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Vaidoso e exigente, Meirelles se descreve como um "liberal clássico"

Neto e sobrinho de políticos goianos, Meirelles nasceu em Anápolis (GO) em 31 de agosto de 1945, mas só em 2002 entrou para a política

Ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB) será apresentado nesta quinta-feira como candidato à Presidência da República pelo MDB (Adriano Machado/Reuters)

Ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB) será apresentado nesta quinta-feira como candidato à Presidência da República pelo MDB (Adriano Machado/Reuters)

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Reuters

Publicado em 2 de agosto de 2018 às 09h56.

Última atualização em 2 de agosto de 2018 às 09h56.

São Paulo - Vaidoso e exigente no trabalho, Henrique Meirelles, que se descreve como um "liberal clássico", tenta neste ano realizar um desejo que surgiu quando comandava o Banco Central no governo Lula: obter um mandato para trabalhar no terceiro andar do Palácio do Planalto, onde fica o gabinete presidencial.

Há nove anos, quando se filiou ao então PMDB, pensou em voos mais altos, mas sem força política para tanto naquele momento procurou se cacifar para ser vice na chapa encabeçada por Dilma Rousseff, escolhida pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva para sucedê-lo. Nem isso conseguiu. Dilma não gostava dele, e o PMDB preferiu para esse papel o nome do então presidente do partido e da Câmara dos Deputados, Michel Temer.

Neto e sobrinho de políticos goianos, Meirelles nasceu em Anápolis (GO) em 31 de agosto de 1945, mas só em 2002 entrou para a política ao se lançar candidato a deputado federal pelo PSDB, sendo o mais votado no Estado.

Logo depois, no entanto, abriu mão do mandato e deixou o partido para aceitar convite de Lula para presidir o Banco Central, num momento de turbulência nos mercados financeiros devido à eleição do petista. Ficou no cargo durante os oito anos do governo Lula, tornando-se o mais longevo comandante do BC.

Ajudou o Brasil a dar saltos importantes, como chegar ao grau de investimento e passar pela crise financeira global de 2008/09 sem grandes arranhões. Admirado pelos mercados financeiros, em função da posição ortodoxa na economia, entregou por três anos a inflação abaixo do centro da meta oficial no período que presidiu o BC.

O sucesso conseguido naquele período tem sido usado na pré-campanha deste ano, por meio de vídeos e posts nas redes sociais com o slogan "Chama o Meirelles", passando a imagem de que quando a economia vai mal ele é chamado para resolver.

"Quem já ajudou o Brasil a enfrentar e vencer duas crises econômicas?", pergunta um vídeo curto na página do MDB no Facebook, que termina afirmando: "Experiência faz toda diferença. Chama o Meirelles."

Num país dividido e de opiniões cada vez mais radicalizadas, o ex-ministro gosta de se descrever como um "liberal clássico".

"A palavra que eu me defino melhor é liberal. Eu sou liberal. Liberal no sentido clássico, no sentido inglês, de quem defende a liberdade na economia, na política, na democracia", disse em entrevista à Reuters em maio.

"Essa posição conservadora no Brasil está muito confusa, o que quer dizer isso? Quer dizer violência, quer dizer radicalismo? Não. Então eu prefiro a visão clássica do liberal, no sentido do liberalismo. Liberdade econômica para crescer, para empreender, liberdade de opinião, de voto, no sentido de indepedência dos Poderes e livre mercado, não há dúvida."

Novo FHC?

Ao assumir o Ministério da Fazenda após o afastamento de Dilma da Presidência da República, já no governo Temer e com a economia em forte recessão, Meirelles talvez tenha apostado no caminho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

O tucano assumiu a Fazenda em 1993, também depois de um impeachment --do então presidente Fernando Collor de Mello-- e num momento de forte crise econômica. No ministério, Fernando Henrique reuniu a equipe que elaborou o Plano Real. Com o fim da inflação trazido pela nova moeda, o tucano se elegeu presidente.

Com o acirramento da crise econômica em 2015 e 2016, sobretudo no campo fiscal, antes de acertar com Temer, Meirelles chegou a negociar também com Lula para voltar ao governo do PT. Especialmente em 2016, quando combinou com Lula e até com a ex-presidente Dilma sua ida ao Ministério da Fazenda no lugar de Joaquim Levy.

