Lula em pronunciamento na internet no 7 de setembro: discurso para se mostrar como candidato (Lula/YouTube/Reprodução)
Karina Souza
Publicado em 11 de novembro de 2020 às 22h06.
Última atualização em 11 de novembro de 2020 às 22h19.
"A verdade é uma só, e não se pode fugir dela: a vacina é um direito de todos, e a vacinação é um dever do Estado". Essa é a opinião de Luís Inácio Lula da Silva a respeito do combate à pandemia de covid-19 no Brasil. Em carta aberta divulgada hoje - um dia depois do presidente Jair Bolsonaro relacionar a morte de um voluntário a uma possível 'vitória' pessoal contra o governador de São Paulo, João Doria -, o ex-presidente defende a ampla vacinação do povo brasileiro como parte de uma retomada socioeconômica no país. Para Lula, não é possível existir recuperação sem vida, esta, garantida por meio do direito à vacina. Que tal viajar mais no mundo pós-pandemia? Conheça o curso de liberdade financeira da EXAME Academy
Ao aproveitar a situação gerada por Bolsonaro, e a consequente indignação manifestada pela mídia a respeito da aparente autopromoção do presidente com a paralisação dos testes, o ex-presidente parte do "deslize" de Bolsonaro para destacar a importância de confiar na ciência em âmbito geral: relembra as doenças que já foram erradicadas, destaca o esforço de profissionais da saúde e lembra que a Terra é, sim, redonda.
"Estou certo de que você, assim como eu, não se conforma em ver o Brasil, que já foi reconhecido pelos seus feitos extraordinários na área da saúde pública, tornar-se um mau exemplo para o mundo. Um exemplo do que não deve ser feito por nenhum país que deseja defender seu povo e vencer a pandemia", diz.
Em trinta e cinco parágrafos, publicados pela Folha de S. Paulo, Lula afirma que a volta à vida social e a retomada econômica são prioridades, mas que estão condicionadas à chegada da vacina e de sua ampla disseminação. E se apropria da fala de Bolsonaro para ganhar popularidade por meio do discurso lógico e claro de que a ciência é um pilar essencial para o avanço do país. Em alguns trechos, o tom chega a ser muito parecido com o de uma campanha eleitoral: "Vacina para todos. Pela vida, pela recuperação de empregos e renda, pela dignidade do Brasil e do seu povo."
O consenso sobre a vacinação obrigatória não existe no país. Defendido pela comunidade científica e por líderes regionais, como João Doria, que lembrou da obrigatoriedade está prevista em lei, o conceito é duramente rechaçado pelo presidente da República. Ontem (10), Bolsonaro foi a público afirmar que o Brasil tem que deixar de ser "um país de maricas" para enfrentar a doença, que já matou mais de 100 mil cidadãos. Ao mesmo tempo, a Advocacia-Geral da União (AGU) defendeu no Supremo Tribunal Federal que a vacina pode ser obrigatória, dependendo do parecer final do Ministério da Saúde.
Os testes para a CoronaVac devem ser retomados, de acordo com parecer emitido pela Anvisa hoje (11). Na noite desta terça-feira (10), a Comissão Nacional de Ética e Pesquisa (Conep), do Conselho Nacional de Saúde (CNS), defendeu a manutenção dos testes da vacina contra a covid-19,. O imbróglio chegou, inclusive, ao STF, onde o ministro Ricardo Lewandovski determinou que a Anvisa desse explicações sobre a decisão de suspender o estudo em até 48h.