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Vaccari é preso e pede afastamento da tesouraria do PT

O tesoureiro do PT, preso e acusado de operar esquema de corrupção na Petrobras, pediu afastamento do cargo, segundo o partido


	O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto: "reafirmamos nossa confiança na inocência de João Vaccari Neto", diz o PT em nota
 (Roosewelt Pinheiro/ABr)

O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto: "reafirmamos nossa confiança na inocência de João Vaccari Neto", diz o PT em nota (Roosewelt Pinheiro/ABr)

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Da Redação

Publicado em 15 de abril de 2015 às 20h09.

Curitiba - O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, preso nesta quarta-feira e acusado de ser um dos operadores do esquema de corrupção na Petrobras, investigado pela Operação Lava Jato, pediu afastamento do cargo, informou o partido em nota, na qual também manifestou confiança na inocência dele.

"Por questões de ordem práticas e legais, João Vaccari Neto solicitou seu afastamento da Secretaria de Finanças e Planejamento do PT", afirma nota, assinada pelo presidente do PT, Rui Falcão, que classifica a prisão do tesoureiro petista como "injustificada".

"Reafirmamos nossa confiança na inocência de João Vaccari Neto, não só pela sua conduta à frente da Secretaria Nacional de Finanças e Planejamento, mas também porque, sob a égide do Estado Democrático de Direito, prevalece o princípio fundamental de que todos são inocentes até prova em contrário", acrescenta a nota.

Vaccari foi preso na manhã desta quarta em casa na capital paulista, em caráter preventivo, como parte da 12ª etapa da operação Lava Jato, que investiga esquema bilionário de corrupção envolvendo a Petrobras, empreiteiras e partidos políticos. Ele foi encaminhado à Polícia Federal de Curitiba, onde estão concentradas as investigações da Lava Jato.

Ele foi apontado pelos investigadores como um dos operadores do esquema, em meio a acusações de delatores e indícios de pagamentos de propina e lavagem de dinheiro.

“João Vaccari já vem sendo investigado há muito tempo, já temos indicações de doações para oficiais que escondem operações de lavagem de dinheiro, operações relativas a valores da corrupção na Petrobras, e nós verificamos que ele tem uma trajetória desse tipo de operação desde 2004”, disse o procurador regional da República Carlos Fernando Lima a jornalistas.

Vaccari já responde a um dos processos relacionados à Lava Jato na Justiça Federal do Paraná, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. Segundo o Ministério Público, ele recebeu dinheiro de propina como doações para o PT e sabia da origem ilegal dos recursos. O PT e o próprio tesoureiro negam as acusações.

Segundo o delegado regional de combate ao crime organizado Igor Romário de Paula, há diversas indicações sobre a atuação de Vaccari no esquema. “Vaccari já vem sendo mencionado nas delações de cinco delatores diferentes, (e) há material apreendido contundente demonstrando a responsabilidade dele.”

Os delatores que apontaram para Vaccari são o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, o ex-gerente da estatal Pedro Barusco, o doleiro Alberto Youssef e os executivos Júlio Camargo e Augusto Mendonça, da Toyo Setal, investigada na Lava Jato.

Além dos depoimentos, também foi identificado um pagamento de mais de 1,5 milhão de reais, feito por Mendonça a pedido de Vaccari, a uma gráfica em São Paulo sem que houvesse prestação de serviço. Há fortes indícios de que o dinheiro tenha sido destinado para propinas, sob orientação de Vaccari, segundo os investigadores.

“O serviço nunca foi prestado da forma como foi contratado, e para a investigação fica claro que foi feito para quitar um pagamento de propina”, disse o delegado da PF.

A Editora Gráfica Atitude, segundo a PF, tem histórico de prestação de serviços para campanhas políticas.

PAPEL DE OPERADOR

O papel de Vaccari no escândalo de corrupção da Petrobras era de operador, atuando junto à diretoria de Serviços da estatal, cujo diretor era Renato Duque, que também está preso, de acordo com os investigadores. “Acho que hoje não há mais dúvida quanto a isso”, disse o delegado Romário de Paula.

O procurador Lima comparou a atuação de Vaccari com a do doleiro Youssef, apontado como um dos maiores operadores do esquema de corrupção na estatal.

“A posição de João Vaccari é muito semelhante à (do doleiro) Alberto Youssef, no sentido de que ele aparece como um operador, um representante de um esquema político partidário dentro da Petrobras”, disse o procurador.

O Ministério Público Federal solicitou à Justiça a quebra de sigilo bancário de Vaccari, segundo a PF. Em depoimento à CPI da Petrobras na semana passada, Vaccari negou ter tratado das finanças do partido com executivos da Petrobras investigados no caso de corrupção na estatal, além de afirmar mais de uma vez que não cuidou da parte financeira da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff.

Além da atual investigação, pesa contra ele o fato de ser réu em uma ação penal no Estado de São Paulo por crime contra o sistema financeiro e crime de corrupção, na época em que atuava como presidente da Cooperativa dos Bancários de São Paulo (Bancoop).

“A característica de reiteração criminosa dele é bem clara, até em tom de desafio às instituições”, afirmou o delegado da PF. A prisão preventiva do tesoureiro também teve como fundamento prevenir o perigo de ele “se evadir à aplicação de uma condenação”.

Na nota divulgada pelo PT, o partido afirma que os advogados de Vaccari entrarão com pedido de habeas corpus em favor do tesoureiro.

O líder do partido na Câmara, Sibá Machado (AC), viu a prisão de Vaccari como "política". Do lado da oposição, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), disse que a prisão era o retrato de um partido que, na avaliação dele, desistiu de um projeto de país em nome de um projeto de poder.

Dentro do governo, o ministro da Defesa, Jaques Wagner, um quadro histórico do PT, disse durante feira de defesa no Rio de Janeiro que a prisão de Vaccari não pressiona o Planalto ou a presidente Dilma Rousseff.

"Vaccari não faz parte do governo", disse Wagner. "Não acho que coloca pressão na presidenta, e se tem alguém distante disso tudo é a presidente Dilma Rousseff", acrescentou.

FAMILIARES

O caso contra Vaccari também atingiu alguns de seus familiares, como a mulher, Giselda Rose de Lima, a cunhada Marice Rose de Lima e até sua filha.

“São operações fragmentadas, típicas de lavagem de dinheiro para ocultar a origem dos pagamentos, que não foram justificadas e que demonstram enriquecimento provavelmente ilícito”, disse o delegado Romário de Paula. Giselda prestou depoimento em casa e não foi encaminhada à polícia. Investigadores dizem que ela recebeu depósitos bancários “significativos”, somando mais de 300 mil reais em três anos.

Marice teve mandado de prisão temporária decretado, mas ainda não foi localizada pela PF. Ela já vinha sendo investigada “por operar junto do João Vaccari em operações de doações partidárias ilegais e operações financeiras relativas à Petrobras”, segundo a polícia.

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