candidaturas, dentro dos partidos e eleitoralmente, é menos simples do que parece.
A mais de um ano da eleição, alguns nomes já se colocam para a disputa paulistana, além do prefeito Fernando Haddad (PT), que buscará a reeleição.
Três deles apresentam programas de TV: José Luiz Datena, que deverá ser o representante do PP, João Dória Júnior, que disputará dentro do PSDB para ser o candidato tucano, e Celso Russomanno, que disputará novamente pelo PRB.
Datena e Dória são novatos na política tradicional, embora o tucano tenha ocupado cargos públicos, como a Secretaria de Turismo paulistana e a presidência da Embratur. Já Russomanno está no quinto mandato seguido de deputado federal e tentou a prefeitura paulistana em 2012.
"De tempos em tempos, quando você tem esse desgaste, você tem 'outsiders', pessoas que supostamente são de fora da política e que seriam uma renovação da política, mas que podem nem vingar, nem nos seus partidos, nem politicamente", disse à Reuters o cientista político do Insper Carlos Melo.
O fato de um candidato não fazer parte do jogo político tradicional, não impede, no entanto, que esse candidato "de fora" acabe sendo incorporado pelas práticas políticas.
"O jogo é um pouco mais complicado. Embora aquela pessoa possa não ser um político de origem, ele está entrando na atividade política naquele momento; à medida que entra no jogo, vai atuar como político", disse o cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Cláudio Couto.
GÁS NOVO
O discurso de renovação e novo fôlego para a política está na ponta da língua dos pré-candidatos e seus correligionários.
"Acho muito bom que nós tenhamos inovação na política, oxigenação", disse Russomanno à Reuters. "Acredito que com o Dória, com quem eu tenho amizade, e com o Datena também, a gente pode fazer uma campanha mais limpa, com discussão de ideias, como a gente pode melhorar a cidade."
Procurado, Datena disse via assessoria de imprensa da TV Bandeirantes, onde trabalha, que não comentaria a disputa municipal, mas o presidente do diretório paulista do PP, deputado federal Guilherme Mussi, comemorou a adesão do apresentador.
"Acho que ele consegue atrair uma grande parte de um eleitorado descrente com política", disse Mussi à Reuters.
O parlamentar garante que Datena não terá problemas em se viabilizar dentro da sigla, que já foi comandada no Estado pelo deputado federal Paulo Maluf, partidário da manutenção da aliança que elegeu Haddad em 2012.
"O PP é um partido em que não há disputa interna. É comandado por mim no Estado de São Paulo com uma Executiva em plena harmonia... Isso vai dar total tranquilidade para o Datena se sentir seguro, não haverá disputa", garantiu Mussi.
Apesar da empolgação de Mussi, a falta de experiência política de Datena pode custar caro, especialmente em uma eleição majoritária. Mesmo Russomanno, experiente em disputas eleitorais, cometeu um erro grave quando liderava as pesquisas na eleição municipal de 2012.
Uma proposta feita por ele, de cobrar a tarifa de ônibus de acordo com a quilometragem percorrida, foi duramente criticada pelos adversários, e acabou tirando-o até mesmo do segundo turno.
Além disso, analistas apontam que Datena e Russomanno devem disputar o mesmo eleitorado, podendo resultar em um "jogo de soma zero" entre os dois, o que beneficiaria outros candidatos.
CANDIDATURAS EXÓTICAS
Se o cenário dentro do partido parece tranquilo para Datena, o mesmo não pode dizer Dória, que terá de passar por uma disputa interna no PSDB.
"Nosso maior esforço nesse momento é formular um programa de governo para poder discutir e debater dentro do próprio partido", disse o empresário à Reuters.
Dória afirma que decidiu colocar seu nome para o crivo interno do PSDB após uma "consulta" feita ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
De acordo com o apresentador, ambos entendem que os tucanos precisam renovar seus quadros. Mas o convite de dois caciques tucanos não garante a candidatura, disse um dirigente tucano.
"Eu não acho que o fato de eles (Alckmin e Fernando Henrique) estimularem o João Dória a ser candidato signifique que seja o candidato deles", disse o vereador Mario Covas Neto, presidente do diretório paulistano do PSDB.
Segundo o vereador, o PSDB pretende definir seu candidato até dezembro, provavelmente por meio de uma prévia. Além de Dória, o vereador Andrea Matarazzo também já oficializou a pré-candidatura. E outros nomes ainda devem formalizar suas postulações.
Atual prefeito, Haddad diz não temer os novos rivais na disputa --que ainda deve contar com a senadora Marta Suplicy, hoje sem partido, e ter muitos desdobramentos até o ano que vem.
"Todos têm toda a legitimidade de se apresentar, não vejo nenhum problema em relação a isso. Você pode caracterizar algumas candidaturas como exóticas, como fez em editorial a Folha de São Paulo. Mas a política tem isso", cutucou.
"Não tenho receio do resultado", garantiu, acrescentando estar "preocupado com o que é bom para a cidade".
E 2018? Para Melo, do Insper, um dos problemas do chamado voto "antipolítico" é seu histórico no Brasil.
Quando consegue se viabilizar eleitoralmente, o resultado costuma ser "um desastre", diz o analista. Ele recorre a Fernando Collor de Mello, que, eleito presidente em 1989, sofreu impeachment após denúncias de corrupção sem completar metade do mandato.
O ex-presidente, aliás, é exemplo de candidato que se viabilizou em meio ao cenário de crise política e econômica do final do governo José Sarney, situação que tem similaridades com a atual, sob o comando de Dilma.
Esse cenário, então, pode se repetir? "Poder, pode. Eu só não consigo vislumbrar ninguém. Mas também ninguém vislumbrava o Collor em 1989", disse Couto, da FGV.
"Em um momento de desgaste profundo, de crise de credibilidade como a que a gente vive hoje, se torna mais provável ainda o surgimento de uma situação desse tipo. Mas provável não quer dizer que vai acontecer", acrescentou.