Brasil

Vacina aprovada em outros países pode ser usada no Brasil, diz pesquisador

O médico e advogado sanitarista Daniel Dourado diz que a lei emergencial da covid-19 autoriza a importação, mas o translado precisa do aval da Anvisa

 (Dado Ruvic/Reuters)

(Dado Ruvic/Reuters)

GG

Gilson Garrett Jr

Publicado em 8 de dezembro de 2020 às 16h39.

Última atualização em 8 de dezembro de 2020 às 16h43.

Enquanto o Reino Unido começa nesta terça-feira, 8, a colocar em prática seu plano de vacinação em massa contra a covid-19, o Brasil ainda discute calendário e possibilidade do registro de imunizantes pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Para o médico e advogado sanitarista Daniel Dourado, pesquisador da Universidade de Paris e cofundador do think tank HealthTech & Society, uma lei aprovada pelo Congresso poderia apressar a autorização da aplicação de vacinas liberadas em outros países. Mas ressalta que a importação só pode ser feita com autorização da Anvisa, emitida em até 72 horas.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), disse que entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal na segunda-feira, 8, pedindo que a corte libere que os estados comprem vacinas contra a covid-19 aprovadas por agências internacionais de saúde, dos Estados Unidos, União Europeia, Japão e China. A mesma medida pode ser adotada pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

Veja a entrevista com Daniel Dourado:

O que a lei diz sobre os estados vacinarem a população por conta própria?

A competência para definir o Programa Nacional de Imunização é do Ministério da Saúde, mas os estados têm competência para definir calendário de vacinação. O estado não pode tirar, mas pode incluir uma vacina a mais em seu calendário. Imagine que a vacina de febre amarela não esteja no calendário nacional, mas acontece um surto em um estado, e ele pode incluir essa vacina. Está na lei.

O governo estadual pode liberar o uso de uma vacina?

O estado não pode dar esse registro. O registro é um procedimento em que o produto é admitido como medicamento por uma autoridade sanitária. Só a Anvisa pode dar registro de medicamento no Brasil. Para obter isso, o laboratório prepara um dossiê sobre a vacina, com detalhamento de todas as fases de testes. Em casos excepcionais, como o de agora, existe um registro acelerado que analisa em fluxo contínuo. Em tese, a Anvisa já analisou a fase 1 e fase 2 da Sinovac, por exemplo. Assim só faltaria analisar a última fase, que ainda não foi entregue.

Um estado pode entrar na Justiça com pedido de liberação de uma vacina que já tenha sido liberada em outro país?

Em maio, o Congresso aprovou uma lei que concede autorização excepcional e temporária para importação e distribuição de medicamentos desde que sejam essenciais no combate à pandemia e que sejam registrados em pelo menos uma de quatro autoridades estrangeiras: dos Estados Unidos (FDA), Europa (EMA), Japão (PMDA) e China (MMPA). Ou seja, se for essencial e estiver registrado em uma dessas quatro agências, poderá ter autorização excepcional e temporária sem registro na Anvisa.

Mas quem concede essa autorização?

Como o registro costuma demorar muito, foi criada essa lei para conceder a autorização temporária. Vamos dizer que a Coronavac seja liberada na China. Ou seja, cumpriu os dois requisitos: é essencial e foi liberado pela MMPA [a Anvisa chinesa]. O que tem que fazer? O estado precisa solicitar essa autorização. E quem dá a autorização é a Anvisa em um prazo de até 72h. É uma maneira de agilizar o processo enquanto o registro não sai. Enquanto a Anvisa analisa o registro, ela pode conceder essa autorização.

O que acontece caso a Anvisa não libere essa autorização?

O estado poderia entrar com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) e a Corte obrigar a Anvisa a emitir a autorização. Se isso acontecer, é uma liberação que tem que ser para o país inteiro, mesmo que seja só um Estado que tenha entrado com a ação.

Acompanhe tudo sobre:Coronavírusvacina contra coronavírus

Mais de Brasil

Licença de Eduardo Bolsonaro termina neste domingo; veja o que pode acontecer

Eduardo aumenta condutas ilícitas após tornozeleira em Bolsonaro, diz Moraes

AGU pede que STF investigue ação suspeita antes de tarifaço no inquérito contra Eduardo Bolsonaro

Incêndio em Barueri, na Grande São Paulo, atinge galpões comerciais