Mas os planos não saíram do papel. Dilma continuava não gostando de Meirelles e preferiu colocar Nelson Barbosa à frente da pasta. E o ex-presidente do BC passou a negociar com Temer.

Ao assumir o cargo no atual governo, Meirelles prometeu colocar a economia nos eixos e acertar as contas públicas. Inicialmente conseguiu vitórias importantes: o mau humor generalizado dos empresários foi revertido e o teto de gastos, que limitou o crescimento dos gastos públicos por pelo menos uma década, foi aprovado pelo Congresso Nacional.

Auxiliares apontam justamente o trabalho duro como uma das características do ex-ministro. Por outro lado, o pré-candidato tentava na Fazenda manter um horário regrado para o almoço e ter condições de jantar em casa, raramente estendendo o expediente no ministério para além das 20h.

"Workaholic total, adora trabalhar", resumiu um ex-auxiliar sobre o ex-ministro, conhecido por ser muito exigente no trabalho.

Conhecido pela vaidade em relação a seus projetos pessoais e ao desempenho nos cargos que ocupou, na Fazenda acompanhava todas as notícias a respeito de si próprio e era um voraz usuário do Whatsapp, segundo relato do ex-auxiliar.

Seu trabalho no ministério, no entanto, sofreu o baque da delação de executivos da J&F, que atingiu em cheio o presidente Michel Temer em maio de 2017, o que acabou impedindo a aprovação da reforma da Previdência, essencial no ajuste fiscal, porque o presidente gastou praticamente todo o seu capital político para barrar duas denúncias no Congresso.

Sem essa reforma, a confiança dos agentes econômicos diminuiu em relação ao reequilíbrio das contas públicas. E a perspectiva de recuperação da economia em 2018, que já vinha sendo sucessivamente revisada para baixo após fracos indicadores de atividade do início do ano, sofreu também o impacto da greve dos caminhoneiros em maio, quando ele já não estava mais à frente da Fazenda.

Por conta própria

Com sua principal bandeira eleitoral - a recuperação da economia - debilitada e atrelado a um governo de impopularidade recorde, Meirelles tem enfrentado dificuldades para decolar nas pesquisas de intenção de voto, aparecendo com apenas cerca de 1 por cento.

O patrimônio pessoal do ex-ministro, no entanto, ajudou a dar fôlego à sua pré-candidatura dentro do MDB.

Da última vez que declarou publicamente seu patrimônio, quando concorreu a deputado federal em 2002, Meirelles disse possuir 45 milhões de reais. De lá para cá, a fortuna cresceu.

Só de serviços prestados à iniciativa privada, incluindo a holding J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, Meirelles recebeu mais 200 milhões de reais por trabalhos feitos de 2012 a 2015. Os fartos recursos contaram a favor, com caciques do MDB calculando que, ao usar de seu próprio dinheiro na candidatura, Meirelles pouparia o fundo partidário.

Formado em engenharia pela Universidade de São Paulo (USP), com mestrado em administração na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Meirelles participou de programa avançado em administração em Harvard. Na década de 1970 entrou no BankBoston, onde construiu uma carreira bem-sucedida nos Estados Unidos e chegou a ser presidente global da instituição.

Para não dizer que sua imagem nunca foi arranhada diante dos investidores, a filiação ao então PMDB em 2009, quando comandava o Banco Central, causou um certo mal-estar. Muitos no mercado acharam estranho ter um presidente do BC, que até hoje não tem independência formal, filiado a um partido político.

Meirelles deixou o PMDB e se filiou ao PSD diante da possibilidade, que não foi para frente, de disputar a Prefeitura de São Paulo em 2012.

A pré-candidatura à Presidência em 2018 surgiu ainda no PSD, mas com a perspectiva de apoio do partido na disputa ao PSDB, de Geraldo Alckmin, Meirelles optou por retornar ao MDB.

Entre as posições que ocupou entre sua saída do BC e o trabalho na Fazenda, Meirelles foi presidente do conselho da J&F Investimentos - holding que controla a JBS - e do conselho de administração da Azul Linhas Aéreas.

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