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'Vão sair pacificamente (da Terra Yanomami). A índole garimpeira não é má', diz minerador

Fundador e ex-membro da União Sindical dos Garimpeiros da Amazônia Legal, José Altino Machado critica o que define como 'ação política'

Yanomami: O garimpo dá sinais de que não entrará em confronto com policiais federais e Forças Armadas, ou mesmo de que complicará a saída (Bruno Kelly/Reuters)

Yanomami: O garimpo dá sinais de que não entrará em confronto com policiais federais e Forças Armadas, ou mesmo de que complicará a saída (Bruno Kelly/Reuters)

AO

Agência O Globo

Publicado em 6 de fevereiro de 2023 às 20h33.

Com o iminente início da operação de retirada de garimpeiros ilegais do Território Yanomami, em Roraima, por iniciativa do governo federal, desdobramento da crise humanitária que se instalou nas tribos locais, a movimentação de saída tem se intensificado, assim como o clima de insegurança, na terra demarcada.

Entre relatos de fuga e até de ataques contra indígenas – lideranças denunciam a morte de três ianomâmis no fim de semana –, a mensagem que chega, num primeiro momento, no entanto, vai na direção contrária.

O garimpo dá sinais de que não entrará em confronto com policiais federais e Forças Armadas, ou mesmo de que complicará a saída. O GLOBO conversou, nesta segunda-feira, com o minerador José Altino Machado, o Zé Altino, fundador e ex-membro da União Sindical dos Garimpeiros da Amazônia Legal, atual membro do Conselho Superior de Minas, que dialoga com esses grupos.

Machado critica o que define como um uso político da crise enfrentada pelos ianomâmis por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas admite que, neste momento, a saída dos garimpeiros é a única solução viável, dada a pressão.

''Existe um problema muito maior do que apenas retirar o garimpeiro. Garimpeiro você chama para sair e eles saem. Saem pacificamente. A índole garimpeira não é má. Porque ninguém convive na Amazônia com insegurança. Não tem essa índole de dar tiro, trocar tiro, isso é invenção. Todas as vezes que denunciaram alguma coisa, a Polícia Federal entrou e não encontrou nada'', disse. '

'Se não fossem essas ações prejudiciais providas da política, as atitudes administrativas poderiam ser diferentes. Tanto um lado quanto o outro são sobreviventes. Agora, realmente têm que ser retirados, pela situação que foi criada. Não defendo a permanência deles mais pela situação que foi criada''.

Para o sindicalista, a tendência é que os garimpeiros acabem migrando para a área do Rio Tapajós, o que, do seu ponto de vista, não resolve o problema.

''A solução não é bloquear a aviação, mesmo. Hoje tive a notícia de que a Força Aérea vai liberar uma entrada controlada da aviação para retirar os garimpeiros. Manda recuarem para 3 ou 4 pistas que eles saem de lá. Agora não tem outra saída. Mas o problema maior vai ser: como e o quê vamos fazer com esses garimpeiros? eles vão voltar para o Tapajós''.

A crise ianomâmi se agrava pelas consequências de metais pesados, despejados pelo garimpo ilegal, que intoxicaram os rios e contaminaram o solo, além de verminoses que se espalharam entre as tribos. Malária, diarreia, desnutrição estão por trás da morte de várias crianças indígenas nos últimos dias. O minerador, no entanto, defende que garimpeiros e indígenas vivem em harmonia, apesar de todas as mazelas.

''O mal que eles provocaram foi em ter atraído os índios para onde eles estavam e tirar da beira dos rios, porque lá não há nascentes de rios com peixes, não tem animal herbívoro porque o capim é amargo, então criou-se uma situação fora do comum, que foi levada para o lado da maldade humana. Os garimpeiros não têm essa índole. Se índio não quisesse garimpeiro na terra deles, não teria ninguém. Se eles reagirem de forma contrária, ninguém fica'', argumenta.

José Altino Machado afirma ainda que faltou planejamento do governo atual antes de a retirada dos garimpeiros ter sido imediatamente decidida. Defendeu a criação de um censo amazônico capaz de apresentar um retrato fiel de toda a região e não poupou crítica, também, à gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

''Vejo uso político disso, e não é o Lula que eu conheci, que vi viajando pela Amazônia durante os dois mandatos, que discursou pedindo respeito aos garimpeiros. Ele mesmo declarou que seria presidente para todo mundo, mas não parece'', afirma. ''Você não pode atacar o problema sem saber qual é a causa dele, o efeito. É preciso estudar, saber o que fazer. Não tirar de um lado e jogar para o outro. Está faltando critério e responsabilidade para estudar o problema que surgiu. O governo anterior, do Bolsonaro, quase nos destruiu. Acabou com todo mundo na Amazônia. Agora vem o Lula para dar o choque mortal? a saída desse povo vai ser catastrófica para Roraima em termos econômicos. Mas, do ponto de vista social, eu pergunto: eles vão para onde agora? se fala muito de um lado, mas se esquece do outro''.

''A primeira coisa que eu pedi, tanto para ele, quanto para o (ex-presidente, Jair) Bolsonaro, foi para que fizesse um censo amazônico, para o governo parar de chutar números. Há 30 mil garimpeiros? não. São 30 mil ianomâmis? não. São 6.500?''.

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